Chico Buarque, nome da música, das letras… da Companhia das Letras, editora que trouxe, até nós, “O Irmão Alemão”.
“O Irmão Alemão” é uma narrativa entretecida sobre factos reais e colorida pela diversidade multi-cultural brasileira. Para além da miscegenação entre índio, negro e branco, vemos ainda os reflexos da II Grande Guerra com a imigração de cidadãos dos países beligerantes e, como diz o autor, tanto os maus como os bons foram para a América do Sul, nomeadamente para o imenso Brazil, terra de oportunidades e de outro solavanco que nos agarra de novo à história.
Vai entretecendo a investigação do que poderá ter acontecido a esse irmão nascido de uma relação imensos esconderijos. A narrativa é fluida e prende o leitor, aguçando-lhe constantemente a curiosidade. Não há tempos mortos e quando parece abrandar, lá vem fugaz do pai, durante uma curta estada na Alemanha e a vida quotidiana do narrador e da família e, mais uma vez aqui, encontramos a deliciosa mistura brasileira, a mãe é italiana!
Há ainda a imensa biblioteca do pai, o que provoca amiúde, referências de cariz literário. Assim, vai havendo dois níveis de leitura: a trama da procura do irmão e a trama mais complexa com as referências históricas e literárias. Dois níveis de bitola segura que nos prendem.
A batida é de tal modo ritmada que as palavras parecem ter por trás uma partitura, que nos embala até ao fim do livro, ou não fosse Chico Buarque o imenso músico que é, que tanto nos embala no regaço das suas composições. Para além da sentida música de fundo, há também uma forte componente visual. Não chega descrever, é preciso dar às palavras as qualidades da imagem, de que é exemplo a tentativa de tradução de um texto em alemão: o texto é entrecortado quando faltam os vocábulos ao narrador. Tem tiradas sublimes, como por exemplo, “fuçar o porta-luvas com a lanterna abocanhada” – como leitor é inevitável ver exactamente a ação… como se estivesse no cinema. Perfeito.
Apesar de ir à procura de segredo de família, se não trágico, pelo menos triste, e o enquadrar a narrativa em tempos de repressão, esta é perpassada por um sentido de humor muito próprio: ” [de um livro] …. percebo que foi folheado sim, velozmente, como se folheia um jornal em busca do horóscopo, ou do resultado da loteria.”
Vale a pena a leitura que se sorve dum (belíssimo) trago! •
+ Companhia das Letras
© Fotografia: Sara Quaresma Capitão.
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