Guimarães Jazz 2024

Em 2024, na sua 33.ª edição, o Guimarães Jazz dá provas da sua reputação e da sua vitalidade através de um cartaz que aposta no jazz criativo e em sincronia com o seu tempo. O alinhamento destaca-se pela defesa da posição autoral dos músicos, pela atual qualidade do jazz nacional, por uma reforçada componente orquestral e por uma natureza comparativamente descentrada da tradição jazzística mais clássica ou purista da maior parte dos projetos presentes no elenco que inclui nomes como Maria Schneider & Clasijazz Big Band, Wadada Leo Smith, Ambrose Akinmusire, John Escreet, Dzijan Emin com Orquestra de Guimarães, Sara Serpa, André Matos, Jeff Ballard e Craig Taborn, Tommaso Perazzo, Marcelo Cardillo, entre muitos outros.

A abertura da 33.ª edição do Guimarães Jazz, a 07 de novembro, será protagonizada pelo quarteto liderado pelo poderoso trompetista Ambrose Akinmusire – de regresso a Guimarães oito anos depois de uma atuação memorável –, o qual se apresentará acompanhado pelo Mivos String Quartet, bem como por quarteto composto por uma produtora de música de dança, um vocalista e um baterista, num formato heterodoxo e praticamente inédito que suscita grandes expectativas.   

Na primeira sexta-feira do festival, dia 08 de novembro, será a vez de subir ao palco um quarteto inédito co-liderado pela vocalista Sara Serpa e pelo guitarrista André Matos (ambos músicos portugueses com uma carreira no circuito jazzístico norte-americano que prestigia o jazz português), os quais surgirão acompanhados por um colaborador habitual (o experiente baterista Jeff Ballard) e por Craig Taborn, um dos grandes pianistas de jazz contemporâneos que valerá certamente a pena reencontrar.  

No sábado da primeira semana, a 09 de novembro, está prevista uma programação dupla: durante a tarde, será possível ouvir o prestigiado grupo de percussão português Drumming – um ensemble excecional de músicos que tem desenvolvido ao longo das últimas duas décadas uma obra impressionante de interpretação de repertório erudito e de fusão do mesmo com o jazz, que neste concerto se apresentará em colaboração com o pianista Daniel Bernardes numa re-visitação e homenagem ao compositor György Ligeti, reconhecidamente um dos mais influentes do século XX; à noite, no palco principal do festival, apresentar-se-á o primeiro dos projetos puramente orquestrais desta edição: a reputadíssima compositora e arranjadora Maria Schneider, um dos nomes maiores do jazz orquestral da atualidade, regressa a Guimarães para uma revisitação retrospetiva da sua obra dirigindo a Clasijazz – uma orquestra andaluz criada recentemente e formada por um naipe de músicos competentes da cena jazzística espanhola. 

Depois de uma primeira semana marcada pela diversidade de estilos e formatos, a segunda semana abrirá a 14 de novembro com aquela que é, pela dimensão colossal da sua obra e percurso musical, sem dúvida a grande figura de cartaz do Guimarães Jazz 2024 – o trompetista Wadada Leo Smith, um músico fundamental dos últimos cinquenta anos que, em Guimarães, se apresentará em quinteto para um concerto que se antecipa histórico. No dia seguinte, dia 15 de novembro, o público assistirá à atuação do trio liderado por John Escreet, um pianista portentoso e imprevisível cuja evolução e amplitude criativa justifica a sua atuação pela primeira vez em nome próprio neste palco, naquele que poderá ser um dos momentos altos do festival. A acompanhar o pianista estará uma secção rítmica composta por Eric Revis e Damion Reid, o mesmo alinhamento do trio que gravou recentemente o álbum “Seismic Shift”, de 2022, o qual será previsivelmente o centro da atuação desta formação no festival. 

