“Desenho sem fim”, Rui Chafes / CIAJG

“Desenho sem fim”, de Rui Chafes, junta-se às exposições de João Cutileiro e José de Guimarães completando, assim, o último ciclo expositivo deste ano do Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG).

Revelar grupos de trabalho inéditos ou menos conhecidos de artistas centrais do panorama artístico em Portugal, contribuindo assim para elucidar e ampliar o conhecimento dos respetivos percursos, tem sido uma das estratégias de programação do CIAJG, tal como tem constatado na divulgação Mutante. Neste último ciclo expositivo de 2018, em três novas e extensas exposições, especificamente produzidas para o espaço do Centro, lança-se um olhar retrospetivo sobre os anos iniciais do trabalho de João Cutileiro, altura em que, entre Londres e Évora, redefiniu a prática da escultura em Portugal; resgata-se do atelier de José de Guimarães um conjunto de pequenas esculturas nunca antes mostradas que desvelam uma rara prática experimental e processual; e visita-se um dos mais secretos segmentos de trabalho ainda por conhecer como um todo, a produção em desenho de Rui Chafes – luminosa revelação de um imenso e denso universo de fantasmas e formas.

O desenho é na obra de Rui Chafes o lugar do segredo e do intervalo. Surge normalmente em períodos de pausa, mais ou menos longos, na prática da escultura e desenvolve-se ao longo de todo o percurso do artista. Em “Desenho sem fim”, o CIAJG lança um olhar retrospetivo sobre uma produção que começou de forma consistente em 1987 e que prossegue até aos dias de hoje.

De diferentes formatos, sobre papéis diversos, realizados com materiais tão diversos, ortodoxos ou heterodoxos, quanto a grafite, o guache, o chá, o pó do atelier, o pólen de flores ou remédios vários, tais como o mercurocromo ou a tintura de iodo, feitos com uma linha no limite da visibilidade ou com manchas generosas que se expandem na folha de papel, o alargado e extenso conjunto de desenhos reunidos para esta exposição oferece uma renovada visão do trabalho de um artista essencialmente conhecido pela produção em escultura.

Entre a escrita, o método, o pensamento ou o esquecimento, os desenhos de Rui Chafes são, por vezes, exercícios sistemáticos de criação de estruturas ou dispositivos de pensamento a partir de determinada forma e, outras vezes, visões de mundos orgânicos, de entidades vegetais, biológicas ou animais, em que a linha tem a capacidade de se transformar, ou desfazer, convocando forças xamânicas de cura e poderes propiciatórios e divinatórios. Naturalmente ligado aos acontecimentos da vida do artista, estes desenhos surgem como o resultado de uma sismografia, registando os seres, os lugares, as energias, os momentos de felicidade e de desgosto, os dias de frio e de calor, a memória e o desejo, fazendo emergir o passado à superfície do papel ou antecipando aquilo que está por vir.

“Desenho sem fim” tem curadoria de Delfim Sardo e Nuno Faria, e tem inauguração, com entrada livre, marcada para o próximo dia 08 de Dezembro, pelas 18h00, podendo ser visitada até 10 de Fevereiro de 2019, juntamente com as exposições “Constelação Cutileiro” e “José de Guimarães / Da dobra e do corte”.

Rumamos a Guimarães? •

CIAJG
© Imagem de destaque: Rui Chafes.

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