A busca por conhecer o estado mais novo do Brasil levou um coletivo de fotógrafos a percorrer 4.000 km por Tocantins. Trouxeram na bagagem, além de muitas imagens, histórias de uma população que parece viver em um tempo e espaço imaginários.
A viagem começou em Palmas, capital do estado e centro do país, e depois avançou para as outras cidades. “Seria impossível documentar todo o território de mais de 300 mil quilômetros quadrados do estado, por isso propomos um itinerário que abarca as cinco regiões”, revela Filipe Redondo, um dos fotógrafos da Trëma, em entrevista sobre o trabalho que foi realizado no mês de janeiro deste ano.
O roteiro incluiu o destino turístico mais conhecido de Tocantins, o Jalapão, com suas dunas, cachoeiras e fervedouros, espécie de poços de água cristalina escondidos pela vegetação. Para chegar até ali é preciso percorrer 160 quilômetros em estrada de terra, revelando a pouca estrutura nas estradas do interior do estado, criado em 1988. Esta dificuldade de acesso faz com que este local ainda permaneça um oásis para os turistas que ali se aventuram.
No lado oposto ao Jalapão, no oeste, fica a Lagoa da Confusão, que dá nome a este trabalho. Ali, algumas histórias contam que a dificuldade dos pioneiros em chegar ao local está na origem do nome dado àquele pedaço de terra, que reúne pessoas em busca de diversão onde a única certeza é que tudo acaba em forró aos finais de semana.
A cidade de Wanderlândia, no norte de Tocantins, que também está no título do trabalho, fica entre a floresta amazônica e o cerrado, vegetação típica do centro do Brasil. O lugar atualmente é marcado pelos conflitos de terra, e já foi palco da Guerrilha do Araguaia na década de 60, onde guerrilheiros planejavam uma revolução socialista em pleno regime militar. Vive ali Antonio Alves de Oliveira, torturado por tentar alimentar alguns guerrilheiros que viviam próximo de sua terra naquele período sombrio do Brasil.
Mais do que revelar lugares, o trabalho dos fotógrafos apresenta histórias de pessoas que foram os primeiros habitantes dali, e de seus herdeiros, que vivem sob tradições recentes, vindas de outras culturas de diversas partes do Brasil. Um prefeito colombiano que comanda a capital do Estado, um sargento que é também pastor de igreja, um ex-piloto de aviação comercial, uma senhora que estoca alimentos para um futuro apocalíptico, e até a primeira pessoa nascida em Tocantins, foram alguns dos personagens encontrados e fotografados pela Trëma e que reforçam o quebra-cabeça cultural que é esta região brasileira.
Outros detalhes fotografados também ajudam a compor a visualidade deste lugar desconhecido até mesmo por muitos brasileiros. Uma estátua de Cristo Rei ainda por concluir, letreiros coloridos, ruas vazias e uma extensão de terra a perder de vista, nos apontam para um território que ainda constrói sua identidade, suas fronteiras culturais e sobretudo sua história.
+ Lagoa da Confusão: Wanderlandia
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