Guimarães Jazz 2019

Na primeira quinzena de novembro, o jazz volta a ser a estrela maior na cidade de Guimarães com a presença de protagonistas como Charles Lloyd, Eric Harland, Joe Lovano, Antonio Sánchez, Vijay Iyer, Craig Taborn, Lina Nyberg, Rudy Royston e Andrew Rathbun. Um elenco de luxo que tem de ter lugar especial na sua agenda de outono.

Em 2019, na que será a sua 28.ª edição, o Guimarães Jazz cumpre mais uma etapa de um percurso de quase três décadas de divulgação do jazz de todas as épocas e estéticas, com um critério definido desde a sua origem: a integridade e a qualidade da música e dos músicos que nele se apresentam. O programa desta edição denota, como já bem nos habituou este festival, um grande equilíbrio nas suas escolhas, numa tentativa de alcançar o máximo de amplitude possível na representação das diferentes gerações e estilos que marcam o jazz do presente.


© Joe Lovano, por Jimmy Katz

Se é verdade que o tempo confere ao festival uma dimensão de projeto, implicando necessariamente que ele se construa numa história individual e coletiva, é igualmente importante realçar que o Guimarães Jazz, tal como o género musical a que ele é dedicado, privilegia o momento presente, como se não existisse nem memória nem pré-condicionamento. Nesse sentido, todos os anos o festival é imaginado num quadro que é, atualmente, marcado pela extrema instabilidade das múltiplas circunstâncias externas que o determinam, sendo por isso sustentado em escolhas que, tal como na criação e na improvisação musical, constituem o resultado de um pensamento materializado numa prática à qual se tem de dar resposta em tempo real. Perante ocaso da segunda década do século XXI, caraterizada por significativas transformações ocorridas no parque humano global que tornam incerto o futuro da arte e da sociedade, o programa do Guimarães Jazz propõe, portanto, uma visão baseada não em passadismos inconsequentes, nem em futurismos estéreis e já ultrapassados, mas na estrita pulsação do presente, convocando assim o público para uma experiência que se pretende menos especulativa, e logo mais distanciada e contida, da música contemporânea.


© Geof Bradfield, DR

O programa para 2019, como acima dissemos, espelha um grande equilíbrio nas suas escolhas. É, todavia, impossível não destacar aquele que será o natural protagonista do concerto inaugural – o virtuoso saxofonista Charles Lloyd (07 novembro), um dos grandes músicos vivos do século XX e em pleno fulgor criativo, que regressará ao Guimarães Jazz com um quinteto de músicos notáveis, entre eles o baterista Eric Harland. Além de Lloyd, outra figura de maior desta edição será Joe Lovano (13 novembro), outro saxofonista incontornável do jazz contemporâneo que atuará com o seu mais recente e surpreendente trio, ao lado da notável pianista Marilyn Crispell (dezassete anos depois da sua primeira presença em Guimarães) e do percussionista Carmen Castaldi, o qual expressa uma dimensão mais livre, pessoal e intimista da música de Lovano.


© Antonio Sánchez, DR

A par destes dois incontornáveis nomes da constelação mundial do jazz, o programa da 28.ª edição do Guimarães Jazz apresenta essencialmente três notas distintivas. A primeira diz respeito à predominância de bateristas no alinhamento. Além do já mencionado Eric Harland, que apesar de surgir como sideman de Charles Lloyd, hoje é, incontestavelmente, um dos mais notáveis bateristas do presente, esta edição contará também com a presença do histórico baterista holandês Han Bennink, que se apresentará com aquela que é hoje uma instituição do jazz europeu – a ICP Orchestra (11 novembro) –, e de dois dos representantes de uma geração de instrumentistas num momento de plena afirmação do jazz norte-americano: os também compositores Rudy Royston (15 novembro) e Antonio Sánchez (08 novembro), notabilizado recentemente pela banda-sonora do filme Birdman.


