É algo diferente, glamoroso, diríamos nós, ou não estaríamos a falar do novo spot lisboeta que reúne sete espaços num só convertendo-se, assim, a uma gastronomia eclética no seu todo. Eis o renovado Palácio Quintela, na capital portuguesa.
O leão mostra a sua imponência, conquistando o olhar de quem acede ao primeiro piso do Palácio Chiado
De certo que a escolha da senhora recairia na Espumantaria do Mar, para as boas vindas, na DeLisbon, para divertir o palato, e no Sushic Chiado, para viajar pela cozinha asiática. O trio da alta gastronomia que compõe o primeiro piso do Palácio Chiado, fazendo jus às expressões “à grande e à francesa” ou “forrobodó” que aqui tiveram origem no início do século XIX e às obras-primas que revestem tetos e paredes outrora contemplados pela aristocracia e bons vivants que calcorrearam o chão de mui magnífico edifício enquanto bailavam e se deleitavam com faustosos banquetes. Porém, o décor do bar, à entrada, não passa despercebida, nem mesmo os cocktails batizados com nomes sugestivos, para saborear num ambiente descontraído no lounge. Mas já lá iremos, até porque, ao fundo, há o Local Chiado, o Páteo no Palácio, o Meat Bar e o Burgers & Feikes.
“A ideia surgiu quando soubemos da descontinuidade deste espaço – em maio de 2014. A partir daí fomos desenvolvendo esta ideia, para a qual tentámos encontrar uma harmonia entre o espaço e a ideia de convívio, de circulação, de ambiente, os conceitos que queríamos para aqui e, de alguma maneira, devolver este palácio à cidade”, diz-nos Duarte Cardoso Pinto, de 34 anos, que desafiou os irmãos Gustavo e o António Duarte, de 34 e 33 anos respetivamente, a dar a conhecer a beleza do Palácio Quintela a turistas, viajantes, lisboetas e demais curiosos e apreciadores da boa comida.
O Palácio Chiado é o cocktail que se traduz no brinde do virar da página da história do Palácio Quintela
Para o efeito, e sem alterar o traço original do Palácio Quintela, cuja história remonta a meados do século XVIII, o trio que forma a administração do então Palácio Chiado contou com o arquiteto Frederico Valsassina no projeto, com o intuito de casar o clássico com o contemporâneo em tão bela harmonia. Por sua vez, o restauro das pinturas vitrais ficou ao cuidado de Elvira Barbosa, especialista na área de conservação e restauro, e houve “uma outra equipa para os frescos, que estava também ocupada com a parte dos estuques”, acrescentou Duarte Cardoso Pinto. Sobre a decoração, esta ficou nas mãos da arquiteta Catarina Cabral, que elegeu peças de mobiliário sóbrias e que em nada ofuscam a imponência dos interiores do edifício do Chiado lisboeta.
E porque a curiosidade urge, vamos agora por partes. À entrada, e com uma envolvência descontraída, onde estão dispostas mesas e cadeiras, e grandes colchões para que os comensais se sentem – e se sintam – confortáveis à mesa, está o bar. Com consultoria do Ás dos Copos, este espaço apresenta cocktails de assinatura cujos nomes nada têm de inocente, como o Farrobodó, dedicado a Joaquim Pedro de Quintela, 1.º conde de “Farrobodó” e 2.º barão de Quintela, recordado pela faceta de bon vivant, a qual deu origem à expressão que deu nome ao cocktail; o “Monteiro dos Milhões”, nome pelo qual era conhecido Francisco Augusto Mendes Monteiro que, com a mesma chave, abria a sua Quinta da Regaleira, em Sintra – adquirida em finais do século XIX –, e o Palácio Quintela, em Lisboa; ou “À grande e à francesa”, expressão associada ao estilo de vida do general Junot, que estabeleceu o seu quartel general e sua residência oficial no Palácio Quintela.
Tábua de entrecôte com maturação de 30 dias preparado pela equipa de Ricky
Ao fundo, está aberto o caminho para quatro sugestões díspares na cozinha. Aos apreciadores de carne recomendamos o Meat Bar (derivado do restaurante Atalho), com Ricky, o chef sueco que está à frente da cozinho do Atalho e prima pela simpatia, assim como pelo conhecimento no que concerne ao corte.
A maturação da carne do Meat Bar acontece a olhos vistos
De acordo com as tendências, o ingrediente principal é na carne maturada – como, aliás, se pode comprovar in loco – e no slow cooked. “É quase tudo feito aqui”, revela o chef ao mesmo tempo que, de imediato, explicou “o lombo é o mais tenro; a vazia e entrecôte são carnes mais gordas”. a presença do black angus ou do wagyu – “que vem diretamente da Austrália”, segundo Ricky – na carta, eleva a fasquia, “para atingir um leque mais alto na escolha”, justificou Nuno Gomes, um dos três sócios do Atalho e, por conseguinte, do Meat Bar, enquanto Ricky estava já atarefado a responder aos clientes.
No mesmo espaço está o Burgers & Feikes, do U-try, que seguem o alinhamento da casa com os “feikes” burgers em vez de carne picada com sabores diferentes, para acompanhar com chips no forno e salada roxa, por exemplo, e terminar com a tarte de amêndoa, da Tarte, com a qual fez uma parceria gulosa.
