Japão a cru / MUDE

A cultura e o design nipónicos atravessam fronteiras e chegam a Lisboa numa dupla exposição, composta por “Boro – O tecido da vida” e “Puras formas”, que nos dão uma visão do “Japão a cru”, para ver no MUDE – Museu do Design e da Moda até dia 8 de fevereiro de 2015.

A preservação dos recurso naturais e do meio ambiente. A reutilização dos matérias e a duração de cada objeto. A simplicidade, a qualidade estética e a funcionalidade de cada peça. São estas as “questões pertinentes” de que Bárbara Coutinho, diretora do MUDE – Museu do Design e da Moda, refere na apresentação da mostra “Japão a cru”. No fundo, há que “olhar com maior cuidado a cultura tradicional”, continua.

Começamos pelo “Boro – O tecido da vida”, a exposição composta por 54 peças, entre quimonos, bolsas e tatamis, fruto da tradição japonesa. Uma herança que atravessou dois séculos (finais do XVII e meados do XX) e cuja técnica “boro” consiste em remendar e cerzir diferentes tecidos – feitos a partir de plantas (exceto o algodão cujo uso estava reservado às classes mais abastadas) –, tingindo-os com a cor índigo, os quais eram usados para as peças de vestuário e no uso diário da maioria da população do Japão. A tradição e o artesanato representam, assim, a “relação próxima entre o objeto e o seu dono”, diz-nos Alexander von Vegesack, um dos curadores da mostra, bem como “o cuidado com a preservação da natureza”. Mas há também o lado belo de cada peça, a estética, que vem depois do funcional e, apesar do simples, da “simplicidade do material” desengane-se quem pense que a técnica também o é, pois aquela “é muito elaborada”, assegura o também curador Stephen Szczepanek, chamando a atenção para a forma do quimono, a qual não é mais do que “a forma do corpo humano”.

Passamos para “Puras formas”, a mostra de 200 objetos feitos em alumínio, destinados à cozinha, aos eletrodomésticos, aos brinquedos, ao material de escritório, entre outras peças do quotidiano, devido à leveza e durabilidade do referido material. Todos concebidos no Japão, por designers anónimos – à semelhança do que acontece com as peças da primeira exposição – e entre 1910 e 1960; e despojados de cor e de ornamentação, pois estavam convertidos às suas funções elementares, como o aspirador (na imagem) “feito de alumínio, para se tornar mais leve”, esclarece Ayako Kamozawa, curadora da dupla exposição, para dar resposta à capacidade física da maioria dos japoneses, magros e de estatura baixa.

Na exposição nada é deixado ao acaso pelo olhar, sobretudo o chapéu de soldado, utilizado nos faz-de-conta das crianças que brincavam aos soldados após a II Guerra Mundial, ou a mochila da escola e o jipe Willys, o mais popular entre os carros de brincar produzidos no Japão, sendo a maioria dos automóveis-brinquedos destinada para a exportação no pós-guerra; ou o secador e o candeeiro, este de um escritório, disposto ao lado de carimbos e caixas também feitas de alumínio, entre outras peças reunidas durante vários anos pelo designer industrial Seiji Onishi e pelo galerista Keiichi Sumi, sob o conselho do designer gráfico Nobuhiro Yamaguchi.

Para terminar, Bárbara Coutinho evidencia a chamada de atenção para o facto de “sermos utilizadores conscienciosos” e, por esse motivo, “olhar os objetos pela função”, tais como os que compõem a exposição que, deste modo, “põe em discussão o verdadeiro valor do design e o próprio design”, incitando cada um de nós e do todo, enquanto sociedade de consumo, a dar mais importância à funcionalidade e à qualidade dos produtos e objetos que utilizamos no dia a dia.

Ainda sobre as mostras, organizadas pelo Centre International de Recherche et d’Éducation Culturel et Agricole (CIRECA) / Domaine de Boisbuchet, a curadoria está nas mãos de Ayako Kamozawa, Mathias Schwartz-Clauss, Stephen Szczepanek e Alexander von Vegesack; o design expositivo é da responsabilidade de Raquel Santos e de Luís Miguel Saraiva; e o design gráfico pertence a Paula Guimarães. •

MUDE – Museu do Design e da Moda
© Fotografia: Patrícia Serrado