Christian Boltanski / 19.924.458 +/-

Arranha-céus envoltos em listas telefônicas num ambiente escuro, nebuloso e opressivo. Essa é a cidade de São Paulo do artista francês Christian Boltanski em sua exposição no Sesc Pompeia, em São Paulo, no Brasil. Andando entre essa grande cidade construída, ouvimos sussurros. Histórias de pessoas que migraram para a cidade. Japoneses, ingleses, portugueses, libaneses, egípcios, italianos, peruanos e turcos, entre outros, falam de suas relações com a cidade. Nas paredes, contadores digitais marcam os segundos vividos pelos moradores. A exposição ainda tem uma cabine onde o visitante pode gravar as batidas do coração. A experiência faz parte de um projeto de Boltanski: ele guarda os arquivos dos batimentos cardíacos que coleta ao redor do mundo.

O trabalho de Boltanski fala sobre a memória e a finitude da vida, temas profundamente ligados à história de sua família. Sua mãe era cristã e o pai um judeu que precisou viver por dois anos embaixo do assoalho da casa para sobreviver às perseguições nazistas. O medo da separação tornou-se uma marca familiar. Mesmo depois do fim da II Guerra, todos dormiam em um único quarto para permanecer juntos. O artista só começou o estudo formal na escola aos 12 anos e saiu de casa sozinho pela primeira vez aos 18 anos.

“Nunca há de fato uma primeira memória da infância. Acho que sempre é uma memória que surge depois, porque alguém lhe conta uma história. A minha é de um momento na fronteira, esperando para atravessar para outro país. Acho que é uma memória de sonho. De qualquer modo, acho que minha memória real seja de estar em um carro com meus pais. A vida de um artista é, às vezes, reeditar e reescrever sua vida. Depois da guerra, meus pais ficaram muito estranhos…” (texto do catálogo da exposição).

Sesc Pompeia

Situado no número 93 da rua Clélia, no bairro da Pompeia, o Sesc Pompeia, é um centro de cultura e lazer de São Paulo. O projeto arquitetônico é de Lina Bo Bardi, importante arquiteta modernista italiana que viveu na cidade grande parte da sua vida. O projeto foi desenvolvido à partir de uma antiga fábrica de tambores e o prédio foi inaugurado em 1977. O Sesc possui quadras esportivas, lanchonete, piscina, um teatro, internet livre, e um grande espaço de exposições e convivência.

19.924.458 + / -, (número de habitantes de São Paulo, mais ou menos), é o nome da exposição de Christian Boltanski, concebida especialmente para esse local e que pode ser visitada de terça a sábado das 10 às 20 horas e domingos e feriados das 10 às 18 horas, até ao dia 29 de setembro de 2014. •

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Sesc Pompeia
© Fotografia: Valéria Mendonça