Inaugurou no dia 1 de Abril em Condeixa-a-Nova, concretamente no Edifício da União das Freguesias de Condeixa, uma exposição de fotografia da autoria de António Costa Pinto. Gostaríamos de assinalar o seu propósito.
Contam-se cerca de quarenta anos de labor por parte de António Costa Pinto, no que respeita à indubitável vontade de, a partir da câmara escura, fazer aclarar a espessura de um olhar. Nasceu em Condeixa-a-Nova, mas foi em Lourenço Marques que expôs pela primeira vez, decorria o ano de 1974; entretanto, encetou inúmeras mostras públicas e foi co-autor, em parceria com Dinis Manuel Alves, das exposições “Dias de Coimbra”, “Ao Redor de Coimbra”, “Mercado D. Pedro V” e “Os Putos”. Conta igualmente variados prémios, reconhecimento justo do seu labor.
No que respeita a “Condeixa, aqui tão perto…”, apresenta-nos quinze fotografias, tanto a preto e branco, como a cores, que nos submergem em lugares todos eles pertencentes ao concelho presente no título; as reticências fazem assomar o recato dos climas ensaiados e alertam, simultaneamente, para um certo desconhecimento de tais lugares. Com efeito, António Costa Pinto é um verdadeiro “caçador” tal como este nos é descrito por Walter Benjamin; só que, em lugar de coleccionar borboletas, colecciona olhar(es).
É bastante cristalina, por exalação, a atenção desmedida que dedica a cada lugar e gentes, dela se sentindo o faro da espera, as madrugadas deambulantes, os ocasos de dias preenchidos à distância de um simples disparo, onde deposita, inteiro, o precipício da percepção e a despedida. Porquê despedida? Porque António Costa Pinto pretende que se não perca a paisagem, operando no lusco-fusco intersticial da pele de um rosto, dos contornos de uma nuvem e respectivo céu, da esparsa luminosidade de um calor que paira e se espraia, da nota congelada de um timbre feminino, da frescura de uma água que escorre e alaga… No coração da realidade e para que a paisagem se não perca.
Postas bem as coisas, poderíamos facilmente afirmar que se trata de um instinto documental necessário à preservação de olhar(es). O que nos faria regressar aos fundamentos do nascimento da câmara escura! O que faz a fotografia (?), parece ser a questão sempre colocada pelo nosso fotógrafo. E aqui, provavelmente, nos perderíamos.
Roteiro de Condeixa, estas fotografias, de aqui tão perto, colocam-nos no coração da realidade e, no mesmo gesto, fazem-nos atravessar mais de um século de penetração nessa mesma realidade que nos é dado ver, e que nos olha igualmente. E lembram-nos, sem dúvida, Le Clézio, quando este se refere ao “infinito eterno” do visível, do real, do imediato e do concreto, do qual, tantas vezes, não resistimos a fazer “um uso ímpio”.
Para ver no Edifício da União das Freguesias de Condeixa, na Rua Dr. Simão da Cunha, em Condeixa-a-Nova, até ao dia 17 de Abril e no seguinte horário: 2ª feira a 5ªfeira entre as 9h00 e as 12h30, e entre as 13h30 e as 17h00; à 6ª feira entre as 9h00 e as 13h00; à 2ªfeira e 5ª feira, também entre as 20h30 e as 21h30.
© Fotografia: António Costa Pinto
+ Câmara de Condeixa
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