Para o público português, Alexandra Hedison é um nome associado ao cinema e à televisão americana, mas agora vai passar a associar também à fotografia. O Centro Cultural de Cascais, na linha de programação contemporânea que tem vindo a desenvolver, dá a conhecer uma outra faceta da artista através da exposição de fotografia “Everybody knows this is nowhere”. Um tributo à película e à importância da memória, num trabalho de fotografia documental sobre a ideia de narrativa mutável – reflexo da história pessoal da artista, da sua memória e da própria essência, tempo e mutabilidade de um lugar.

© Alexandra Hedison, “Untitled #7 (Nowhere)” 2012
Alexandra Hedison foi actriz de cinema e televisão, nos E.U.A., durante mais de quinze anos, tendo desempenhado papéis em filmes como “The Rich Man’s Wife” (1996), “The Blackout Effect” (1998) ou “Standing on Fishes” (1999) e em diversas séries para televisão, entre elas, “The L Word” (2006-2009), “Prey” (1998) e “L.A. Firefighters” (1996-1997). Todavia, o fascínio pela fotografia veio a relevar-se mais forte e é, hoje, uma reconhecida artista plástica, com um portfólio reconhecido internacionalmente. Uma Contax T2 fez com que Alexandra Hedison se dedicasse a explorar a imagem estática e em 2002, a Rose Gallery, em Santa Mónica, Califórnia, exibiu a primeira série de fotografias da artista.
“Longe de se aproximar do ideário da fotografia americana de retrato ou representação dos movimentos sociais, Hedison tem vindo a criar a sua própria linguagem. Os temas que explora repercutem-se, em cada imagem, no encontro directo entre o indivíduo e a imensidão da paisagem, tanto arquitectónica quanto natural. Ambientes comuns, detalhes geométricos e diagonais que se intersectam, convergem criando uma composição expressiva, tanto visual quanto subliminar. Da mesma forma, linhas estabelecem pontes entre o visível e um espaço conceptual dos lugares, do tempo e da memória“.

© Alexandra Hedison, “Untitled #5 (Nowhere)” 2012
O complexo exercício de fotografar e de criar e recriar imagens também se insere numa narrativa própria na sua arte. A película e os grandes formatos analógicos são um recurso sabiamente equilibrado com a máquina digital. Hedison opta por trabalhar o enquadramento da fotografia, por procurar as melhores linhas, em vez de alterar a sua composição, ou seja, não recorre à pós-produção. A sua linguagem é, assim, “criada por meio de uma disciplina técnica que se estabelece no momento em que capta a imagem. O tempo, a repetição, a observação, o enquadramento e o momento efémero em que a fotografia se regista na película fazem parte de uma narrativa ou da ideia de storytelling“.
Reconstruindo a memória desta artista de lente cheia, em criança, debaixo da casa de praia dos pais, Alexandra Hedison observava o vaivém das ondas, a contemplação e o confronto com a paisagem tão dramaticamente mutável de Malibu, ou não moldasse diariamente o mar a nossa paisagem. Passados vários anos, Alexandra Hedison rumou a Malibu em diferentes estações do ano, levando consigo as máquinas fotográficas. Durante quatro anos, aguardava pelos momentos em que a natureza e a arquitectura do lugar traziam vívidas imagens e memórias, aquelas de criança. “Aproveitando as estações do ano, as tempestades de inverno, os ciclos das marés que alteram a configuração das areias e registando o efémero repetidamente, Hedison compôs a exposição ‘Everybody Knows This is Nowhere’, memórias de paisagens que essencialmente nunca permanecem iguais, tal como as memórias que se reavivam nunca voltam com o mesmo impulso“. O efémero da paisagem e da memória é o que Hedison nos leva a revisitar através das imagens que fixam o terreno mutante sob as casas de praia onde Hedison passou a infância, num desenho único de paisagem vs arquitetura.

© Alexandra Hedison, “Untitled #8 (Nowhere)” 2012
A inaugurar a 07 de outubro de 2016 e patente até 08 de janeiro de 2017, no Centro Cultural de Cascais, esta exposição e suas fotografias refletem o expressionismo e o traço contemporâneo da artista. “Mapeiam não só uma geografia, mas também uma geometria que emerge da composição da natureza e da arquitectura daquele lugar. Tanto representam os ciclos de mudança da natureza como o percurso da memória sempre transitável. São imagens simultaneamente vívidas e abstratas, subjugando a paisagem a cores e composições surreais, camadas que se sobrepõem, mais ou menos visíveis, e que no processo de repetição se tornam a própria memória“.
A técnica de Hedison e a passagem do tempo juntas a contar-nos histórias em Cascais, numa exposição a colocar na sua agenda cultural. A não perder. •
+ Centro Cultural de Cascais
© Fotografia de destaque: Alexandra Hedison, “Untitled #3 (Nowhere)”, 2012.
Partilhe com os amigos: