O património arquitetónico e a identidade cultural nacionais têm um nome de referência, também ele português, detentor de um extenso e mui importante currículo convertido num livro aberto no Museu do Design e da Moda, em Lisboa.
Cervejaria Solmar, Lisboa, inaugurada em 1956 / Arquitetura de interiores / Estado actual: Preservado
Livros, fotografias e cerca de 90 peças de mobiliário fazem parte da recém-inaugurada exposição no MUDE – Museu do Design e da Moda, em Lisboa: “José Espinho. Vida e obra”. O nome diz tudo ou não fosse esta uma mostra que retratasse a vida de um dos pioneiros do design português cuja obra vai da arquitetura de interiores ao design de produto – aqui com particular referência à Olaio, empresa de móveis de cunho português, da qual foi consultor de estética industrial entre 1950’ e 1970’ –, passando pelo design expositivo e o gráfico – com especial atenção para o logótipo da Torres Joalheiros –, a edição e a ilustração – esta duas últimas desenvolvidas enquanto funcionário da Câmara Municipal de Lisboa.
Segundo Bárbara Coutinho, diretora do museu, esta “é uma das exposições centrais deste ano” depois das mostras dedicada a Eduardo Afonso Dias, designer, e a Miguel Arruda e António Garcia, ambos com reconhecimento merecido nas áreas do design e da arquitetura. Por essa razão, aceitou o desafio de Maria José Espinho Galamba, filha de José Espinho, e do arquiteto e designer industrial Carlos Galamba, o genro, e avançou com a exibição de tão pertinente acervo iconográfico e mobiliário, o qual nos convida a viajar entre as décadas de 1940’ e 1960’.
Grande Hotel da Figueira, Figueira da Foz, inaugurado em 1953 / Arquitetura de interiores em coautoria com o arquiteto Inácio Peres Fernandes / Estado atual: Remodelado
No fundo, a mostra ora apresenta objetos pessoais de José Espinho, nascido em Beringela, terra do concelho de Beja, no ano de 1915, em paralelo com fotografias que retratam a camaradagem de então tendo, como amigos, o arquiteto Daciano da Costa, António Garcia ou José Sousa Braga, “nomes ligados à indústria daquela época”, nas palavras da curadora da exposição Graça Pedroso; ora parte do mobiliário por ele desenhado, o qual se encontra patente, em paralelo com imagens que mostram muitos dos interiores que concebia em papel, como o Hotel Alvor, em terras algarvias, o antigo Hotel da Ericeira, actual Vila Galé, junto à praia, o Grande Hotel da Figueira, agora Mercure, na Figueira da Foz, o Hotel Estoril-Sol, no Estoril, o Hotel Ritz e o Hotel Tivoli, a sapataria Hélio (a do Chiado), a Cervejaria Solmar, o Cine-Teatro Monumental e a pastelaria Mexicana (recém-remodelada e apresentada como restaurante e taberna), em Lisboa, entre outros espaços. Ao longo deste período dedicado ao design de interiores, José Espinho – que fora considerado o melhor aluno da Escola António Arroio, além de que, desde cedo que denotava ser um artista, “só não se sabia que ia ser uma designer”, diz Graça Pedroso – passou do neo-rústico para o modernismo, uma evolução que também se deveu às viagens que fazia além fronteiras – quatro por ano –, com o intuito de manter-se atualizado e trazer boas novas na bagagem contribuindo, assim, para o incremento da referida disciplina em Portugal.
E, na realidade, todos esse espaços refletem uma arquitetura de interiores moderna e urbana, apesar de, na sua maioria estarem desvirtuados ou terem sido demolidos, motivos de sobra para Bárbara Coutinho concretizar esta exposição no sentido de os homenagear e, ao mesmo tempo, “chamar a atenção para os lugares que ainda existem”. Até porque “José Espinho é muito mais do que a Olaio, daí que esta exposição seja absolutamente necessária”, salienta a directora do MUDE.
A mostra, intitulada “José Espinho. Vida e obra”, encontra-se no piso 3 do MUDE – Museu do Design e da Moda, em Lisboa, desde o passado dia 11 de dezembro e permanece de portas abertas ao público até 17 de abril de 2016, de terça a domingo, das 10 às 18 horas. A entrada é livre. A ir. •
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