Está aí, mesmo à porta, um novo trabalho de originais pela mão de Sandy Kilpatrick: “The Shaman’s Call”.
Em março, de 2014, tivemos um encontro com um músico que nos havia conquistado com sonoridades que cria e que nos levou, de vez, com uma simpatia genuína. Foi uma longa e animada conversa (reler), com um sotaque escocês sentido de um músico natural de East Kilbride, perto de Glasgow, Escócia; músico que deixou que o seu coração fosse roubado por uma portuguesa – “porque me apaixonei por uma mulher maravilhosa, numa aula de filosofia na Universidade de Lancaster, onde ambos estudávamos. Foi amor à primeira vista, no momento em que a vi entrar na sala disse ‘que mulher tão linda’, e foram precisos dois anos e meio para que falássemos, um com o outro. Ao fim desse tempo, eu percebi que ela gostava de mim esse tempo todo… ela é portuguesa e já lá vão 20 anos.”
Com Kilpatrick a música é coisa nata… “eu cresci com a música. O meu pai canta, a minha mãe canta, não como profissionais, mas do coração, com a alma. Na verdade, toda a família canta. Ah! E tive uma ama, que cuidou de mim, e ela foi, é, uma pessoa muito importante na minha vida, era uma cantora country incrível, foi convidada muitas vezes a juntar-se a bandas em tour mas nunca quis deixar a familia e imagina, um sonho, crescer com alguém assim, a cantar para ti. Daí ter sido muito fácil começar a tocar e entrar na música. Faz parte de mim”. Este crescer aliado a uma licenciatura em Literatura Inglesa e Americana resultou, em pleno, aqui: seguro nas melodias, domínio nas palavras.
Há 11 anos ouvia-se “Am I welcome here”, pergunta de quem escolhia um novo pais para viver. Seguiram-se “Incandescent Night Stories”, histórias que contam contos de um músico a caminhar para uma gramática musical que hoje o identifica. As histórias deram o mote para “The Ballad of the Stark Miner” – EP que nos prepara para uma viagem obrigatória: “Terras Últimas”. Finisterra é, desde a edição do audio-livro, palavra com um corpo ímpar. Registo superlativo de uma viagem entre três cabos que definem um plano musical, que é legenda para cada fotografia impressa. No amadurecer de uma viagem, nasceu “Redemption Road” que habilmente nos levou ao EP “Your Love is a Weapon”. Reconhecido pela crítica, Kilpatrick prepara-se para lançar novo álbum de originais, “The Shaman’s Call”, no dia 15 deste mês de junho.
Este novo trabalho de originais é um alinhamento, sem caminhos errados, de nove músicas, espelho de um trabalho onde a voz está mais despida e viva que em trabalhos anteriores. Caminhos, desamores, desafios, amores, escolhas… retratos vários expostos numa lírica e composição própria, com um folk acústico depurado. Tudo começa com um som tão nosso, de uma guitarra portuguesa, em “A Homecoming Heart“, guitarra que se entende a presença, que tinha de estar nesta música, naqueles momentos exactos. Rumamos para “The Ascending Light” para encontrar o que é evidente, mas não simples – “… it’s the love I keep inside…” – e nos encontrarmos em “Sunday Morning Song“, no inevitável amor à primeira vista pois “…this is the sound of the song that I wrote to the girl in the square…” naquela noite e no domingo, de manhã, quando se acorda, com a confirmação da voz como instrumento forte e denso, e uma melodia constante que garante a estrutura, o trompete… esse é a declaração que confirma que este folk não é coisa ligeira ou banal. É música segura de si, pensada e exercitada, de quem sabe o que faz, no aparente simples. “The King is Dead” é a música que se segue com um unstoppable dedilhar que nos leva a “Freedom“, desejo que é direito para a verdade universal de “Your Love Is A Weapon“. Aqui, a voz de Sandy Kilpatrick é a alma da letra e da melodia das cordas, um corpo sonoro vestido com corte perfeito no trompete. Quase a terminar, “One Step Closer“, uma carta de amor a alguém, acompanhada das cordas de uma guitarra e algo mais no corpo instrumental, minimal e tão cheio, onde o amor tomou consciência: “I’ve been begging you to run and now I’m begging you to stay“. Se a guitarra portuguesa é uma surpresa logo no arranque, os coros em “I Am An Eagle” são o anúncio de um desfecho aprimorado de um trabalho sentido que termina, acusticamente, com “The Light of The Moon“. A voz de Kilpatrick é elemento forte deste todo de nove músicas, a lírica constrói nove histórias com princípio meio e fim, a música, a par da voz, é corpo que dá vida às palavras e que alimenta a voz.
Está lançado o desafio para ouvir este álbum bem conseguido. Para terminar, concertos num horizonte próximo, (mais datas para breve):
11/07 – FNAC St.ª Catarina, Porto
11/07 – FNAC NorteShopping, Matosinhos.
18/07 – Festival Asas, Penela.
25/07 – Festival Laurus Nobilis, Vila Nova de Famalicão.
Músicos convidados em “The Shaman’s Call”: André Silvestre – piano, nora electro; Zé Barroso – trompete; Sofia Queiroz Ribeiro – contrabaixo; Edgar Ferreira – guitarra portuguesa; Márcio Décio – baixo; Equipa AVC Famalicão – coros.
Bons sons. •
+ Sandy Kilpatrick
© Fotografia: Sara Quaresma Capitão.
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