O dia 15 de Outubro de 2019, concretamente, o final da noite, reservaria ainda uma Lágrima do Mondego.
“…a última paixão
Coimbra de saudade eterna,
Entre o Mosteiro e os laranjais,
No Mondego leva lágrimas de Pedro,
Na Sé, guitarras dedilham ais.
Em tua memória,
Doce e amada Inês,
Cindazunda chora por nós,
Um cálice, pétalas da rosa,
Escreveria Diniz, uma Cantiga,
Ébrio, por sua voz …”
Rosa Lopes Ribeiro
Não será em vão que o gosto se cruza com a arte de forma inescapável, tal como Pedro Figueiredo o afirmou tão convictamente; destarte, o final da noite de 15 de Outubro passado traria Rosa [Lopes Ribeiro] e a sua Lágrima do Mondego alojada numa elegante garrafa. O líquido encantou-me, porque me nutriu; por outro lado, questionei-me sobre quem seria a sua obreira, um ser jovial que acredita na arte como engendradora do mundo, tal como o deixou plasmado na Tertúlia sobre Arte que abriu, como já aqui foi dada notícia, a Residência Artística decorrida no Conímbriga Hotel do Paço, em Condeixa-a-Nova.
10 de Novembro, Ruínas de Conímbriga: momento em que se começaria a levantar um, apenas, dos véus. Rosa Lopes Ribeiro traria consigo o Rei e a Rainha em duas magníficas garrafas de cerâmica feitas por Fernando Carvalho em Cernache e pintadas em Coimbra por Luís, com base num desenho original saído da sua mão. O Rei é azul e a Rainha é rosa, por uma razão: ambas as garrafas, na sua pintura, remontam à louça do século XVII, mas a azul é de Coimbra e a rosa pertence a Conímbriga, o que instala o Rei na cidade do(/a)s estudantes e a Rainha em pleno passado romano, ou melhor, a acompanhar Cindazunda na sua fuga. Por tal, podemos por aqui adivinhar que a história de Lágrima do Mondego apresenta uma linha de corte que avança de Roma, passa pelo Condado Portucalense, instala-se no Reino de Portugal e abraça o nosso País integralmente. Donde, as palavras-poema que abrem este retrato, da autoria de Rosa, marcam o compasso da saudade, sim, mas transpõem o “fado” como canção, para acentuar a sua qualidade de destino, caminho, predestinação, percurso.
O Rei é um aperitivo e a Rainha é um digestivo, lágrimas feitas integralmente por Rosa. São licores, perguntei? Não: são Lágrimas! E Rosa lembra António Gedeão: “água quase tudo e cloreto de sódio.” A seguir virão as Lágrimas de Portugal, compostas pelas do rio Mondego que desaguam no Mar. Rei e Rainha, alojado/as nas suas magníficas garrafas de cerâmica, assumem a forma de guitarras (fado!…) que, ao colocarem-se lado a lado, proporcionam um encaixe imaginário na forma de coração, o que dá derradeiramente conta da paixão: a do projecto e a de Rosa Lopes Ribeiro. E é ela quem afirma: “Eu sou uma mulher. E adoro ser mulher.” E adora, também: a cidade (de Coimbra), a História, a Portugalidade, a própria Paixão. Nesta temperatura nascem a Lágrima do Mondego, cujo apoio inicial veio da Fundação Inês de Castro, onde foi aliás apresentada, e, claro, as Lágrimas de Portugal.
Belas-Artes (Pintura), um sonho não concretizado; Química, uma realidade efectiva; Jornalismo, a prática apaixonada; Assessoria, um caminho que interrompeu; “Lágrimas”, a síntese de um percurso. Rosa Lopes Ribeiro navega com as ninfas do Mondego, convive com Estrela e Diego na Serra da Estrela, dá a mão a Cindazunda na sua fuga para Coimbra, acompanha o Mondego até desaguar na Foz da Figueira, chora a par de Pedro, escreve com Diniz e ama as rosas de Isabel. As suas “Lágrimas” assentam essencialmente na “laranja”, já que Coimbra é a cidade dos laranjais poeticamente falando. A receita: SEGREDO!