“Merda d’Artista” e Inteligência Artificial

Embalada em 90 latas no ano de 1961, esta proposta tem sido interpretada como gesto de iconoclastia, acentuação do niilismo ou denúncia do capitalismo, ainda provocando espanto e pensamento.

Um/a artista trabalha, parece-me e sobretudo, a partir de dentro. Por outro lado, a transcendência é uma marca humana inegável que se inscreve na própria verticalidade que envergamos: são os seres humanos, todos sem exceção, linhas verticais em face do plano horizontal terrestre. Quanto a esta verticalidade, quem pode afirmar que se trata de natureza ou, por outro lado, de um ato de diferenciação cultural? Porque é muito diferente pensar-se que o Mundo nasce quando cada um de nós vem a ele, e de acordo com a falha histórica monumental quanto ao que a memória coletiva poderia proporcionar podemos jogar pelo seguro, e concluir que o Mundo tem sensivelmente cinquenta anos, ou encarar a realidade como ela é e assumir que a Terra excede os seres humanos em Tempo e o Mundo já existia quando nasci.

Mas a verdadeira questão com que gostaria de vos deixar hoje, mais conceito menos conceito agora não tem aqui cabimento, é a de sabermos se a IA, leia-se Inteligência Artificial, conseguiria produzir “merda” similar à que Piero Manzoni nesta ‘obra de arte’ utilizou. E se Marcel Duchamp espetou aquilo a que José Gil chama de espinho na arte sensível, através do ready-made e especialmente no que concerne à “Fonte”, sem dúvida que Piero Manzoni tomou à letra o WC como paradigma da fábrica dos artistas. Portanto, esperemos pela instituição do Complexo Manzoni aplicado à IA.

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