Entre 01 e 04 de agosto o AURA Sintra regressa ao centro histórico da Vila com 10 obras de luz originais, onde se destacam o videomapping, instalações audiovisuais interativas, esculturas de luz e biomiméticas que permitem aos visitantes um percurso de espanto no espaço público. Durante a noite, a paisagem histórica de Sintra, classificada como Património Cultural da UNESCO, é transfigurada pela arte da luz.
Em 2019, o AURA Sintra traz novidades, a começar no AURA Lounge, uma estrutura em cúpula com 10 metros de diâmetro que, entre 01 e 04 de agosto, apresenta uma programação de vídeo e áudio e projeções a 180 graus. A 5.ª edição do AURA Sintra inaugura também um espaço de encontro entre os artistas e o público, nas AURA Talks, que acontecem a 03 de agosto, sábado, entre as 16h00 e as 19h00.
Esta edição do AURA Sintra inicia um ciclo de programação artística, até 2021, dedicado à conexão entre a Arte da Luz e o Meio-Ambiente, e de como humanos e não humanos se relacionam numa multiplicidade de interdependências. Todas as intervenções do AURA Sintra necessitam da obscuridade da noite para poderem ser vistas e apreciadas. É assim que a luz se constitui como linguagem para entender o mundo.
A saber, os artistas e instalações que poderá ver e deliciar-se este ano:
1. Markus Jordan (Alemanha) – Digital Landscape / Azinhaga da Sardinha – Volta do Duche.
Markus Jordan é um alquimista da luz. A partir do seu laboratório cria meticulosos objetos esculturais , mas também intervenções de grande escala. Interpelando o efeito dramático e virtual da luz, Jordan vai criar em Sintra uma peça produzida de forma artesanal que interpela o visitante através de um jogo revelador das fronteiras ilusórias entre um registo analógico e digital. Um jogo de ilusão ótica entre fios fluorescentes de algodão que formam uma rede de conexões triangulares, simulando uma imagem – paisagem criada por um algoritmo.

© GAIA at Bluedot, Luke Jerram
2. Luke Jerram (Reino Unido) – GAIA / Largo do Museu Anjos Teixeira.
Luke Jerram é um conceituado artista inglês, criador de peças que integram a coleção do Metropolitam Museum of Art (Nova Iorque ) e a Wellcome Collection (Londres). Sendo conhecido mundialmente pelas obras de grande escala, o seu trabalho cruza a ciência aplicada, a escultura e a instalação. Jerram apresenta uma esfera com sete metros de diâmetro que reproduz uma imagem de satélite (NASA) da superfície terrestre, com uma definição de 120 dpi – uma oportunidade única para ver o globo terrestre flutuante e em 3D. No ano em que se comemoram os 50 anos da chegada à Lua, esta instalação convoca o Overview Effect descrito por Frank White em 1987, a propósito da primeira visão da Terra pelos olhos dos astronautas americanos quando, em 1968, exatamente 75 horas, 48 minutos e 41 segundos depois da nave Apollo 8 ter descolado do Cabo Canaveral (EUA), a Terra foi, pela primeira vez, observada do espaço. A experiência provocou uma profunda comoção. O globo parecia isolado, uma pequena ilha de vida suspensa no espaço. As imagens da superfície terrestre mostram o planeta como um ecossistema uno e indivisível, em que a sensação de pertença e a interdependência entre os sistemas constitutivos da vida no planeta, renovam a responsabilidade humana e a crescente preocupação face às questões ambientais. Esta obra foi criada em parceria com as instituições científicas inglesas Natural Environment Research Council (NERC), Bluedot e The Association for Science and Discovery Centres (ASDC). A paisagem sonora é da responsabilidade do artista Dan Jones, compositor vencedor de um BAFTA.
3. DJ Johnny (Angola/Portugal ) – Colmeia (4 noites | 4 djs | 4 video jammers) – Full Dome Projections / Aura Lounge – Volta do Duche.
