“Demónios”, do reconhecido dramaturgo sueco Lars Norén, com encenação de Nuno Cardoso, sobe ao palco do Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) hoje, quarta-feira, dia 12 de novembro.
A peça, estreada em Guimarães no âmbito dos Festivais Gil Vicente, conta com a interpretação de Pedro Frias, João Melo, Joana Carvalho e Micaela Cardoso, numa coprodução Ao Cabo Teatro, O Cão Danado e Companhia, CCVF – Centro Cultural Vila Flor. Na história, quatro personagens, dois casais que se vão cruzar e vão perceber que os pequenos dramas do dia a dia escondem algo maior – Frank e Katarina não têm filhos, têm trinta e muitos anos e uma relação de nove anos; vivem num apartamento fino, mas desleixado. Jenna e Thomas vivem no apartamento de baixo; são da mesma idade, têm dois filhos e as intermináveis pequenas desgraças que se abatem numa pequena família normal. O desenrolar de toda a trama vai fazer com que todos se confrontem não só com os seus demónios, mas também com os dos outros. O maior demónio de todos a espreitar a cada esquina da história: a solidão. “Os quatro enredam-se numa trama de humilhações, provocações sexuais, confissões inesperadas e ataques exibicionistas. A solidão agressiva do casal sem filhos abala o suposto idílio do outro casal. Esta tensão sexual pelo outro, que, após centenas de cruzamentos nas escadas, transforma-se numa fantasia contínua, não pode ser expressa de forma catártica. Descamba em tentativas confusas e embaraçosas de uma vida desinibida e selvagem. O medo da solidão, o aborrecimento da relação e as esperanças arruinadas de uma revigorante mudança constroem uma prisão onde os demónios da vida se escondem numa vida quotidiana de mesquinha maldade, rancor desajeitado, ameaças de separação e impotência sexual“.
Para vos dar uma noção mais próxima do que é a peça, representada, Jorge Louraço Figueira, crítico teatro, descreve a cena inicial do espetáculo: “O apartamento imaculado à volta do qual se sentam os espectadores deste Demónios, e onde Katarina (Micaela Cardoso), de camisa de homem e combinação, aguarda o marido, rapidamente se revela uma arena de combate conjugal poluída pelo ressentimento. Farta de folhear uma revista com instruções de consumo, a atriz decide virar o cinzeiro, entornar as cinzas e as pontas de cigarro, virar o edredão e estilhaçar um copo no chão, para chamar a atenção de Frank (que chegara a casa trazendo consigo a urna com o que resta da mãe, cremada). Nuno Cardoso e os seus atores optaram por deixar à vista de todos o interesse da personagem em levar a outra aos arames, e as táticas usadas por ambos para testarem o amor do parceiro. O relacionamento de Katarina e de Frank vive de golpes de teatro. Esta coincidência entre jogo teatral e jogo afetivo, que quase não se distinguem, que se refletem e iluminam mutuamente, constitui o código do espetáculo e a chave para uma experiência teatral rara.”
Uma peça sobre e de amor, sobre a vida e a vivência comum conjugal que tem, tantas vezes, altos e baixos. O encenador Nuno Cardoso regressa mais uma vez a Coimbra onde iniciou o seu percurso teatral, no CITAC – Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra. Como ator, destacam-se “Um Processo”, a partir de Franz Kafka (enc. Paulo Lisboa, CITAC/1994); “O Subterrâneo”, de F. Dostoievski (enc. Paulo Castro, Visões Úteis/1995); “Gato e Rato”, de Gregory Motton (enc. João Paulo Seara Cardoso, Visões Úteis/1997); “Na Solidão dos Campos de Algodão”, de Bernard-Marie Koltès (enc. Nuno M Cardoso, Teatro Só/1999); “Projeto X.2 – A Mordaça”, de Eric-Emmanuel Schmitt (dir. Francisco Alves, Teatro Plástico/2000); “Gretchen”, a partir de Urfaust, de Goethe (enc. Nuno M Cardoso, O Cão Danado, TNSJ/2003); “Otelo”, de W. Shakespeare (enc. Nuno M Cardoso, O Cão Danado, TNSJ/2007), “Querido Monstro”, de Javier Tomeo (enc. José Neves, 2009), “Filho da Europa”, a partir de Peter Handke (enc. João Garcia Miguel, JGM/Ao Cabo Teatro, 2010) e “T3+1”, a partir de A. Tchekov (enc. Victor Hugo Pontes, José Eduardo Silva e Luís Araújo, TNSJ/Ao Cabo Teatro, 2010). Foi um dos fundadores do coletivo Visões Úteis e no TNSJ, assumiu a Direção Artística do Teatro Carlos Alberto entre 2003 e 2007. Como criador residente no TNSJ, encenou “Pas-de-Cinq + 1”, de Mauricio Kagel (1999); “O Despertar da primavera”, de Frank Wedekind (2004); “Woyzeck”, de Georg Büchner (2005); e “Plasticina”, de Vassili Sigarev (2006). Para a Ao Cabo Teatro encenou “Antes dos Lagartos”, de Pedro Eiras (2001), estreado no Porto, no âmbito do PoNTI 2001 e apresentado em Bratislava, no Festival da Convenção Teatral Europeia; “Purificados”, de Sarah Kane (2002), “Valparaíso”, de Don DeLillo (2002), “Parasitas”, de Marius von Mayenburg (2003), “Jardim Zoológico de Cristal”, de Tennessee Williams, considerado pelo jornal Público como um dos melhores do ano (2009); “A Gaivota”, de A. Tchekov (2010); “As Três Irmãs”, de A. Tchekov (2011); “Desejo sob os Ulmeiros”, Eugene O´Neill (2011), “Medida por Medida”, de W. Shakespeare (2012)) e “Porto S. Bento” (TNSJ/Manobras 2012).
Uma peça que espera por si, mais logo às 21h30, no TAGV. Pela mão de Nuno Cardoso com provas dadas nos palcos nacionais e não só. A ir. •
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