Para quem a tarefa “diluir-se no sofá” é assunto de máxima importância, a aniversariante Poltrona Mole, o maior ícone do Design Brasileiro, não será elemento estranho ou desconhecido.
A QuartoSala – Home Culture é um Atelier de Projetos de Design e Arquitetura de Interiores – apresenta uma edição especial limitada no âmbito dos 60 anos da Poltrona Mole, criada pelo ‘Pai’ do Design Brasileiro, Sergio Rodrigues (fotografia acima, sentado na sua criação). No passado dia 9 de novembro, a edição especial da Poltrona Mole chegou à loja ‘Design Brasileiro by QuartoSala’, na Casa Pau-Brasil (Príncipe Real). Estavam assim abertas as comemorações do 60.º aniversário da Mole, um dos maiores ícones do Design Brasileiro, com a QuartoSala a apresentar uma nova edição, especial e limitada desta poltrona.
A Poltrona Mole “é a criação mais emblemática do Designer Brasileiro Sergio Rodrigues – símbolo incontornável da cultura brasileira e principal influenciador de uma nova geração de Designers –, e é uma das peças em destaque na loja da QuartoSala, exclusivamente dedicada ao Design Brasileiro“. Esta edição limitada com apenas 60 unidades, tem gravado a laser, em baixo relevo, um selo especial junto com numeração de 1 a 60. Sergio Rodrigues criou a Mole como resposta ao pedido de um amigo, o fotógrafo de moda brasileiro Oto Stupakoff que, em 1957, lhe lançou um desafio: “Bola aí um sofá esparramado como se fosse de sultão, para o canto do meu estado”. O Designer “surpreendeu tudo e todos com esta poltrona, exuberante para a época, mas extremamente confortável devido à sua estrutura em madeira maciça e às tiras de pele onde assentam as almofadas. Na época, a Mole contrastou com o racionalismo do Design nórdico que ditava tendências.”
A ‘Mole 60 anos’ edição limitada é “literalmente idêntica à versão original de 1957, com quatro travessas de suporte nas costas, isto porque a poltrona teve uma edição posterior, criada em 1961, com três travessas e um ângulo ligeiramente curvo nas costas, com a qual Sergio Rodrigues ganhou o 1º lugar do Concurso Internacional do Móvel de Cantù, Itália“. A versão hoje comercializada, de 1961, foi eternizada como um ícone do Design Brasileiro como é, de resto, toda a obra de Sergio Rodrigues (1927-2014).
Se o nome Sergio Rodrigues lhe for, ainda desconhecido, o designer nasceu no final da década de 1920 no Rio de Janeiro e cresceu junto à Praia do Flamengo, em Botafogo. Aos dois anos ficou órfão de pai e foi então criado por um tio-avô apaixonado pela madeira, que trabalhava também com marceneiros portugueses. “Sergio Rodrigues foi-se apaixonando pelo cheiro da madeira, já que o seu tio tinha como hobby fazer caixas de madeira para colocar os charutos. Desenhava e construía aviõezinhos com as sobras dos trabalhos do tio, e com elas fazia os seus brinquedos. Era também apaixonado pelo desenho, influenciado pelo seu pai e avô, dois de grandes ilustradores e cronistas de jornais do Rio de Janeiro.
Fez o curso de Arquitetura mas interessou-se pelo interior das casas. Pesquisou sobre materiais e formas para desenhar mobiliário que fossem o espelho da Brasilidade“.
Em 1954 cria a sua primeira peça, o banco Mocho, inspirado no banco de dois pés que os agricultores do interior usavam para ordenhar as vacas. No Brasil as vacas leiteiras chamam-se de Vacas Mochas, daí o nome Banco Mocho. Em 1957, desenhou a Poltrona Mole – muito mal recebida pela crítica na época e apelidada de ‘cama de cachorro’ -, mas por desafio do Governador Carlos Lacerda, Sérgio Rodrigues colocou-a a concurso e ganhou o 1.º Prémio em 1961, em Cantú, Itália. Nem sempre a crítica acerta…
No IV Concurso internacional do Móvel, com a Poltrona Mole, Sérgio “ganhou o reconhecimento que não tinha tido até então no interior do seu país. Os jurados internacionais consideraram a Mole como uma peça que revelava facilmente o local onde tinha sido feita. ‘Só podia ter surgido de um lugar onde houvesse muita madeira e muito couro’“. Na sequência deste concurso, em 1958, as suas peças passaram a integrar a revista italiana Domus de Gio Ponti e Sérgio Rodrigues foi convidado para fazer os interiores da embaixada do Brasil, em Roma.
Oscar Niemeyer, seu amigo, “encomendou-lhe móveis para os institutos públicos de Brasilia, ‘porque naquela época em Brasilia não havia tempo para desenhar móvel nenhum’. Foi considerado o Pai do Design Brasileiro exatamente por querer espelhar a ‘Brasilidade’ no mobiliário e interior das casas.”
Aos 86 anos, em 2014, Sérgio Rodrigues deixa-nos tendo exercido actividade praticamente até ao fim da sua vida, deixando assegurados os direitos de produção de suas peças desde 2001. Nas palavras do designer “O móvel não é só a figura, a peça, não é só o material de que esta peça é composta, e sim alguma coisa que tem dentro dela. É o espírito da peça. É o espírito brasileiro. É o móvel brasileiro.”
Que tal, vai render-se e dar ao seu espaço uma das 60 poltronas Mole do Pai do Design Brasileiro? •