Neste meio de semana, falemos de música património, de fragmentos de música antiga, de memórias de um canto; uma exposição no Arquivo da Universidade de Coimbra (UC) que apresenta raro pergaminho de canto hispânico.
O Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC) inaugura hoje, dia 26 de abril, pelas 11horas -“Fragmentos medievais: vestígios do canto hispânico” – uma exposição que entre as várias peças mostra um raro pergaminho moçárabe, do século X-XI, em letra visigótica, que se conserva no AUC. Patrocinada pelo Arts and Humanities Research Council do Reino Unido, a exposição “Fragmentos”, que ficará patente até ao mês de julho, foi criada por uma equipa de especialistas dedicados ao estudo do canto hispânico, liderada por Emma Hornby (University of Bristol), em colaboração com musicólogos da University of Colorado Boulder, Universidad Complutense de Madrid e Universitat de València.
Visitar esta exposição é uma excelente oportunidade para descobrir o canto hispânico, um tesouro cultural europeu único; é mais uma viagem na história que sugerimos aqui na Mutante. Conhecido também por “canto moçárabe” ou “canto visigótico”, o canto hispânico é o repertório musical medieval do rito hispânico, a liturgia cristã propriamente ibérica. Apesar de ter sido praticado durante pelo menos meio milénio, apenas chegaram até nós cerca de quarenta fontes do referido repertório. O canto hispânico foi durante muitos séculos símbolo de identidade dos cristãos ibéricos. Começando-se a forjar com a chegada dos primeiros cristãos à península, foi impulsionado pelos padres da igreja espanhola em tempos visigóticos e continuou a ser praticado em territórios cristãos e muçulmanos. Sobreviveu até inícios do século XIV em algumas paróquias moçárabes incluindo depois que o Concílio de Burgos do ano de 1080 o suprimisse em favor do rito romano e seu repertório musical, o canto gregoriano. Em finais do século XV tentou-se restaurar como parte da reforma Cisneriana, resultando num repertório musical que ainda se canta na Capela de Corpus Christi da Catedral de Toledo.
Esta mostra ímpar dá a conhecer os detalhes de uma importante seleção de fontes, através da exibição simultânea de um dos poucos fragmentos conservados e de um software interativo que explica o seu conteúdo (tipo de manuscrito, o seu uso, o seu texto e a sua escrita musical)… Mais do que uma viagem, é uma aula de história que vai ter de assistir, para mais aprender.
Simultaneamente, a exposição estará patente em outras distintas sedes de Portugal e Espanha: Biblioteca Nacional de Espanha, Arquivo-Museu Diocesano de Lamego, Catedral de León e Universitat de València. Não deixe de visitar esta exposição e saber (ainda) mais da nossa identidade, da nossa história, de hoje até julho. •