As viciantes batatas do Páteo no Palácio
Para petiscar há o Páteo no Palácio com os petiscos da casa mãe, o Páteo do Petisco em Cascais, onde os peixinhos da horta, os pimentos padrón, as lascas de batata são algumas das iguarias a experimentar.
A quem prefere a cozinha saudável aconselhamos o Local Chiado, da blogger Maria Gray que criou o Local – Your Healthy Kitchen, de portas abertas em Cascais desde novembro de 2015, onde a comida sem glúten nem lactose comprovam o ideal de cozinha saudável, desde as entradas à refeição do dia, passando pela proteína do dia e o acompanhamento, e a sopa.
Subamos a escadaria. No primeiro patamar avista-se o gigantesco leão dourado, o ex-líbris do Palácio Chiado que sobrevoa o Vestíbulo de então e, hoje, o primeiro dos três espaços mais nobres do edifício, a Espumantaria do Mar. Este é o terceiro spot com a chancela da Espumantaria – o quarto está para breve, em Lisboa –, desta vez com uma carta baseada em iguarias requintadas feitas a partir de produtos do mar, acompanhados por espumantes, e assinada por Vítor Hugo, o chef executivo do 100 Maneiras.
As tábuas do DeLisbon são o convite perfeito para a partilha à mesa
Abrem-se as portas e eis o Salão Nobre do Palácio Quintela ou a Sala Romana (das sabinas), com frescos que demoram muito mais do que um simples olhar contemplativo agraciado pelo valor patrimonial e histórico aqui representado. E eis o DeLisbon, da Charcutaria Lisboa, que vale pela predominância dos produtos portugueses, de norte a sul, e pela consultoria do Grupo Vítor Sobral (leia aqui a entrevista ao chef). Falamos dos queijos, do azeite, das compotas, das conservas, dos enchidos, do vinho, da expressão do que de melhor há no país. “Só o presunto é que não é português”, diz-nos o chef Hugo Nascimento, que acompanha Vítor Sobral há cerca de 20 anos. E uma vez que foram eleitos produtos que não implicam a confeção, a DeLisbon baseia-se “na conjugação dos sabores e dos produtos, tanto que não haverá um chef residente”, apesar de Hugo Nascimento continuar a acompanhar a “cozinha”, até porque “já está tudo afinado e concebido”. Depois resta apenas escolher a tábua com a seleção de queijos e ou enchidos que mais apreciar, e conjugar com o vinho que mais aprecia, rematando o repasto com uma sobremesa especial ou não fossem estas feitas com queijo.
Tomyam, a sopa tailandesa made by chef Miguel Laffan
Já na Sala de Jantar de tempos idos está o Sushic Chiado, que se traduz na concretização de um desejo maior do mentor do restaurante, Hugo Ribeiro. “Há dois anos que andávamos a trabalhar este espaço”, confessa, pelo que o convite da administração do Palácio Chiado foi ouro sobre azul. Já em soft opening, o Sushic Chiado apresenta “um conceito um pouco diferente dos outros, porque apostamos na parte asiática e não só no tradicional japonês”, daí que este seja o convite para embarcar numa viagem exótica pelas cozinhas que vão do Vietname ao Japão, à Tailândia, à China e à Índia, mas “sempre com a nossa identidade, com um pouco de fusão e a parte tradicional, além de que temos também um bocadinho de street food reinventada, como o pão tradicional chinês cozido a vapor”, declarou Hugo Ribeiro à Mutante. No alinhamento das boas novas, “vamos inaugurar, este mês, o nosso menu de degustação kaiseki, que vai buscar toda a origem da cozinha japonesa e será servido no bar – com dez lugares –, só ao jantar e por reserva”, advertiu. Afinal, este é o único espaço com o conceito de restaurante que envolve mais área do Palácio Chiado, com uma decoração elegante e intimista, a combinar com a nobreza dos tetos que refletem nos tampos de vidro temperado das mesas. Além disso, “vamos ter bebidas mais tradicionais desde o chá ao saqué” e “todos os meses haverá novidades na carta”, que conta com a parceria de Miguel Laffan (leia aqui mais sobre o chef), chef do L’And, no L’And Vineyards, em Montemor-o-Novo, e com o chef pasteleiro Francisco Siopa. Aos curiosos e seguidores assíduos do Sushic (meia aqui também sobre o Sushic no Mercado de Algés e o Sushic) aqui ficam os contactos para reservar mesa através do 212442270 ou do 911791196.
Feitas as contas são, ao todo, sete espaços. “Foram dois longos anos para escolher os parceiros. Sabíamos que queríamos pessoas com experiência, com qualidade e que conseguissem acrescentar algo novo a este espaço”, sendo a aposta tanto nos produtos portugueses, como na comida estrangeira, “para apanhar outra franja de portugueses que gostam deste lado da cozinha”. Quanto à adaptação do edifício às necessidades de cada espaço, tendo em conta o valor patrimonial e histórico que acarreta, “fomos mais nós que nos adaptámos”, daí a opção pela “reversibilidade, ou seja, no dia em que sairmos daqui, o Palácio volta ao original”.
Confiante no sucesso, que se deverá, também, à chegada de turistas e viajantes a Lisboa, Duarte Cardoso Pinto crê que “as perspectivas são muito boas”.
É ir e experimentar de domingo a quarta, das 12 horas à meia-noite, e de quinta a sábado, das 12 às 2 da manhã. Bom apetite! •
+ Palácio Chiado
© Fotografia: João Pedro Rato
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