A primeira edição do ciclo DANÇA INVISÍVEL decorrerá no Palácio do Sobralinho, em Vila Franca de Xira, com uma programação no domínio da dança contemporânea e da performance, que aposta em criadoras/intérpretes que participaram no programa de residências Artistas no Palácio, promovido pela Inestética, e que se têm distinguido pelo carácter multidisciplinar e inovador do seu trabalho.
O ciclo inicia-se com o espectáculo “SU8MARINO” de Joana Castro, estreado no Festival DDD, em co-produção com o Teatro Municipal do Porto, e apresentado posteriormente em Berlim e Lisboa, após um longo processo de pesquisa e experimentação, iniciado no Palácio do Sobralinho em 2016. Nas palavras de Joana Castro: “Em Su8marino, procuro possibilidades de desterritorialização como desconstrução de paradoxos, encarando o paradigma da criação enquanto produção de novas formas de subjectivação. Como construir uma matriz intersubjectiva de relações entre o entendimento da criação artística enquanto demarcação de território, como refere Deleuze, a desconstrução do poder (territorial) gerando “linhas de voo”, a produção de novos espaços, territórios possíveis e alternativos, a criação de novas configurações semióticas não absolutas e o limite da linguagem enquanto transformação em contínuo devir?
Nesta peça, o performer é também observador, público, náufrago, construtor de camadas submersas, emergindo enquanto metáfora existencial. Su8marino é um ritual, uma fronteira esbatida onde camadas de (des)(re)territorialização abrem espaço à metamorfose.
Como reagir ao universo envolvente, onde a Síria se desfaz, o Brasil encolhe, os EUA estão no limite e a Europa asfixia? Em que medida, a consciência da globalização na relação com o espaço privado, se ritualiza e se transforma num espaço poético e abstrato onde as possibilidades de existência a substituem?
Su8marino é uma peça onde os espaços globalizados permanecem, entrelaçados num espaço pessoal, num corpo específico, cheio de referências que se vão desreferenciando em busca de múltiplos.”
O segundo dia apresenta em estreia absoluta “THE FOXES”, uma proposta ousada da coreógrafa/performer Alice Joana Gonçalves, que regressou à performance The Hunting, de 2013, para criar este novo projecto onde o corpo, matriz essencial do seu trabalho, “adapta-se à matéria para criar um novo espaço”.
“O cruzamento do projecto “The Hunting” (2013) com a presente performance explora a questão do passado e a sua continuação no tempo, como um corpo que nunca parou, mas que se moldou até chegar ao ano 2018. Partindo da premissa inicial, de que se explora o corpo como uma matéria que molda e é moldada ao longo do espaço e do tempo e a sucessão das diversas esculturas através do corpo, impele-nos para a sua fragilidade, que é exibida e que se torna o elemento crucial de toda a performance. Quase como um cadáver esquisito, a última sequela ‘The Foxes’ (ainda em construção), re-significa todo o contexto da performance inicial, talvez lhe roube a identidade, ou só a domine, colocando em causa o território ao qual pertencemos e construindo novos limites. Se num primeiro acto assistimos a um corpo contra a matéria, num segundo, o corpo adapta-se à matéria, constrói um novo espaço, agora habitado por outro corpo.”
A terceira proposta é uma adaptação site-specific da performance/instalação “MUTABILIS”, estreada no Temps d’Images, em Lisboa, com autoria de Paula Pinto – responsável artística do projecto multidisciplinar Compota – e do compositor e artista multimédia António de Sousa Dias, que decorrerá em diferentes espaços do palácio, assumindo uma nova expressão visual e sonora.
“MUTABILIS é uma instalação imersiva com performance inspirada na flor do Hibiscus mutabilis, também conhecida como “rosa louca”. Esta flor floresce de manhã em branco puro, passando por um rosa vivo intenso, tornando-se violeta nos dias seguintes.
A performance desenvolve-se através do encadeamento de situações, num ciclo de cerca de quarenta e cinco minutos, com intervenção de uma intérprete de dança contemporânea acompanhada de dois performers (interpretação áudio e vídeo em tempo real).
MUTABILIS propõe um percurso onde movimento, luz, imagem e som se inter-relacionam, modificam e estimulam a percepção e os sentidos, e onde a coexistência de diferentes espaços e tempos revela a mudança como a única constante na vida.”
O ciclo encerra com “ET TOI…” uma criação da dupla internacional Carolina Van Eps (Colômbia) e Francesca Saraullo (Itália), que regressam ao Palácio do Sobralinho para apresentarem o resultado final da pesquisa coreográfica efectuada na residência artística realizada este ano. “Em “Et toi …” duas solidões encontram-se. Atracção e repulsa, proximidade e distância, conflito e sensualidade, emergindo numa performance de dança marcada pela intimidade e por uma tensão latente…”
31/08, 21h30 – SU8MARINO de Joana Castro (M/12).
01/09, 21h30 – THE FOXES de Alice Joana Gonçalves (M/18).
14/09, 21h30 – MUTABILIS de Paula Pinto / António de Sousa Dias (M/12).
15/09, 21h30 – ET TOI… de Carolina Van Eps / Francesca Saraullo (M/12).
A ir, na recta final deste Verão, em Vila Franca de Xira. •