“Desde que ando pelos Himalaias, sempre ouvi que quem escala o Evereste ganha fama mundial, mas só é um alpinista verdadeiro quem alcança o cume do K2” (João Garcia in K2 – A Rainha das Montanhas, 2025)
Desde há muitos anos que, nas nossas viagens, os meus pais e eu temos um grande gosto pelas caminhadas de dia inteiro. Porém, em 2021, tinha eu 12 anos, quando o meu pai e eu subimos ao pico mais alto da Península Ibérica, o Mulhacèn, com 3478 metros de altitude, este gosto tomou outras alturas, pois no momento em que se alcança novo marco, o nosso instinto é o de querer mais e mais.
A partir deste momento, começámos a procurar outros picos nos Alpes, nos Pirinéus, na Córsega… e claro, eu sonhava que um dia iria chegar a vez dos Himalaias e os seus picos de 8000 metros (os meus pais já se encontravam numa idade avançada, infelizmente). Nessa altura, confesso que só conhecia o Evereste e os seus 8848 metros de altitude. No entanto, após alguma pesquisa, apercebi-me de que o verdadeiro desafio residia no K2, cume localizado na cordilheira do Karakorum, na fronteira entre a China e o Paquistão.
Lembro-me também de o meu pai me ter falado do João Garcia, alpinista português que já subira a todos os picos com mais de 8000 metros do planeta, sem recurso a oxigénio artificial nem carregadores de altitude. Passei então a pensar no dia em que poderia conhecê-lo e fazer-lhe todo o tipo de perguntas sobre estas experiências.

Esse dia chegou na forma do lançamento do seu livro “K2 – A Rainha das Montanhas”, escrito juntamente com o jornalista Aurélio Faria, no passado dia 23 de outubro. Claro está, marcámos presença, pois tencionávamos adquirir o livro, para percebermos como era alcançar o cume do K2. Afinal de contas, não fazíamos a mínima ideia do que nos esperava.
No entanto, posso garantir que nem nos meus sonhos mais loucos imaginava a dimensão de tal jornada. Não só as dificuldades técnicas sentidas, como toda a logística necessária. Em 2007, ano da conquista do K2 pelo João Garcia, não havia ainda empresas a vender subidas a este cume, portanto, cada expedição tinha de organizar a chegada de mantimentos ao Campo Base (5150 m), transportados por carregadores paquistaneses.
Além disso, passei a compreender melhor o processo de aclimatação à altitude e à falta de oxigénio e também a “escola da paciência”. Ou, em português corrente, mais de um mês à espera de um sequência de quatro ou cinco dias de bom tempo, o necessário para chegar ao pico e descer em segurança, pois de pouco serve alcançar o cume se não se sobreviver para contar a história.
História essa que, neste caso, resultou num belo livro, repleto de curiosidades acerca da cordilheira do Karakorum. Houve também espaço para que João Garcia transmitisse alguma da sua experiência como alpinista, através do papel.
Faço votos de que possam vir a utilizar parte dos conhecimentos que adquiri com este livro no futuro, apesar de os tempos mudarem e já haver empresas que vendem subidas ao K2 e a outros picos nos Himalaias como quem vende marsúpios, o que já resultou em engarrafamentos nalgumas passagens rumo ao cume do K2 nos últimos anos, como desabafa o alpinista no final do livro.
Assim sendo, fico contente por todos os que puderam experienciar este e tantos outros picos no seu esplendor natural.
Boas leituras!


