Os tesouros do Kremlin / Museu Calouste Gulbenkian

Depois da Arthur Sackler Gallery, da Smithsonian Institution, em Washington, nos Estados Unidos, é a vez da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, receber os tesouros da coleção do Kremlin de Moscovo sob o título “Os czares e o oriente”. Um valioso acervo da Rússia composto por oferendas da Turquia e do Irão, entre os séculos XV e XVII.

Sela proveniente de Istambul  (meados do século XVII)

Armas. Selas, estribos, manta, arreios e correntes decorativas para cavalo. Paramento, cabeção e insígnas. Cabeçada e correias de peitoral, escudo e maça de aparato, relógio de bolso e um sacrário, entre demais peças “que não são habituais nos museus portugueses”, afirma João Castel-Branco Pereira, diretor do Museu Calouste Gulbenkian, em Lisboa, o palco da exposição “Os czares e o oriente” patente, pela primeira vez, na Europa, e comissariada por Inna Vishnevskaya, Olga Melnikova, Elena Yablonskaya.

Ao todo são 66 relíquias seculares, concebidas pelas mãos dos mestres das oficinas das cortes do Irão safávida e da Turquia otomana, e da Rússia, dos séculos XVI e XVII, usados como adornos na vida da corte, nos atos cerimoniais dos czares, nas campanhas militares e nas cerimónias religiosas celebradas nas igrejas do Kremlin, e preservadas nos Museus do Kremlin de Moscovo. O testemunho das relações económicas, políticas e diplomáticas entre a Rússia e os seus vizinhos do médio oriente, convertido numa mostra desenvoldida em torno de quatro núcleos temáticos: a Horda de ouro, o Irão no período Safávida, a Turquia otomana e a Rússia dos czares.

Ícone de Nossa Senhora do Leite (A.: 52,2 cm L.:40 cm / século XVI)

No primeiro, realçamos a sumptuosidade do ícone de Nossa Senhora do Leite (século XVI), uma reprodução russa do século XVI de Nossa Senhora da Ermida Barlovskaya, mui venerada na Catedral da Anunciação do Kremlin de Moscovo, e a comprovação da simbiose das culturas russa, ocidental e oriental; e o felónio de cetim lavrado do império otomano (século XVI), uma capa sem mangas que era usada por cima da roupa dos sacerdotes ortodoxos durante a liturgia. Do Irão sobressai o escudo do príncipe Fiodor Ivanovitch (século XVI) cuja superfície, de estrias espirais, denotam a minúcia do mestre, que “incrusta” a contos, poemas e lendas iranianas; e a sela cujo veludo é proveniente do Irão (século XVII) e a confeção é feita na Rússia, sendo aqui apresentada no seu conjunto.

Punhal com bainha da Turquia (segunda metade do século XVI) / Lâminda do Irão (século XVI)

Dos vizinhos turcos, o Kremlin preserva, entre outros, um punhal com bainha com lâmina oriunda do Irão (século XVI) em aço e ouro generosamente trabalhados e ornamentada com pedras preciosas; e o relógio de bolso com calendário cuja caixa, esmaltada e incrustada de diamantes, provém de Istambul, enquanto o mecanismo e o mostrador foram concebidos pelos mestres relojoeiros de Genebra; ou a maça de aparato, ofertada pela Turquia (na imagem de entrada), em meados do século XVII, ao czar Dmitri Astafiev.

Sacrário de dois quilos e meio de ouro e com uma profusão de pedras preciosas (século XVIII)

Da Rússia dos czares, salientamos o sacrário em ouro e pedras preciosas, utilizado para levar a comunhão a casa dos fiéis, e representativo das cenas da Paixão de Cristo em redor do crucifixo, o qual foi concebido nas oficinas do Kremlin de Moscovo, no primeiro quarto do século XVIII. Na exposição, esta peça está acompanhada por dois pares de “portas”, onde se encontram representados os oito arcanjos da igreja ortodoxa.

Para terminar, é exibido um curto filme, no qual se destacam peças similares às patentes na mostra.

A visitar a partir de hoje, dia 28 de fevereiro, até ao dia 18 de maio. •

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© Fotografia: Moscovo / Museus do Kremlin