Ciclo Pasolini: “Pocilga” / TAGV

Albano Jerónimo, Ana Bustorff, João Lagarto, Cláudio da Silva, Guilherme Moura, Mariana Tengner Barros, Pedro Lacerda, Paulo Pinto, André Reis, Wesley Barros, entre outros interpretam o texto de Pier Paolo Pasolini, encenado por John Romão (encenador português premiado): “Pocilga”.

Com estreia absoluta na Culturgest, em Lisboa, o espetáculo rumará, de seguida, para o palco do Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), no próximo dia 22 de janeiro, integrado no Ciclo Pasolini – 40 Anos, pois janeiro, no TAGV, é mês de homenagem a Pier Paolo Pasolini, um dos autores mais controversos do nosso tempo, no ano em que se assinala os 40 anos da sua morte. Em “Pocilga”, Pasolini faz um retrato metafórico da decadência da degradação humana (numa Alemanha dos anos 60), alastrada por uma sociedade capitalista, que destila a história de um homem cuja paixão é causa de escândalo. O amor, o sagrado e o político são as principais dimensões desenvolvidas na estreia mundial em língua portuguesa de um dos maiores textos de Pasolini.

Decidir criar este espetáculo, a partir de Pasolini, não se prende unicamente pelo “conteúdo político do texto e do filme, mas sobretudo devido à paixão da estrutura da linguagem e a beleza das figuras que habitam o universo pasoliniano e, em particular neste trabalho, uma luta encabecilhada pela radicalidade do amor da personagem Julian”. A peça pretende “revisitar as fontes textuais e dramaturgias que integram o texto e o filme de Pasolini, criando um espetáculo que dialogue com ambos, numa visão criativa, inovadora e interdisciplinar”. A peça não se reduz a uma fábula política nem a um problema familiar focado no drama psicológico, é sobretudo um poema que transporta e cruza as dimensões do poder masculino na família com o poder patriarcal da política.

“Pocilga” © Bruno Simão.

Para quem a memória possa falhar em alguns detalhes, Pier Paolo Pasolini (Bolonha, Itália, 5 de março de 1922 – Óstia, Itália, 1-11-1975) foi um escritor, dramaturgo, poeta e cineasta italiano; filho de Carlo Alberto Pasolini, militar de carreira, e Susanna, professora do primeiro grau em Casarsa della Delizia, Friuli, norte da Itália. Terminada a II Guerra Mundial, Pasolini foi o intelectual mais controverso da Itália, sendo, em 1949 em Bolonha, expulso do sistema educativo por sua condição de homossexual e também excluído do Partido Comunista. Antes de ficar famoso como cineasta, foi poeta e novelista. Entre suas obras mais conhecidas estão “Meninos da Vida”, “Petróleo” e “Uma Vida Violenta”, onde o tema central é o indivíduo que leva a vida à margem da sociedade.
Mais tarde, trabalhou como jornalista e roteirista para diretores como por exemplo Fellini. Seguiram-se “Accattone” (1961) e “Mamma Roma” (1962), ainda influenciados pelo neo-realismo italiano, cujo foco central são histórias com personagens das classes mais humildes. Filmes posteriores revelam toda a sua sensibilidade e delicadeza; alguns deles abordam também temas clássicos e antigos como por exemplo, “Medéia“, em 1969, com Maria Callas. O seu último e mais provocador filme foi “Saló” ou “Os 120 dias de Sodoma” (1975), onde Pasolini adaptou livremente uma obra de conteúdo semelhante do Marquês de Sade (“Les 120 journées de Sodome” ou “L’école du libertinage”) ambientando-a durante o curto período de existência da República fascista de Salò, estado fantoche da Alemanha nazista.  Destes últimos até à sua morte em 1975, realizou cerca de vinte filmes, apresentando muitas vezes perspetivas controversas que lhe valeram inúmeros processos judiciais, traduziu e escreveu peças de teatro (Orgia, Pocilga, Calderón, Affabulazione, Pílades, Bestia da Stile), publicou vários volumes de poesia e foi ativo como crítico (de política, teatro, cinema, literatura) em vários diários e revistas, atividade que deu vida a muitas publicações, parcialmente póstumas (Empirismo Eretico, 1972; Scritti Corsari, 1975; Descrizioni di Descrizioni, 1979), e o estabeleceu como uma das vozes mais importantes e polémicas do panorama político e intelectual italiano do séc. XX. Merecem ainda destaque os seus estudos para a promoção da língua de onde era natural, o friulano, na qual escreveu vários poemas. Pasolini distinguiu-se como um poeta, jornalista, filósofo, linguista, romancista, dramaturgo, cineasta, jornalista, colunista, ator, pintor e figura política. Na madrugada de 2 de novembro de 1975, o seu corpo é encontrado morto junto à praia Ostia, na periferia de Roma. A resposta à pergunta que mais se ouve ainda hoje, “Quem matou Pasolini?”, continua a ser envolta num mistério e é motivo de investigação, tendo sido reaberta em 2011.

“Pocilga” © Bruno Simão.

Depois do TAGV, “Pocilga” rumará ao Teatro Virgínia (Torres Novas), Teatro Viriato (Viseu) e Teatro Nacional São João (Porto). No TAGV, a apresentação desta peça será dia 22 de Janeiro, pelas 21h30, integrada no Ciclo Pasolini – 40 Anos, que terá também a exibição do filme “Pasolini”, de Abel Ferrara, no dia 19 de Janeiro, pelas 21h30. A tomar nota na sua agenda, a ir.  •

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© Fotografia de destaque: “Pocilga”, Rui Palma.

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