Novos sons: “Sabina” / Luca Argel

Dois anos depois de apresentar o viciante e único “Samba de Guerrilha”, Luca Argel está de regresso às edições com “Sabina”, o quarto álbum de originais, onde recupera e homenageia a história e o mito de uma quitandeira que foi símbolo da persistência do racismo após a abolição da escravatura e exemplo da solidariedade de rua que, historicamente, o enfrentou. Os álbuns de Luca continuam a ser, assim, uma lição de história do seu Brasil.

“Sabina” nasce da encruzilhada onde o mito e a história se encontram, resgatando o passado como projeção de todas as lutas do presente.

Um álbum de Luca Argel que nos conta a história de uma mulher de cuja vida se sabe pouco mais além do que aconteceu num espaço de poucos dias, quando subitamente se tornou um símbolo político para depois desaparecer, e voltar como lenda. Sabina teria sido uma vendedora de laranjas num momento histórico de um Brasil recém libertado da escravatura, e às portas da queda do regime monárquico. No meio de uma disputa entre elites imperiais e republicanas, uma simples vendedora de laranjas fez esse caldo entornar pelas ruas da capital do então Império do Brasil. Assim começa esta viagem pelo tempo, seguindo o rasto de uma personagem misteriosa, cuja lenda revela muito sobre a nossa própria natureza e as engrenagens que movem as nossas sociedades.

Se em “Samba de Guerrilha” Luca resgatou a história política do samba, dos seus protagonistas e do papel preponderante que desempenharam na luta contra a escravatura, o racismo, a pobreza e a ditadura militar, em “Sabina” o foco é dirigido ao “corpo encantado das ruas” e aos atores e atrizes da vida quotidiana onde a história se desenrola, constrói e disputa para lá das narrativas oficiais.

“Sabina”, como personagem e lenda das ruas, é símbolo das tensões da pós-abolição e do racismo que se lhe segue, e ao mesmo tempo um exemplo de uma solidariedade popular pouco estudada e relatada, mas que marca indelevelmente o rumo das sociedades em que vivemos. Quem narra os acontecimentos é o historiador brasileiro Luiz Antonio Simas, a quem a atriz luso-angolana Nádia Yracema, cúmplice de Luca Argel no espetáculo “Samba de Guerrilha”, empresta a sua voz.

A viagem sonora pela aventura de Sabina foi editada em Vinil, CD, e plataformas digitais no passado dia 22 de fevereiro de 2023, complementada por uma edição em banda desenhada, ilustrada pelo artista brasileiro Allan Matias.

Este novo trabalho de Luca Argel é apresentado ao vivo no dia 23 de março no b.Leza, em Lisboa, e no dia 26 de março no Novo Ático – Coliseu Porto Ageas, no Porto. E mais palcos se irão alinhar para que se possa ouvir esta nova viagem sonora de Luca, ao vivo.

A ouvir, de fio a pavio. •

+ Luca Argel
© Fotografia: Vera Marmelo.

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