Será necessário apresentar estes dois gigantes da música e dizer o porquê destes serem concertos imperdíveis? Estamos crentes que não. Caetano e Gil voltam a Portugal para dois concertos obrigatórios.
Gil (por Caetano): “Gil é um grande inventor que nao registra patente. Sua imensa vaidade exercida com demasiada modéstia e seu desprezo inocente pela própria grandeza são as duas faces dessa lua meio negra meio escondida que é a música de sua pessoa. O meu entendimento do Gil de hoje: ser músico, para ele, sempre foi uma banalidade; é inerente a ele; não lhe dá trabalho. Ele quer discutir o que cerca a música, quer planejar uma estratégia política, com todos os seus colegas, da interferência no mercado que resulte numa desprovincianização e modernização do Brasil. Gil um dia disse que, ao contrário de refinar sua percepção harmônica, queria terminar batendo um tambor.”
Caetano (por Gil): “Com Caetano tem sido sempre a reiteração do ato ritual da música, compreendido este ato em suas formas mais devocionais (como no mestre João Gilberto) ou nas mais guerreiras (como no rock n roll). Sempre pelo zen de todos e a felicidade geral do planeta. Com Caetano tem sido sempre pelo que a vida nos oferece de real: o viver. Como na viagem de avião ou na obrigação do Candomblé. Pelo gesto civilizado e pelo pensamento selvagem. Com Caetano tem sido sempre amor e amizade.”
Este 2016, por cá, vamos ser brindados com a digressão “Dois Amigos, Um Século de Música”, que junta Caetano Veloso e Gilberto Gil, e que chega finalmente aos Coliseus, após 44 espectáculos esgotados em 35 cidades de 21 países, totalizando uma audiência superior a 135.000 pessoas. Números que não espantam quando se trata destes mestres da música brasileira. O Porto recebe a estreia no dia 24 de abril, seguido de Lisboa, a 27 de abril.
Esta digressão – que contemplou o nosso país no verão passado com um concerto esgotado no festival EDP Cool Jazz Fest, numa noite bem ventosa que se tornou bem quente através da música e voz desta dupla – regressa agora com duas datas em salas fechadas e encontra-se documentada num CD + DVD recentemente editado. “Dois Amigos, Um Século de Música” é o testemunho de um encontro histórico entre dois amigos de sempre e a celebração dos 50 anos de carreira de ambos. A ter, ver e ouvir.
Cantores, compositores, escritores e guitarristas, vencedores de Grammy, ativistas de causas políticas e sociais, Caetano Veloso e Gilberto Gil desempenharam, e desempenham ainda hoje, um papel central na modernização da MPB (Música Popular Brasileira) com a criação do Tropicalismo nos anos 60 do século XX, “movimento mundividente que mescla as suas deambulações pelo universo pop global com o contexto local de turbulência e repressão política então vivido no Brasil, que culminaria com a prisão e exílio de ambos os músicos“. A intimidade sublime que se sente entre as vozes e guitarras de Caetano e Gil “parece transportar-nos a essa década de 60, a Salvador, na Baía. Muitas coisas foram então experimentadas, entre os concertos históricos no Teatro Vila Velha, as actuações em festivais de música, a chegada ao Rio de Janeiro e São Paulo, a prisão, o exílio em Londres“.
O facto é que a forma como olham um para o outro e a forma como cantam os versos, como sorriem, como o acorde de um espera pela respiração do outro, revela-nos de forma profunda as inúmeras alegrias, tristezas, acordos, desacordos e músicas que estes dois artistas partilharam nas suas vidas e que somos convidados a revisitar ao vivo, em cada noite sempre única e irredutível e nunca mais se esquece… Garantimos, sem hesitar, sem medos, porque vivemos já este concerto, ao vivo, no sempre memorável EDP Cool Jazz Fest. É sentir música à flor da pele. Um luxo.
24/04, 21h30 – Coliseu do Porto.
27/04, 21h30 – Coliseu dos Recreios, Lisboa.
Dois concertos imperdíveis. A ir! •
+ Caetano Veloso
+ Gilberto Gil
© Fotografia: Caetano e Gil.
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