Seis anos após a sua apresentação em Braga e Coimbra, no ido ano de 2010 e com o seu álbum de estreia “From the Ground” na bagagem (produzido por Peter Broderick), Heather Woods Broderick regressa a Portugal para três concertos. Neste regresso, vem com o seu segundo álbum editado pela Western Vynil – “Glider”. Um trabalho que urge ouvir.
Pela mão da Lugar Comum e no âmbito do ciclo de concertos “American Autumn” (Espanha) foi-nos lançado o desafio, de última hora, para ter um breve tête-à-tête com a doce voz de um indie folk natural de Portland, EUA. Por entre a correria de notas e palcos, de acordes e cidades, a Heather Woods Broderick conseguimos surripiar breves minutos da sua atenção e afinar rapidamente uma conversa para assim vos acicatar a rumar aos concertos. Do álbum criado com o tempo e amadurecimento certos, sem pressas desnecessárias, retemos uma voz que nos eleva, que se eleva, acompanhada de uma paisagem sonora que a sustenta, que se sustentam mutuamente. Complementares. Um alinhamento de nove composições que nos contam estórias onde nos podemos rever ou imaginar. Um alinhamento com atmosferas que nos soam etéreas, criadas num homogéneo entrelaçado, aparentemente minimal e no entanto tão complexo, entre lírica e música.
Nas suas paisagens sonoras há ventos que criam delicados movimentos com uma definida melancolia sem tristeza, há sussurros que são cantados altos, sem deixarem de soar a murmúrios. Há um planar em estradas sonoras traçadas por Broderick ou não fosse Glider planador na língua de Camões. Sem mais demoras, apresentemos a etérea Heather Woods Broderick.
Indo ao inícios, lá bem atrás. Com ambos os pais músicos, tornares-te também músico foi a coisa mais natural do mundo ou houve, em algum momento, um lado mais rebelde a dizer “Eu não vou seguir o vosso caminho”?
Os meus pais sempre foram muito encorajadores com a música, mas eu também tinha um amor especial, muito meu, pela música. Nunca planeei tornar-me músico a tempo integral, mas… depois de anos e mais anos a dedicar o meu tempo à prática e a tocar com outras bandas, creio que posso dizer que é uma evolução natural.
Enquanto crescias, eles incutiram-te o amor pela música e pelo acto criativo inerente à mesma?
Tanto o meu pai com a minha mãe tocavam guitarra enquanto eu crescia e sempre adoraram ouvir música em casa e no carro. Assim, creio que o seu apreço pela música passou, inevitavelmente, para mim e para os meus irmãos.
Há mais alguém a quem possamos atribuir as culpas pela tua carreira musical? Alguém além da família que tenha estado sempre ali, a apoiar-te a dizer “estás proibida de desistir!”?
Os amigos e a família têm sido a fonte constante de encorajamento ao longo dos anos.
Agora, e sabendo dos teus estudos no mundo da música, temos piano, flauta, violoncelo e guitarra. Isto revela a necessidade de aprender quantos instrumentos for possível ou há um que expressa melhor o teu eu musical?
Sempre gostei muito de música e de instrumentos musicais, então tentei tocar vários tipos de instrumentos ao longo dos anos. O piano foi o meu primeiro instrumento, comecei a ter aulas quando tinha oito anos de idade. A flauta foi, na verdade, apenas um instrumento que aprendi na banda da escola. Nunca tive grande amor pela flauta, mas acabou por ser necessário e usada em gravações e concertos com bandas. Quando entrei para a Universidade, não podia levar um piano comigo, então levei uma guitarra, que foi naturalmente a melhor opção, e comecei a aprender a tocar, sozinha, no meu quarto, na residência de estudantes. Violoncelo foi algo por que me interessei um pouco mais tarde. Tinha passado tanto tempo a tocar piano que sentia que precisava tentar um novo instrumento.
Há algum instrumento que ainda queres ter tempo para aprender a tocar? E um que tenhas deixado, de vez, de tocar?
Adorava poder passar mais tempo, de novo, a tocar piano, violoncelo e guitarra. Quanto mais viajo, menos tempo tenho para praticar e perder tempo com os meus instrumentos. Gostava de me tornar uma melhor praticante destes três instrumentos.
Ainda no passado, como é que o ter vivido em tantos lugares diferentes, desde criança com os teus pais e agora (pelo que sei) em tour, te moldou enquanto pessoa singular e compositora?
