Exposição: Zaha Hadid/ Palazzo Franchetti

Para celebrar da carreira de Zaha Hadid na arquitetura e no design, percurso que se estende por quatro décadas, a Fondazione Berengo vai acolher uma exposição retrospectiva do seu trabalho no seiscentista Palazzo Franchetti sobre o Grande Canal, em Veneza, Itália.

A exposição, que coincide com Bienal de Arquitetura de Veneza deste ano, apresenta muitas das pinturas, desenhos e maquetes do repertório de Hadid, transmitindo a criatividade e dinamismo dos seus projetos arquitectónicos numa variedade de formatos, incluindo fotografia e cinema. Através de projetos de Hadid – construídos, em construção, em desenvolvimento e mesmo os não realizados – a exposição exibe a pesquisa pioneira que instiga e define o trabalho Zaha Hadid Architects (ZHA).


© ZHA / 1983, The World (89 Degrees)

Hadid esteve diretamente envolvida com a experimentação na vanguarda russa no início da sua carreira, explorando as técnicas de composição pela fragmentação, pelo uso de diversas camadas e a permeabilidade que transcendem todos os seus projetos. Os seus primeiros trabalhos expostos incluem Malevich Tektonic’s (1976-1977), projeto do quarto ano de Hadid na Architectural Association School em Londres, onde traça uma ponte no rio Tamisa. Também am exposição estarão o trabalho vencedor na competição Peak Club, Hong Kong (1982-1983, por realizar); Hafenstrasse, Hamburgo (1989, por realizar); Grand Buildings, Trafalgar Square, Londres (1985, por realizar); Victoria City master-plan para Berlim (1988, por realizar) e o Cardiff Bay Opera House (1994-1995, por realizar).


© ZHA / 1985, Grand Buildings Trafalgar Square

A propósito do projeto para a Cardiff Bay Opera House, Hadid referiu: “We won the competition, then they discarded the result and we had to repeat the competition, which we won again. But then they cancelled the project’s funding. It devastated us, and I had to pick up the pieces! Actually in that period in ‘95 to the late nineties, we did one competition after the other – and we didn’t win any. Perhaps there was a stigma against us – but they were all great designs; powerful projects and interesting in their complexity. They were all very tough and soft at the same time – elegant and resolved in terms of planning. Maybe now I would do them differently, but these unrealised projects were at the beginning of our research into that kind of work – and therefore, very important in the development of our repertoire which led to the remarkable projects we build today.


© ZHA / 1976-77, Malevich’s Tectonic, London

E descreveu o seu processo “My paintings really evolved thirty years ago because I thought the architectural drawings required a much greater degree of distortion and fragmentation to assist our research – but eventually it affected the work of course. In the early days of our office the method we used to construct a drawing or painting or model led to new, exciting discoveries. We sometimes did not know what the research would lead to – but we knew there would be something, and that all the experiments had to lead to perfecting the project. It might take ten years for a 2D sketch to evolve into a workable space, and then into a realised building. And these are the journeys that I think are very exciting, as they are not predictable. For example, I used to produce hatched lines on my drawings. These became striated models, which eventually became the diagram for MAXXI Museum. So a simple idea like that would take quite a long journey.” Continuando acrescentava “Doing the drawings was a slow process, as they required tremendous concentration and precision. The whole system of drawing led to ideas, putting one sheet over another and tracing and reworking, like a form of reverse archaeology in a way, leading to a layering process where distortion in the drawing could lead to distortion in the building. Or extruded drawings could lead to extruded sections in buildings. The processes led to literal translations in the building.


© ZHA / 1988, Victoria City Berlin, PA, Perspective

As linhas e conexões entre todos os projetos Zaha Hadid são evidentes nesta exposição justapondo estes projetos iniciais com outros projetos como o Edifício Central da BMW em Leipzig ( 2005, concluído) e dentro de uma paisagem de modelos que integra tipologias de projeto, composição formal, geografia e cronologia.

Três projectos, que representam marcos na carreira de Zaha Hadid, serão também apresentados numa sala exclusiva. Começando com o Vitra Fire Station (1993, concluído) em Weil am Rhein, Alemanha – o primeiro projeto concluído por ZHA -, seguido pelo Rosenthal Center for Contemporary Art, em Cincinnati, (2003, concluído) – que contribuiu para que a Zaha Hadid fosse atribuído o Pritzker, em 2004, e fechando este trio, nesta sala, estará o MAXXI Museum of 21st Century Arts, em Roma, (2009, concluído) – um reflexo da prática implementada e desenvolvida na sua ampla experimentação com os rápidos avanços no desenho assistido por computador.


© ZHA / 1982-83, The Peak, Hong Kong (2)

Numa outra sala, as fotografias de Helene Binet, capturando a integridade e materialidade dos projetos da Hadid, também estarão em exposição. Binet começou sua relação com a prática da arte de fotografar na Vitra Fire Station, em 1992, e continuou até hoje criando imagens poderosas de várias obras de Hamid, incluindo o Salerno Maritime Terminal, em Itália, inaugurado em abril deste ano.

Todos os trabalhos que estão, no momento, a ser desenvolvidos no atelier ZHA estarão em mostra na exposição, incluindo projetos para serão concluídos no ano que vem. Por exemplo, The Port House, em Antuérpia, será inaugurada em 22 de setembro. O seu desenho preserva e reinventa uma estação de bombeiros abandonada com 95 anos, transformando-a numa nova sede para o porto. O King Abdullah Petroleum Studies and Research Centre (KAPSARC) em Riyadh – uma instituição sem fins lucrativos que reúne pessoas de todo o mundo para pesquisar e enfrentar os desafios de energia para o benefício da sociedade e do meio ambiente – tem conclusão prevista para outubro, o KAPSARC será construído com métodos e materiais sustentáveis para garantir a certificação LEED Platinum, e projetado para existir em pleno equilíbrio com o seu ambiente natural garantindo o conforto para os funcionários juntamente com a minimização de consumo de energia e de recursos. A Mathematics Gallery no London’s Science Museum – que vai abrir em dezembro – será uma galeria pioneira que visa explorar como os matemáticos, suas ferramentas e ideias ajudaram a moldar o mundo moderno, o seu desenho e layout é definido por equações matemáticas que são utilizadas para criar as superfícies curvas em 3D, que representam os padrões de fluxo de ar que seriam criados ao redor do histórico avião de 1929, no centro da exposição. Também estão incluídos na exposição modelos, estudos e 3D de um edifício residencial na High Line em Nova York, a ser concluído no início de 2017.


© ZHA /1989,  00893, PA, ZH18, N1, Hafenstrasse, Hamburg

Através da exploração detalhada de dois projetos atualmente em construção, a exposição descreve as inovações e aplicativos desenvolvidos pela equipa de pesquisa na prática de computação e design pela CODE. A pesquisa e desenvolvimento da CODE aproveita as oportunidades latentes no seio da colaboração inter-disciplinar de arquitetos, engenheiros e métodos de fabricação digitais emergentes; estabelecendo uma cultura de pesquisa coletiva no universo ZHA e permitindo que diversos talentos e ideias inovadoras se apoiem uns nos outros.

Hoje, a arquitetura existe como é tendo no computador uma base fundamental. “The developments that computing has brought to architecture are incredible, enabling an intensification of relationships and greater precision – both internally within the buildings as well as externally with their context. It took me twenty years to convince people to do everything in 3D, with an army of people trying to draw the most difficult perspectives, and now everyone works in 3D on the computer – but they think a plan is a horizontal section, but it’s not. The plan really needs organization via a diagram“, como explicado por Zaha Hadid.

Adriano Berengo, presidente da Fondazione Berengo disse: “Visitors to the exhibition will have a greater understanding of Zaha Hadid’s pioneering vision that redefined architecture and design for the 21st century and captured imaginations across the globe. Although I work in the art world and Dame Zaha Hadid’s excellence was architecture, her work is also imbued with art, that patina that makes everything eternal, including the creator herself“.


© Zaha Hadid por Steve Double

Muito mais há a dizer sobre Hadid e a sua experimentação infinita da forma e do espaço, muito mais se poderia dizer sobre esta exposição imperdível, mas terminamos esta já longa nota com palavras de Hadid que são o mais puro reflexo do seu imparável génio criativo e tudo dizem sobre o porquê da sua constante inovação. Numa conversa, em 2011, com Hans Ulrich Obrist, co-diretor das Serpentine Galleries, Zaha Hadid declarou: “I know from my experience that without research and experimentation not much can be discovered. With experimentation, you think you’re going to find out one thing, but you actually discover something else. That’s what I think is really exciting. You discover much more than you bargain for. I think there should be no end to experimentation.

A exposição “Zaha Hadid”, no Palazzo Franchetti – Campo Santo Stefano, Veneza, Itália -, estará patente a partir de 27 maio e terminará a 27 novembro 2016.
A não perder se estiver ou for a Veneza. •

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© Fotografia de destaque: Zaha Hadid por Brigitte Lacombe.

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