Novos álbuns I / Clean Feed

A Clean Feed mantém-nos o ambiente preenchido com Jazz e lança oito novos álbuns para o mercado, mesmo a tempo de fazer os seus pedidos, para a época que se avizinha. Hoje, quatro. Amanhã, mais quatro.

Friends and Neighbors / “Hymn for a Hungry Nation”. Com André Roligheten (saxofone tenor e clarinetes), Thomas Johansson (trompete), Oscar Grönberg (piano), Jon Rune Strøm (contrabaixo), Tollef Østvang (bateria).
O nome da banda diz tudo. “Friends and Neighbors” é título de um álbum de Ornette Coleman, de 1970, e a música tocada por estes improvisadores noruegueses tem como referência, e ponto de partida, a chamada “new thing” dos anos 1970. Esta música tem o saber ganho no tempo e momentos em que a liberdade de expressão substituía a improvisação, nos acordes, como as notas traçadas por Joachim Kuhn. Uma apropriação do legado free jazz que nos chega com um conceito melódico com a marca dos tempos atuais. Além de Ornette, também reconhecerá as influências de Archie Shepp, Pharoah Sanders e John Carter, mas com uma identidade nova, original destes cinco músicos. Se os conhece como membros de coletivos como o Team Hegdal, Frode Gjerstad Trio, Cortex, vai gostar deste álbum. Gravado a 17 de novembro de 2012, por György Barocsai, no Svenska Grammofonstudion, Gothenburg – Suécia e, mais tarde, a 28 de abril de 2013 por Jo Ranheim em ORA Studio, Trondheim – Noruega; misturado e masterizado por Morten Stendahl no Redroom Studio, Trondheim.

Grünen / “Pith and Twing”. Com Achim Kaufmann (piano), Robert Landfermann (contrabaixo), Christian Lillinger (bateria).
Trio de músicos alemães que nos mostram que a combinação tradicional de um piano de cauda, um contrabaixo e uma bateria pode adotar configurações experimentais e explorar novos mundos. Um trio sem líder onde a hierarquia habitual dos instrumentos se dissolve. Em Grüner, o pianista não é o bandleader – ninguém o é, reafirmamos – o que revela que poderá ser erro chamar-lhe um piano trio. Não há solista e não há nenhuma secção rítmica definida o que se traduz em que todos são solistas e todos se suportam mutuamente. Assim, quando se tem três virtuosos com uma abordagem excêntrica, ou até mesmo punk, com uma abordagem musical anti-virtuosa, tudo pode acontecer: muita tensão e lirismo, interpretações fortes e desconstruções en miniature, voos loucos e com uma organização rigorosa das sonoridades. Prepare-se para ser surpreendido. Gravado no Studio Loft, Colónia – Alemannha, em outubro de 2012 e maio 2013, músicas 3 e 6 gravadas, ao vivo, no Loft a 22 de abril de 2012; gravado e misturado por Heck Christian (Tonart Studio); masterizado por Klaus Scheuermann.

Luís Lopes Lisbon Berlin Trio / “The Line”. Com Luís Lopes (guitarra elétrica), Robert Landfermann (contrabaixo), Christian Lillinger (bateria).
Por norma, improvisação livre e conceptualismo não se misturam. Improvisar é ser intuitivo e espontâneo, deixando pouco espaço livre para construções lógicas. No caso deste segundo álbum, pelo Luís Lopes Lisbon Berlim Trio (com Robert Landfermann e Christian Lillinger a representarem o lado alemão), há uma rara mistura das duas abordagens acima que, à partida, não conseguimos imaginar unas. A música acontece como uma sequência interrompida, sem começo nem fim, como se este álbum fosse um pequeno fragmento de eternidade. No meio-termo, entre a improvisação e o ruído (sim, o ruído: feedbacks e distorções da guitarra de Luís Lopes, que nos recordam Masayuki Takanayagi), outros sub-temas aparecem: a misteriosa entidade supra-humana em “Vertigo”, a cidade-serpente (Lisboa ) de “Mother Snake”, os pesadelos da “Dark Suite” e os demónios e bruxas de “Schwarzwald”. Curiosidade acicatada para ouvir este trabalho. Gravado a 25 de maio de 2014 por Wolfgang Stach nos Maarweg Studios, Colónia – Alemanha; mistura e masterizado em junho de 2014 por Joaquim Monte nos Namouche Studios, Lisboa – Portugal.

Velkro / “Don’t Wait for the Revolution”. Com Boštjan Simon (saxofone tenor), Stephan Meidell (guitarra, baixo, eletrónica), Luis Candeias (bateria).
Numa suma: uma banda transnacional para uma música “trans-idiomática”. Eslováquia com Bostjan Simon, Noruega com Stephan Meidell e Portugal com Luís Candeias, os três presentes num álbum com título de travo político – “Don’t Wait for the Revolution”, um projeto de simbiose onde elementos de rock e de eletrónica são tão determinantes como os vindos do jazz criativo e da improvisação livre. “The bigger the playing field, the livelier the experience“, é o que podemos ler na notas escritas por Velkro. Momentos ambiente que cruzam caminhos com riffs repetitivos, passagens com texturas abstratas e solos bem soltos, encontrando ligações no que parece ser contraditório e impossível de se misturar. O resultado podem ser bem sonoro ou poético, groovy ou de sonho, mas sempre mantendo vivo esse factor precioso que chamamos de surpresa. Por vezes o som pode ficar mais louco, e escuro, e agridoce, e, simplesmente, sedutor. Esta é a música dos dias atuais, sem compromisso. Para ouvir, esta revolução Jazz. Gravado no Auditório Luís de Camões – Lisboa, em junho 2012; misturado por Stephan Meidell no Kakofon Studio – Bergen – Noruega; masterizado por Iver Sandøy no Solslottet – Bergen – Noruega; e produzido por Velkro.

Todos os álbuns contam com a produção executiva por Pedro Costa, Trem Azul e Design by Travassos. A ouvir, a descobrir Jazz atual. Hoje, foram quatro álbuns. Amanhã, à mesma hora, divulgamos mais quatro novos álbuns com o selo da editora portuguesa Clean Feed.  •

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