It Happens Because We Are, Not Because We Exist é o terceiro disco de originais dos Wipeout Beat e está aí, com o selo da Lux Records. Coimbra da cena independente não pára e os Wipeout Beat atestam isso.
O ser, o não ser, o sentir o existir e o viver. Quantos de nós saberemos a diferença entre estas definições que nos moldam o dia a dia? O foco está na consciência e na vontade que temos de viver em comunhão connosco e com os nossos ideais, seguindo os nossos princípios e lutando pelos nossos sonhos. Se assim não for, somos mais um número, uma pessoa que existe no meio de outras tantas.
O novo álbum dos Wipeout Beat chega-nos como um manifesto. A sonoridade que o compõe só podia ter acontecido assim — não por cálculo, mas por necessidade urgente de expressão! O título It Happens Because We Are, Not Because We Exist vem de uma corrente filosófica: o acidentalismo. O acidentalismo foi impulsionado por Bruno Simões (Tu metes Nojo, Sean Riley) e a referência a esta filosofia fica como homenagem a este grande amigo, deste trio. Trata-se de uma forma de dizer que o mundo não segue caminhos previsíveis ou confortáveis, mas sim acontecimentos que sucedem por acaso.
O terceiro disco dos Wipeout Beat é cru, direto, sem clichês, adornos ou virtuosismos desnecessários. É o som do momento a acontecer, sem pedir licença. Alimenta-se da energia punk, vai beber ao espírito electro, à estética synthwave e à pulsação hipnótica do krautrock. Ao mesmo tempo, encontram-se ecos do minimalismo de nomes como Philip Glass ou Steve Reich, onde a repetição é uma forma de meditação sonora. Também se sente a herança dos Suicide, crua e industrial, com o toque lo-fi muito próprio dos Wipeout Beat. Tudo isto filtrado através da sua velha companheira de guerra: uma caixa-de-ritmos Roland CR-8000, que dita o compasso com teimosia mecânica e groove inegável.
As músicas não se preocupam em ser acessíveis ou fáceis. São densas, exigem tempo e pedem entrega. Mas quem aceita o convite, encontra um mundo inteiro por explorar. Um universo onde o som é matéria viva, onde os teclados “meio a brincar” se transformam em armas emocionais e onde a guitarra e as vozes não comandam, flutuam.
Gravado entre jams, improvisações e obsessões sonoras, este terceiro LP arrisca e provoca. Apresenta músicas construídas como paisagens em mutação constante, onde a repetição se transforma em viagem. Não é só música — é textura, é tensão, é libertação! São peças onde cada camada é colocada com intenção, mas sempre com espaço para o erro criativo, para a emoção crua que só existe naquele instante em que carregamos no botão “record” e tudo pode acontecer.
Este disco é, também, o reflexo da liberdade que só uma banda bem madura, mais que habituada aos palcos, sem pressões externas e donos do seu próprio som, pode alcançar. Wipeout Beat não precisam provar nada. Estão apenas a existir, a fazer o que mais gostam: criar música intensa, honesta e inclassificável.
“Isto é assim porque tinha que ser assim. Não seria a mesma coisa se fôssemos por caminhos já percorridos.”
O disco tem o selo da Lux Records e vai ser apresentado, ao vivo, no dia 14 de junho no Salão Brazil, em Coimbra.
Wipeout Beat é um trio de Coimbra que desafia convenções sonoras com uma fórmula tão simples quanto surpreendente: uma panóplia de teclados vintage, uma guitarra com alma própria, vozes em harmonia dissonante e o batimento constante de uma velha caixa-de-ritmos. Carlos Dias, Pedro “Calhau” Antunes e Miguel Padilha têm os seus nomes ligados a bandas conimbricenses com sonoridades tão diversas como Bunnyranch, Subway Riders, Garbage Catz, A Jigsaw, Objectos Perdidos, So Dead, Victor Torpedo & The Pop Kids, entre outras.
Tudo começa em 2016: nascem quase por acidente — da vontade de experimentar algo diferente.. Carlos Dias chamou Miguel Padilha e Pedro Antunes para um concerto num bar, mesmo sem qualquer experiência prévia com teclados. Foi revelador! As jams e brincadeiras com velhos teclados que foram encontrando nas feiras de velharias e lojas de 2ª mão, transformaram-se em coisa séria que tinha que ser gravada. E assim foi! O resultado foi bom, resolveram encontrar um nome, e nesse ano estrearam-se em palco.
Com preferência por teclados clássicos da Casio, uma guitarra e uma velha caixa-de-ritmos da Roland, o som foi crescendo com a destreza de tocar instrumentos que nenhum tinha tocado a sério até essa altura. Pedro Calhau, baixista exímio, cria agora com a guitarra, algo que tanto tem de western como do rock inato das bandas de Coimbra. Os teclados, tocados pelos três, soam ao mais sujo do garage, aos sons minimais dos Suicide ou do Philip Glass, a uma “eletrónica primitiva”, tudo ao ritmo de um Roland CR-8000, que faz com que seja impossível não bater o pé.
Em 2017, editaram na plataforma Bandcamp, quatro faixas a que deram o nome de Three Amigos EP e que incluem também na edição física do primeiro disco lançado em 2018. Produzido nos Estúdios Blue House em Coimbra, com a dupla Jorri/João Rui dos A Jigsaw e editado pela Lux Records, Small Cities Big Thoughts é o resultado de ano e meio de longas e divertidas noites, a descobrir, explorar e criar algo de que se orgulham: música simples para gente descomplicada que gosta de dançar.
Em 2021 lançaram No More Nights_Alpha 60 / Stupid (Video Version), em Vinil 7” com uma edição limitada que, rapidamente, esgotou. Continuam a viajar entre o passado e o futuro contendo no lado A “No More Nights_Alpha 60”, uma canção sobre uma ex-relação improvável, numa versão com um toque de Alphaville de Jean-Luc Godard e, no lado B, “Stupid – Video Version”, a primeira música que gravaram em 2017 com a ajuda do Sérgio Cardoso (Twist Connection) e que se encontra em vídeo no Youtube. Uma espécie de demo, ainda com os beats mais primitivos, e apenas com Casios. Wine Nights Fantastic Stories, segundo disco da banda, saiu a 23 de Dezembro de 2021.
Se ainda não conhece este bando de três incansáveis, irreverentes, independentes e inconformados músicos… Não perca mais tempo. É ouvir. Para estreantes/ principiantes aconselhamos um volume moderado a baixo, nos monitores de som. •