Definitivamente, tenho vindo a coleccionar uma série de imagens, ao longo dos anos, de todos os lugares em que vivi e de todos pelos que passei. Uso muito esta colecção de imagens quando escrevo e componho. Com pessoa singular, creio que ter viajado tanto e ter vivido em tantos lugares diferentes me permitiu ter uma perspectiva aberta sobre cada novo lugar e espaço, e permitiu sentir-me muito confortável na maioria dos lugares a que vou.
Impossível não mencionar o teu irmão Peter Broderick. Não entrando demasiado na tua vida privada e seus momentos, como é a tua relação com ele? A competição vulgar entre irmãos? Ou tão somente uma tremenda amizade e cumplicidade que não interfere com as vossas carreiras, mas sim enriquece-as com a força necessária?
Temos uma relação extraordinária. Trabalhamos muitas vezes juntos em gravações, sempre mantendo uma forte amizade que eu adoro. Ele produz muito mais trabalho que eu e em muitos campos diferentes também. Nunca senti que houvesse, alguma vez, algum tipo de competição entre nós. Diria que sou, provavelmente, uma das suas maiores fãs.
Foquemo-nos agora na tua música, especificamente. Como é que eu devo apresentar a Heather Woods Broderick aqueles que nunca tenham ouvido a tua música? Como resumirias o teu estilo em poucas palavras?
Poderias dizer que sou uma compositora e que as minhas canções têm um elemento de atmosfera ou ambiente dentro delas. Gosto de criar paisagens sonoras para as canções nelas viverem.
Tens uma voz celestial, não podes negar. Em alguns momentos do novo álbum, arriscaria mesmo a dizer etérea. Há alguma formação em canto, como aconteceu para os outros instrumentos, ou apenas uma voz ao natural, num ritmo e afinação refinados? A tua voz é o teu melhor instrumento e o que caracteriza a tua música.
Nunca tive aulas de canto ou qualquer tipo de treino vocal, mas adoraria ter, um dia! Desde pequena que me sempre me interessei muito em ouvir música, escolher determinadas harmonias vocais e cantar ao mesmo tempo que a música passava.
Olhando para a elegância e complexa simplicidade das tuas canções, podermos dizer que és uma contadoras de estórias, de contos com atmosferas de sonho, contos teus onde o mistério e a melancolia criam personagens com os quais, por vezes, nos podemos relacionar?
A grande maioria das canções que escrevi são baseadas em recordações da minha própria vida ou da vidas dos meus amigos e familiares. Os elementos de melancolia e mistério creio que são elementos com que a grande maioria das pessoas se consegue relacionar, e que muitas vezes se tornam poderosos numa determinada canção.
Sabendo que já gravaste e foste em tournée com vários artistas, de olhos postos no futuro, há algum músico na tua “bucket list” com quem sonhes tocar?
Adoro tocar com outras pessoas e cantar canções de outros músicos com eles. Veremos o que o futuro nos reserva.
Quase a terminar, não resisto a pescar este teu refrão: “I can see our love is dragging you down.” O amor é a emoção/sentimento máximo que tens de ter em doses não espartanas para seres músico e compositora? É o derradeiro tema a ser escrito, cantado, vivido…?
No último álbum “Glider”, transversal a todo o trabalho, este é definitivamente um tema proeminente. Creio que as pessoas, músicos e outros, podem escrever sobre qualquer coisa, transformar a razão em sentimentos numa canção ou num poema. O amor e as relações são, sem dúvida, poderosos na vida de todos, e assim sendo, creio que é um assunto bastante comum.
E agora sim, para terminar esta breve conversa, e porque tenho esta coisa com a poesia e a música, há algum poeta ou poema que consideres o maior de todos?
Creio que não tenho um favorito. Adoro ler romances e poesia, mas estou sempre à espera de descobrir algo novo.
Amanha dia 18 de novembro pelas 22h15, Heather Woods Broderick sob ao palco da Black Box do Convento de São Francisco para uma noite que se crê etérea e inesquecível. Dada a limitação de lugares, aconselhamos a adquirir o seu bilhete rapidamente pois, vozes dizem que já há poucos disponíveis. (Nota: Heather Woods Broderick estará ainda no Teatro Cinema de Fafe no dia 19/11 e na Igreja dos Ingleses em Lisboa nos dia 20/11).
A não perder. A ir para (re)descobrir, ouvir e sentir. •