Onde, outrora, havia um muro com 14 mestros de altura está, agora, o novo edifício orgânico do Campus da Fundação EDP, na histórica Belém de Lisboa, erigido para promover o diálogo espacial entre o passado e o futuro, mostrar o ecletismo e a contemporaneidade das disciplinas das artes e, em simultâneo, mostrar a cultura portuguesa além fronteiras.
A escadaria de acesso ao terraço, no topo do recém-inaugurado MAAT / © Patrícia Serrado
Enquanto se ultimavam os detalhes inerentes ao revestimento em cerâmica do novo edifício do MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, vizinho da vetusta Central Tejo, de inícios do século XX, concretizou-se a apresentação à imprensa – primeiro num passeio de cacilheiro pelo Tejo, para apreciar o traço ondulante e harmonioso da obra projetada pela arquiteta inglesa Amanda Levete, mentora do atelier AL_A; depois, para conhecer o espaço, quer por fora, quer por dentro.
Ao todo estão contemplados sete mil metros quadrados de espaço público novo (o ponto central nos 38 mil metros quadrados do Campus da Fundação EDP), dos quais quatro mil estão reservados a exposições. Quanto ao exterior, este representa 14 metros de altura – a cota permitida nesta zona ribeirinha da cidade – e 120 metros de frente… para o rio. Uma frente que, à medida que se percorre o exterior do edifício através das rampas de acesso, o ângulo de visão abre-se até aos 360° já no topo do edifício visitável – por fora – 24 horas por dia. Aqui, o Tejo torna-se imenso, assim como outra margem, a ponte 25 de Abril e o casario que preenche este lado histórico de Lisboa. É um terraço que se quer público, razão pela qual “os jardins vão passar a ser totalmente abertos”, declarou António Mexia, diretor executivo da Fundação EDP.
“O espaço público flui para o interior do edifício.”
O revestimento em cerâmica no exterior do novo edifício do MAAT / © Hufton and Crow Photography
A importância da concretização de espaços abertos é também sublinhada por Amanda Levete, que enfatiza a forma como o mesmo flui para o interior do novo edifício: “O espaço público flui para o interior do edifício.” Aqui, o acesso às salas expositivas (Galeria Oval, Galeria Principal, Project Room e Video Room) decorre sem obstáculos, detalhe imperativo e comprovativo de que estamos perante o cuidado com a inclusão social.
Com efeito, depois de entrar no novo edifício, e à medida que nos aproximamos da rampa de acesso – onde a pedra de lioz (existente na região de Lisboa e arredores) marca presença –, a Galeria Oval torna-se, a pouco e pouco, visível, desta feita com a exposição da artista francesa Dominique Gonzalez-Foerster, “a primeira artista convidada que concebeu uma espécie de parque temático”, segundo Pedro Gadanho, o diretor do MAAT. Chama-se “Pynchon Park”, é uma obra site-specific – conceito que irá abranger as criações futuras de artistas nacionais e internacionais – e encontra-se integrada na mostra “Utopia/Distopia, Part 1: Dominique Gonzalez-Foerster”, a qual foi criada no âmbito das comemorações dos 500 anos da publicação de Utopia, de Thomas More.
“Tem um aspeto lúdico, a pensar nas crianças, mas também lança uma reflexão crítica sobre o comportamento humano”, explicou Pedro Gadanho a respeito de “Pynchon Park”, onde bolas de pilates e livros gigantes faz-de-conta podem dar azo à criação de muitas histórias durante 24 minutos – em representação das 24 horas de um dia –, o mesmo tempo em que as portas desta obra permanecem fechadas e para desfrutar até março de 2007. Até lá, “vamos ter seis meses para estudar a próxima exposição”, continuou o diretor do MAAT, e para elaborar um “manual de utilização do edifício” afirmou, mais tarde, António Mexia em tom de brincadeira, já que foi feito para aproveitar ao máximo e se apresenta com formas distintas consoante o lado que se entra, menos para os skaters, que estão proibidos de manobrar o skate no terraço do novo edifício. “O próprio jardim terá planos diferentes” e performances multidisciplinares, como instalações, música… “A música vai ser um complemento fundamental”, afirmou o diretor da Fundação EDP.
O objetivo é colocar “Lisboa no circuito internacional da arte contemporânea”
Tudo em prol do diálogo com as pessoas, a cidade e o rio, entre a arte, a arquitetura e a tecnologia, e as demais disciplinas. “Seremos também um espaço de investigação e de debate”, esclareceu António Mexia, um campo aberto para o mundo, do qual já começaram a traçar parcerias com representantes de instituições nacionais e de outros países – dos EUA, do Reino Unido, de França, de Itália, de Espanha. “Queremos trabalhar com instituições que estão na linha da frente”, esclareceu. O objetivo é colocar “Lisboa no circuito internacional da arte contemporânea”, disse Pedro Gadanho.
Entretanto, o novo espaço do MAAT – a segunda fase do plano de revitalização do Campus da Fundação EDP, já que a primeira aconteceu com a reconversão da Central Tejo e a terceira será feita no jardim e, depois, uma intervenção no tanque – é submetido a testes durante seis meses, ou seja, até março de 2017. Ao longo deste período de tempo, o valor do bilhete será de 5 euros, preço com desconto de 50 por cento para estudantes, seniores e grupos de um mínimo de dez pessoas, além de que as crianças e jovens até aos 18 anos são contemplados com a entrada gratuita (consulte os preços aqui). Em estudo está a possibilidade de ser criado um “passe” no valor de 20 euros, o qual permitirá a entrada de um adulto acompanhado sempre que quiser entrar no edifício e durante um ano.
Além disso, e com o intuito de adaptar-se aos dias de hoje, “vai-se poder fotografar o que quiserem”, porque “as pessoas comunicam muito just in time”. Portanto, será um edifício muito adaptável, muito flexível e muito aberto para todos, daí a construção de três pontes, umas das quais permitirá a passagem para o largo Marquês Angeja, do lado oposto da linha do comboio, as quais representam “uma ponte entre nós e o futuro”, rematou António Mexia.
Tudo boas razões para não perder a inauguração do MAAT agendada hoje, dia 5 de outubro, com uma programação de 12 horas (leia aqui o artigo da Sara Quaresma Capitão).
A ir! •
+ MAAT
© Fotografia de entrada: Paulo Alexandrino
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