From Atomic: “Deliverance”

Na duração íntima, onde, em cada átomo que nos forma, vive o passado, o presente e o porvir, cada ‘agora’ é a simultaneidade que se converte em ‘imagem-cristal’, unidade indivisível da imagem virtual e a imagem actual.” Rafael Godinho, introdução da obra Gilles Deleuze, A Imagem-Tempo, Cinema 2.

Os From Atomic são uma banda conimbricence nascida de um desafio de Alberto Ferraz a Sofia Leonor a fazerem algo em conjunto, aos quais se juntou mais tarde Márcio Paranhos, formando-se assim este núcleo q.b. ‘atómico’. O núcleo deu o Bing Bang em 2018 e apresentam-se, filosoficamente, com a citação acima.

O seu som reflecte influências de Yeah Yeah Yeahs, The Jesus & Mary Chain, Cocteau Twins, The Cure, DIIV, Siouxsie & The Banshees, Joy Division, The Raveonettes ou Sonic Youth, buscando muito do ‘post punk’ britânico da década de 80, mas também algo do ‘indie noise’ da década seguinte. No entanto, ao escutarmos os From Atomic encontramos um som com marca própria, crua mas firmemente apoiada em melodias pop.” Tudo facilmente perceptível no final da audição das onze músicas que compõem este trabalho de originais que aqui nos traz, a esta nota.

A urgência das palavras com que Sofia Leonor (voz e baixo) nos interpela, expõe a narrativa minimalista que se funde nas melodias ruidosas de Alberto Ferraz (guitarra). O ciclo fecha-se com uma fundação rítmica viciante e feroz, a cargo de Márcio Paranhos (bateria), que enquadra uma atmosfera simultaneamente negra e luminosa.

No ido maio de 2018 lançaram “Heaven´s Bless”, uma música que despertou curiosidade no panorama musical nacional. Ganhou espaço em rádios como a RUC e Antena 3, foi incluído na colectânea “A date with Gliding Barnacles” (Lux Records) e integrado no CD Novos Talentos FNAC 2019. Era o prenuncio do que hoje temos, um álbum consistente, seguro, que levou tempo no forno, mas que vem para ficar, para ser ouvido e re-ouvido e para não ser perdido, nos palcos.

Hoje, 27 de março de 2020, dois anos depois do Bing Bang Atómico forma-se um disco que é lançado para o espaço em rotações sem fim. É seu primeiro álbum sob o nome “Deliverance”, com o selo da Lux Records. “Deliverance” foi gravado e produzido nos estúdios da Blue House por Henrique Toscano e João Silva (Birds are Indie e a Jigsaw, respectivamente), tem mistura e masterização de João Rui (a Jigsaw), contando ainda com colaboração de Rui Maia (X-Wife, Mirror People) numa música.

Nas palavras dos From Atomic, “Deliverance” “apresenta-se como uma descida às profundezas inerentes ao processo de concepção de identidade. Intemporais, as palavras reagem ao impulso incontrolável de procurar entender como sentir e aceitar o mundo. Ao expor as fragilidades que tanto nos atormentam, ousamos acreditar que o que nos rodeia poderá não ser (inteiramente) real. Um sentimento de alienação corre nas veias de cada verso e cada compasso. O conflito é palpável à medida que descemos essa escuridão, mas a representação daquilo que nos define, desaba na vontade de sentir que há escolha, que podemos de alguma forma mudar a nossa natureza. O ímpeto que circunscreve este primeiro álbum é uma confrontação constante com o nosso reflexo e instiga o passado a suspirar ao ouvido, enquanto golpeia as memórias que nos escorrem pelas mãos.

Estas são as datas de abril e maio, mas que, devido ao momento que atravessamos, muito provavelmente poderão sofrer re-agendamentos. Todavia, não as iríamos deixar de divulgar:
23/04 – Lounge, Lisboa.
25/04 – Alfaris, Monchique.
25/04 – Fnac, Guia, Albufeira.
14/05 – Discoteca Asklepios, Valladolid (ES).
15/05 – El Cercano, Ourense (ES).
16/05 – Festival Fa Ce La, Lugo (ES).

A ouvir, o álbum. A não perder do radar este trio e seus concertos. •

+ From Atomic
© Fotografia: João Azevedo.

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