A parceria entre o Guimarães Jazz e a Orquestra de Guimarães terá este ano honras de encerramento e merece também um destaque acrescido, não apenas pelo compositor que a irá conduzir e liderar – o macedónio Dzijan Emin, um músico ainda pouco conhecido mas com um percurso invulgar e extremamente original que irá previsivelmente surpreender o público com a sua fusão criativa de jazz e música tradicional dos Balcãs, uma das mais populares do reportório europeu de tradição folclórica, e que se apresentará acompanhado de oito músicos também da Macedónia –, mas também pela evolução extremamente positiva desta orquestra local, provando assim a pertinência das parcerias assumidas pelo festival com organizações e coletivos fora da sua órbita.   

Esta secção colaborativa do Guimarães Jazz completar-se-á com as já tradicionais colaborações com a Orquestra da ESMAE – este ano dirigida pelo quinteto do jovem pianista Tommaso Perazzo que, em 2023, junto com o baterista Marcelo Cardillo, o qual também fará parte deste grupo, causou fortíssima impressão em Guimarães acompanhando o contrabaixista Buster Williams, quinteto esse que será também responsável, como sempre acontece, pelas oficinas de jazz e pelas jam sessions. 

Porta-Jazz propõe o projeto multimédia “Fissuras”, protagonizado por uma formação liderada pelo saxofonista cubano Hery Paz e complementado por uma componente de vídeo da responsabilidade da artista Maria Mónica; a Sonoscopia apresentará uma formação mais alinhada com o fenómeno jazzístico do que em edições anteriores – representado este ano pelo trio liderado pelo trompetista português Luís Vicente e com a participação especial de Camilla Nebbia, uma saxofonista argentina emergente do jazz europeu contemporâneo; e, finalmente, o João Rocha Quartet, que conquistou os prémios de Melhor Ensemble e Melhor Arranjo da edição de 2024 do concurso de jazz da Universidade de Aveiro, e o qual terá a curiosidade adicional de ser desta vez protagonizado por jovens músicos que já atuaram no Guimarães Jazz integrados na Orquestra da ESMAE. 

07/11, 21h30 – Ambrose Akinmusire: Honey from a Winter’s Stone Mivos String Quartet, CCVF / Grande Auditório.

08/11, 21h30 – Sara Serpa, André Matos, Craig Taborn e Jeff Ballard, CCVF / Grande Auditório.

09 /11, 16h00 – Projeto Centro de Estudos de Jazz – Univ. Aveiro / Guimarães Jazz João Rocha Quartet, CCVF / Pequeno Auditório.

09/11, 18h00 – Daniel Bernardes & Drumming GP Clockwork – in memoriam György Ligeti, CCVF / Pequeno Auditório.  

09/11, 21h30 – Maria Schneider & Classijazz Big Band, CCVF / Grande Auditório. 

10/11, 17h00 – Projeto Orquestra de Jazz da ESMAE / Guimarães Jazz dirigida por Tommaso Perazzo Quintet, CCVF / Grande Auditório.

10/11, 21h30 – Projeto Porta-Jazz / Guimarães Jazz Fissuras, CIAJG / Black Box.

14/11, 21h30 – Wadada’s Fire-Love Expanse, CCVF / Grande Auditório.  

15/11, 21h30 – John Escreet’s Seismic Shift with Eric Revis and Damion Reid, CCVF / Grande Auditório.

16/11, 16h00 – Projeto Sonoscopia / Guimarães Jazz Luís Vicente Trio feat. Camila Nebbia, CCVF / Pequeno Auditório.

16/11, 18h00 – Tommaso Perazzo Quintet, CCVF / Pequeno Auditório.   

16/11, 21h30 – Projeto Orquestra de Guimarães / Guimarães Jazz com Dzijan Emin Octeto, CCVF / Grande Auditório.

A tomar nota na sua agenda jazzística de outono e a não perder um acorde, deste Guimarães Jazz que já é um clássico de outono. •

+ CCVF
© Fotografia: Maria Schneider por Briene Lermitte 2020.

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