© ICP Orchestra, por Pieter Boersma

O segundo traço distintivo desta edição diz respeito à prevalência de músicos nascidos na década de 70 do século XX, sinal claro de um movimento de afirmação desta geração no tempo presente do jazz. Rudy Royston e Antonio Sánchez são dois desses exemplos mas, em 2019, no Guimarães Jazz atuarão também os pianistas Vijay Iyer e Craig Taborn (09 novembro), provavelmente dois dos mais talentosos e reconhecidos músicos da atualidade, o compositor Andrew Rathbun (16 novembro), representante de uma vertente mais orquestral do jazz que apresentará as suas Atwood Suites, inspiradas na poesia da prestigiada escritora Margaret Atwood (cuja obra tem recentemente conhecido grande visibilidade graças, em grande medida, à série televisiva The Handmaid’s Tale), e, finalmente, o saxofonista de Chicago Geof Bradfield, que atuará com a sua banda em formato quinteto (16 novembro) e, na companhia do mesmo conjunto de artistas, dirigirá os jovens músicos da Big Band e do Ensemble de Cordas da ESMAE (10 novembro), naquele que é um dos projetos-âncora da vertente formativa do festival, e conduzirá as jam sessions e as oficinas de jazz.


© Andrew Rathbun, por Dominic Gladstone

Em terceiro lugar, é de realçar que o Guimarães Jazz continua a alargar os seus horizontes para músicas exteriores ao jazz, bem como para latitudes geográficas distantes do solo nativo norte-americano. No primeiro caso, além da presença da histórica ICP Orchestra, representante da vanguarda do jazz holandês das décadas de 60 e 70 do século passado, cumpre também chamar a atenção para a vocalista e compositora sueca Lina Nyberg (14 novembro), que interpretará, acompanhada pela Orquestra de Guimarães, o último capítulo de uma trilogia musical que é também um comovente, extraordinariamente criativo e politicamente pertinente manifesto em defesa da natureza. No âmbito dos concertos de menor destaque, destaque a não perder a atuação do trio do pianista francês Stéphan Oliva (09 novembro), que contará com a participação do baterista norte-americano Tom Rainey.


© Linda Nyberg, por Miki Anagrius

Um festival Jazz que é tanto mais que concertos, que é um momento que inunda a cidade de um som ímpar, de uma vivência tão especial. Sem mais demoras, o Programa Guimarães Jazz 2019:
07/11, 21h30 – Charles Lloyd – Kindred Spirits; Grande Auditório, CCVF.
08/11, 21h30 – Antonio Sánchez and Migration; Grande Auditório, CCVF.
09/11, 17h00 – Trio Oliva/Boisseau/Rainey – Orbit; Pequeno Auditório, CCVF.
09/11, 21h30 – Vijay Iyer and Craig Taborn – The Transitory Poems; Grande Auditório, CCVF.
10/11, 17h00 – Big Band e Ensemble de Cordas ESMAE dirigida por Geof Bradfield; Grande Auditório, CCVF.
10/11, 21h30 – Miguel Moreira, Lucien Dubuis, Mário Costa, Rui Rodrigues, Valter Fernandes; Porta-Jazz / Guimarães Jazz; CIAJG, Black Box.
11/11, 21h30 – ICP Orchestra; Grande Auditório, CCVF.
12/11, 21h30 – Gustavo Costa, Julius Gabriel, Gonçalo Almeida; Sonoscopia / Guimarães Jazz; Pequeno Auditório, CCVF.
13/11, 21h30 – Joe Lovano Tapestry Trio com Marilyn Crispell e Carmen Castaldi; Grande Auditório, CCVF.
14/11, 21h30 – Lina Nyberg Quintet e Orquestra de Guimarães – Terrestrial; Grande Auditório, CCVF.
15/11, 21h30 – Rudy Royston – Flatbed Buggy; Grande Auditório, CCVF.
16/11, 17h00 – Geof Bradfield Quintet; Pequeno Auditório, CCVF.
16/11, 21h30 – Andrew Rathbun Large Ensemble – The Atwood Suites; Grande Auditório, CCVF.

Actividades Paralelas:
De 04 a 16/11 – Vários locais da cidade, Animações Musicais.
De 07/11 a 09/11, 24h00-02h00 – Jam Sessions – Geof Bradfield Quintet; Café Concerto, CCVF.
De 11/11 a 15/11, 14h30-17h30 – Oficinas de Jazz – Geof Bradfield, Russ Johnson, Scott Hesse, Clark Sommers, Dana Hall; CCVF.
De 14/11 a 16/11, 24h00-02h00 – Jam Sessions – Geof Bradfield Quintet; Convívio Associação Cultural.

Os bilhetes para os concertos e a assinatura do festival já se encontram disponíveis. Para mais informações sobre o Guimarães Jazz 2019, é só clicar no link no final desta nota.

A tomar nota. A ir! •

+ CCVF – Guimarães Jazz
© Fotografia de destaque: Charles Lloyd, DR.

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