Corpo Clandestino é um lugar de fala de sete intérpretes. Os corpos de Ana, Andreia, Gaya, Joãozinho, Mafalda, Paulo e Valter são veículos de identidade: produzem imagens que entram na mente de quem os vê numa reflexão do próprio papel do corpo na dança. Corpo Clandestino traz a palco o que habitualmente não é visto em cena num espetáculo de dança. A criação de Victor Hugo Pontes é apresentada na Culturgest, em Lisboa, neste mês de fevereiro.
Um exercício de deslocamento e recomposição: coloca-se em cena o que habitualmente não é de cena; ajusta-se a atenção; encaixam-se peças físicas singulares. Em palco, estão intérpretes cujos corpos não-normativos lançam o espectador na paisagem de um corpo de baile, configurado por oposição a classicismos e ideais. Em palco, está afinal um só corpo, formado por sete peças verdadeiramente únicas.
Esta criação de Victor Hugo Pontes acompanha o mecanismo de Kafka em A Metamorfose: o ponto de vista do espectador será o ponto de vista dos próprios intérpretes, à medida que tomam consciência da sua condição diferente e estão em palco enquanto tal. Só assim poderá ser verdadeiramente questionada a normatividade dos corpos do século XXI. Victor Hugo Pontes quer evitar as perspectivas redutoras e padronizadas, focando-se no desencadeamento do surgimento de um novo olhar sobre a diferença, quer impelir o espectador a construir uma visão individual do espectáculo, depois de acomodar as suas dúvidas, hesitações e incompreensões.
Corpo Clandestino repensa a normatividade dos corpos, propondo um caminho de comunicabilidade e partilha, alternativo a perspetivas reducionistas, padronizadas e inúteis.
O espetáculo foi desenvolvido em Setúbal por Victor Hugo Pontes em residência artística dinamizada a no âmbito da plataforma de criação artística da Câmara Municipal, Rota Clandestina, com direção artística de Renzo Barsotti.
“Quando confronto os espectadores com estes corpos, estou a colocá-los não diante de um espelho directo, mas diante um espelho indirecto. É sermos confrontados com nós mesmos, mas de outra maneira.” Victor Hugo Pontes
A não perder, na Culturgest, nos dias 16 e 17 de fevereiro, às 21:00, no Auditório Emílio Rui Vilar. •