Referência na edição de sonoridades jazz, a Clean Feed lançou cinco novos álbuns a descobrir…
Eis as cinco novas edições que vai ter de descobrir, ouvir, conhecer, se no jazz atual tiver uma das suas sonoridades eleitas. Nomes de referência, músicos exímios de um estilo jazz.
Eric Revis “In Memory of Things Yet Seen” / Com Eric Revis (baixo), Chad Taylor (bateria), Bill McHenry (saxofone tenor), Darius Jones (alto saxofone), convidado especial Branford Marsalis (composições 5, 11). Neste novo álbum Revis coloca sua visão mais ampla de jazz em prática. O título sugere, claramente, que a tradição e as invenções do futuro não são mutuamente exclusivas. Um trabalho que une Revis com: Darius Jones, músico que vê o hip hop, funk, soul e rock como ramos da mesma árvore a partir dos quais floresce o jazz; Bill McHenry, conhecido pelo papel nos projetos de Paul Motian, tem tocado com Revis no seu próprio quarteto, com o pianista Orrin Evans e o lendário Andrew Cyrille; e, claro, Chad Taylor parte fundamental dos Chicago Underground Ensembles, sempre tentando estabelecer novas gramáticas, noutras já existentes. Revis apresenta o novo trabalho como um espelho dos músicos reunidos, “The way the band is shaping up, there’s much reverence for tradition and the tradition of taking things forward, (…) I really like the fact that they are all such well-rounded players. Right now, there are very few bands that are really doing the ‘back to the future’ thing.”.
Matthieu Donarier’s / Albert van Veenendaal’s Planetarium “The Visible Ones” / Com Matthieu Donarier (saxofones soprano e tenor) e Albert van Veenendaal (piano, prepared piano). Se muitos dizem que não há tal coisa como “jazz europeu”, este encontro entre o saxofonista francês Matthieu Donarier e pianista holandês Albert van Veenendaal prova o contrário. “The Ones visíveis” é jazz, ponto sem discussão, mas com um formato de música de câmara distinta, com um traço profundo na tradição da música clássica. O estilo de Donarier é elegante, como Warne Marsh ou Mark Turner, mas com um sentir único no conceito e visão da música. A maior parte de sua carreira foi na companhia de músicos europeus como Daniel Humair, Gabor Gado, Alban Darche, Sébastien Boisseau e Stephan Oliva, bandas do próprio Donarier (Kindergarten, Madeira, Dragoon, MDTrio) e aqui dá-nos uma nova visão do universo jazz. O mesmo vale para van Veenendaal, conhecido por seu trabalho com outros pianistas (Cor Fuhler, Sylvie Courvoisier, Jozef Dumoulin), compondo para instrumentos de sopro (Calefax , Amstel Saxophone Quartet) e aplicando suas ideias de “música pictórica” nos seus grupos (Pavlov e Spoon3+1Fork). Álbum de jazz europeu que americanos podem desfrutar, com a música jazz a ir além das fronteiras convencionais e suas percepções.
Sei Miguel “Salvation Modes” / Com SM (trompete), Fala Mariam (trombone, alto trombone), Pedro Gomes (guitarra), César Burago (percussão), André Gonçalves (hammond), Margarida Garcia (twin), Kimi Djabaté (voz), Rafael Toral (modulated feedback), Ernesto Rodrigues (viola), Nuno Torres (alto saxofone), Pedro Lourenço (guitarra baixo), Luís Desirat (bateria), Monsieur Trinité (“bandoneon de Osaka, ganzá, afoché”), César Burago (“bandoneon de Osaka, claves, agogô”). Sei Miguel confessou a Pedro Costa (Clean Feed) “que no futuro não pretende escrever novas músicas. Em vez disso, ele quer trazer à luz do dia dezenas de notas que ele tem armazenado há mais de 30 anos, numa gaveta“, há gavetas e gavetas… Algumas das composições foram executadas ao vivo mais do que uma vez, outras apenas uma vez, e a maioria nunca tinha sentido um palco. Da gaveta, só um punhado de composições foram registradas profissionalmente e não foram divulgadas. “Salvation Modes” é o primeiro capítulo desta longa história escondida. Com apenas uma peça recente, este álbum é o primeiro impulso de Sei Miguel a apresentar seus segredos bem guardados, um exemplo incrível de uma escolha equilibrada de materiais contrastantes, com grande trabalho de som. Um trabalho de um músico persistente viciado em trabalho, que nos chega aos ouvidos a tocar melhor do que nunca, e que nos faz desejar pela próxima surpresa, saída da sua gaveta do tesouro, revelando um pouco mais da sua imensa viagem, na composição.
Rodrigo Amado Wire Quartet / Com Rodrigo Amado (saxofone tenor), Manuel Mota (guitarra), Hernani Faustino (double bass), Gabriel Ferrandini (bateria). Quarteto Wire é uma das bandas de trabalho de Rodrigo Amado, juntamente com o Motion Trio e Hurricane. Depois de gravar para algumas das maiores editoras europeias de avant-jazz, Amado regressa onde lançou os seus primeiros álbuns, com toda uma produção portuguesa. A grande surpresa deste projecto está em Manuel Mota, um original e radical guitarrista reconhecido e elogiado por nomes como Derek Bailey e Noel Akchoté. Por causa dele, este álbum de estreia de Wire Quartet vai mais longe no improviso, ainda mais livre, mas sempre consistente, na exploração de distorção de guitarra e feedback. Mota, Faustino e Ferrandini dão a Amado todas as condições para ir além de seus próprios limites físicos e criativos, reunindo neste álbum algumas das suas performances mais impressionantes já registradas, confirmando sua crescente reputação no universo jazz.
Lawnmower II / Com Jim Hobbs (alto saxofone), Kaethe Hostetter (violino cinco cordas), Winston Braman (baixo elétrico), Luther Gray (bateria). É o arguardado segundo projeto de Luther Gray. Com uma mudança de direção dentro da mesma configuração de jazz-blues-folk-rock, o quarteto inclui, agora, um violino e baixo elétrico, em vez de duas guitarras; e, claro, Jim Hobbs é novamente o saxofonista de serviço. As duas novas adições trazem novas surpresas ao projeto: Hostetter vinda de Debo Band e de Zena Bel Band, com experiência na música clássica (Boston Philharmonic, New England Philharmonic), mais a improvisação estruturada (com Fred Frith, e.g.) e a música tradicional africana, adiciona cor e multi-direcionalidade ao trabalho; Braman atuando no campo do rock alternativo como membro das bandas Consonant, Fuzzy e Shepherdess, contribui para o criar de um pop-jazz sofisticado e elaborado. Novos horizontes na sonoridade jazz com temperos pop (do bom).
Tudo com o selo de produção da Trem Azul e Design by Travassos. A Clean Feed a continuar na sua missiva de divulgação e edição de bom jazz. •
+ Clean Feed