A arte maior no traço do arquiteto Camilo Rebelo

Este é o resultado de um encontro, de pessoas, de histórias, de vontades e da feminilidade de uma peça que abre um novo ciclo na Elements Contemporary Jewellery: Dualismos na Matéria.

Há uma peça envolta em mistério, saída do espírito inquieto e abstrato do arquiteto portuense Camilo Rebelo. Uma peça em ouro, metal nobre dotado de resistência, “material, energia líquida que ganha forma”, justifica o autor, e que conta uma história – estávamos, então, no verão de 2014, na praia do Amado, onde uma mulher, V, se torna “o lado inspirador da medalha”.

Eis o resultado de um desenho transposto para uma jóia de autor que, em outubro de 2014, “começou a ganhar expressão (…) a ganhar vida própria” e um nome, Nut, a deusa egípcia dos céus. Ou a tradução livre do “abstracionismo da linha do horizonte, a qual suscita curiosidade e nos remete para o mistério” e, portanto, a “alusão ao encontro entre o dia e a noite no nascer do sol e no pôr do sol”, explica Camilo Rebelo quando fala sobre a sua medalha que ilustra elegância e, em simultâneo, a simplicidade da matéria.

A história começa antes quando Marco Santos, co-fundador da Elements Contemporary Jewellery quis conhecer o arquiteto por ocasião da exposição P’OVO, da autoria de Camilo Rebelo e do artista plástico Rui Chafes, no átrio da Câmara do Porto, entre 6 de outubro a 1 de novembro de 2014, onde estava patente o Ovo de Tróia, revestido a madeira. O ovo – sinónimo de semente e de fertilidade – que serviu de inspiração para a caixa que envolve a Nut – é, por sua vez, guardado num pequeno saco de linho, numa alusão à pureza da matéria em si e ao Egipto, país “de origem” da deusa Nut. Em ouro, branco, ouro rosa e ouro negro, a medalha pode ser usada num fio de seda – há sete cores disponíveis – com os terminais na cor do ouro que combina com a da peça, que se faz acompanhar de um certificado de autenticidade.

Assim nasce uma peça que, no fundo, agrega histórias, pessoas e vontades resultantes de um encontro e de um trabalho traduzido numa dualidade de ofícios – o da arquitetura e o da joalharia, o lado poético e o lado técnico.

A Nut é, por conseguinte, a primeira peça original de Dualismos na Matéria, o novo projeto da Elements Contemporary Jewellery, criada em 2008 pelos irmãos Marco e Nuno dos Santos (leia aqui a entrevista), cuja finalidade é apresentar a criatividade e o pensamento de diferentes disciplinas (arquitetura, design, artes plásticas, música) através de um objeto que dá corpo ao desenho.

Sobre o autor da peça, Camilo Rebelo nasceu na cidade Invicta em 1972 e estudou no Colégio Alemão do Porto, seguindo-se o curso de arquitectura na Faculdade de Arquitectura do Porto (FAUP), tendo sido olaborador de Eduardo Souto Moura (1994/98) e do atelier suíço Herzog & de Meuron (1998/99). Entre 1999 e 2013 foi professor assistente na FAUP e, entretanto, iniciou actividade liberal e, entre 2010 e 2012 juntou-se a Eduardo Souto Moura na EPFLausanne e na Accademia di Mendrisio, foi professor convidado na FLUPorto, EPFLausanne, ETSA-U.Navarra, Accademia di Mendrisio e Politecnico di Milano. Acerca da lista de prémios, Camilo Rebelo soma e segue, com o primeiro arrecadado em 2004 no concurso internacional para o Museu do Côa, a menção honrosa no concurso internacional para o Museu de Arte Moderna de Varsóvia ou a de 2010, no concurso para o Museu do Carro Eléctrico do Porto, assim como os prémios Bauwelt e Baku UIA International pelo Museu do Côa (2013), tendo como obras de referência também a Casa Ktima|, na ilha grega Antiparos, com Susana Martins (2014) e o Ovo, trabalho conjunto com o artista plástico Rui Chafes, que fez a Semente, em resposta a um desafio de um cliente para a casa deste nos Alpes suíços (2014). •

+ Elements Contemporary Jewellery
© Fotografia: João Pedro Rato

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