Disse Albert Einstein que “se as abelhas desaparecerem da face da Terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência. Sem abelhas não há polinização, não há reprodução da flora, sem flora não há animais, sem animais, não haverá humanos”. É desta ideia que surge o programa COLMEIA. Os modos de sustentabilidade e de sobrevivência das colmeias permitem-nos estabelecer uma analogia direta contrastante com a presente insustentabilidade das opções humanas. O trabalho coletivo desenvolvido em COLMEIA estimula-nos para pensarmos na responsabilidade que os seres humanos devem assumir face aos habitats constitutivos do planeta Terra. Num só movimento, os humanos podem desencadear novos ciclos de destruição, capazes de levar à extinção de inúmeras espécies; e num só movimento, também, a extinção pode alargar-se para além do imaginado e replicar-se contra o poder destrutivo dos próprios agentes humanos que a desencadearam. COLMEIA apresenta-se como um símbolo de respeito ao poder desses ciclos naturais do planeta Terra, desvelando atmosferas imagéticas e sonoras (vídeo e áudio) que equacionam caminhos: o que nos leva à preservação dos ciclos naturais e o que nos encaminha para a extinção.

© Rainbow, Torsten Muhlbach
4. Torsten Muhlbach (Alemanha) – Rainbow / Miradouro dos Castanheiros. Tornsten Muhlbach planta literalmente um arco-íris no Jardim dos Castanheiros, tangível e contrastante com a noite escura. Muitas vezes, durante o tempo chuvoso, podemos descobrir um arco-íris no céu. Este fenómeno é causado pelo sol, caso as condições sejam adequadas. A luz natural é fracionada nas diferentes cores que a compõem, e estas são visíveis na forma de um arco. Numa linguagem pop-art, o artista recria simbolicamente o espanto pelos fenómenos atmosféricos de luz e cor, construindo artificialmente a ilusão de acesso a um portal, a uma dimensão universal da comunidade terrestre… Aludindo à referência simbólica das cores da comunidade ativista LGBTQIA, o arco-íris é feito artificialmente com água, pulverizada e atomizada como um nevoeiro, recorrendo a uma única fonte de luz branca. Quando o visitante se posiciona num ponto específico, com a fonte lumínica nas suas costas, pode então ver a luz dividida nas suas cores e um arco-íris irá aparecer.
5. Matthieu Tercieux (França) – Moon Flower / Miradouro dos Castanheiros.
Moon Flower ou Flor da Lua é uma instalação vídeo interativa que apela à participação do público para desocultar criativamente o prazer da descoberta de novas leituras do mundo. Embrenhados na noite de Sintra, os visitantes farão nascer flores sobre uma parede vegetal projetada sobre um muro de pedra, manipulando lasers que lhes serão entregues para realizar a sua experiência. Das flores da lua irão ainda eclodir palavras e frases que se transformam em animações poéticas e mágicas apenas com o simples movimento do laser na superfície de projeção.
6. Oskar & Gaspar (Portugal) – O Nosso Mundo Chegou ao Fim? / Palácio Nacional de Sintra.
Num cenário mágico e irreal, a experiência digital que se pretende proporcionar ao público assenta numa visão artística do instável equilíbrio dos sistemas vitais que suportam a biodiversidade no planeta. “O nosso mundo chegou ao fim?” – é esta a frase repetidamente visualizada num fluxo interminável de informação distópica marcada pela pop-culture e que mostra apocalipses, colisões planetárias e catástrofes naturais de grande escala. Esta afirmação encontrou também eco nos geólogos – na chamada era do Antropoceno, em que os sistemas naturais da Terra passaram a ser impulsionados pelas atividades humanas. Esta é também a era em que os fenómenos meteorológicos, o degelo polar, os incêndios florestais ou o aquecimento global, atingem extremos de destruição inéditos na história recente. A partir da premissa otimista de que precisamos de visões alternativas para o futuro, visitamos as imagens subjetivas, flutuantes e instáveis da arte visionária da OSKAR&GASPAR através dos mapeamentos vídeo que nos capacitam para resgatar a esperança.
7. Grandpa ́s Lab (Portugal) – Weatherfall / Igreja de São Martinho.
Trata-se de um projeto interativo onde o espectador é o protagonista que define a dinâmica da obra e os seus ritmos. A água é um elemento material que tem a capacidade de conectar a experiência do mundo com um sentido profundo de transformação e mudança. A relação das comunidades com a água e a ontologia do meio líquido alude à contaminação, à mistura, à fusão de materiais e à recodificação permanente de memórias. Da arte à tecnologia e à ciência, dos problemas ecológicos a uma consciência da comunidade terrestre, sem distinções entre humano e não-humano, a água é o próprio princípio da vida – necessidade vital entre o seu aproveitamento enquanto simples recurso ambiental ou metáfora fluida de morte e transformação. Numa experiência partilhada, os intervenientes serão surpreendidos pela experiência inclusiva enquanto atores principais.
© O nosso mundo chegou ao fim?, Oskar & Gaspar
8. Alfred Kurz (Alemanha) – Heartbeat / Museu Ferreira de Castro.
A projeção de vídeo “Heartbeat” é apresentada na chaminé do Museu Ferreira de Castro. A forma particular e única desta chaminé permite uma projeção circular perfeita. No caminho romântico que nos conduz à Quinta da Regaleira, este edifício histórico alberga a memória de um dos grandes escritores portugueses ligado à vila de Sintra. A síncope dos passos do visitante sintoniza-se com as batidas do ritmo cardíaco, acompanhando esse caminho de descoberta e aventura sempre marcado pelo transe do amor à Serra, à sua paisagem e aos jogos de luz e sombra sempre pulsantes, também, nas histórias de amor.
9. Kosuta | Sérgio Costa (Portugal) – Criaturas Marinhas / Largo Carlos França.
Esta instalação audiovisual pretende alertar para os comportamentos dos humanos face aos ecossistemas marinhos. A vida é engolida por dejetos plásticos provenientes de uma condição existencial ecologicamente egoísta e predadora. Este mundo idílico está desprovido de vida animal. Em seu lugar, habitam milhares de resíduos plásticos (garrafas, sacos, rolhas, copos, cotonetes, fios, embalagens e redes de pesca, etc.), que lentamente vão sendo levados pela maré. Por vezes, estes objetos animam-se e aglomeram-se em forma de seres marinhos, como os que em tempos nadaram elegantemente pelas águas – cetáceos, peixes, cavalos marinhos, tartarugas, medusas…
10. Error – 43 (Portugal) – Nasci Nasci / Patamar dos Deuses, Quinta da Regaleira.
Uma escultura biomimética de grande escala, da autoria do coletivo artístico Error – 43, encerra o percurso da edição 2019 do AURA Sintra, na Quinta da Regaleira. O jardim prometido, a ilha no meio do caos aparente, presente na maioria das religiões oriundas do Mediterrâneo, é onde os seres humanos e os outros animais podem viver simbioticamente na natureza. Tendo esta sido transformada num topos danificado e não-contínuo, onde os nossos espaços cinzentos proliferam em detrimento dos processos naturais, constata-se a alteração de todos os ciclos conhecidos. Dever-se-á ao poder dos humanos sobre a natureza ou apenas ao medo? Medo do desconhecido, do incógnito e do estranho. Mas os medos tornam-se mitos e os mitos podem tornar-se dogmas. A casa de Adão no Paraíso é pequena, grande, individual, isolada, fechada, escura, descontínua, tímida, surda – uma prisão; e o silêncio é cego, ousado, censurado, espaço em branco. Nasci Nasci, ou de como Lilith exige o Paraíso e solta nele novas criaturas, organismos que se assemelham à vida e à morte; novas criaturas tecnológicas que imitam a natureza, que vivem graças a ela e morrem por essa sua condição – prótese entre natureza e seres humanos, que permite diálogo e não apenas mais um fardo; pequenos protótipos que abraçam os corpos e não apenas recipientes.
Nasci Nasci significa algo nascido na Natureza e evoca uma nova relação. Explora o que aconteceria se colocássemos um novo organismo tecnológico dentro da natureza, e de que forma poderia um sistema beneficiar o outro, como simbiose perfeita…

© Mapa, AURA Sintra 2019
Para mais informações, basta clicar no link no final desta nota. Não deixe de passar em Sintra, pelo AURA, nas primeiras noites de Agosto. •