A Fundação Eugénio de Almeida, em Évora, apresenta a exposição “Projeto para um Memorial” que visa dar a conhecer duas obras destacadas do artista colombiano Oscar Muñoz, de prestígio reconhecido, no contexto da arte contemporânea internacional.
A exposição individual tem como peça central a instalação “Projeto para um Memorial” (2005), uma obra que explora os processos de lembrança e esquecimento tanto em contextos históricos como individuais. A vídeo instalação, de cinco canais, regista o processo de construção de retratos de pessoas concretas – criados a partir de fotos encontradas em obituários, personificações da violência das grandes cidades, mediante a pintura com água sobre uma pedra ao sol. Antes mesmo de terminado o retrato, os traços de água começam a desaparecer pelo efeito do calor e, simultaneamente, as outras mãos nos outros vídeos continuam a pintar outros retratos, num dinamismo entre o nascer e o desaparecer. Num mundo de desaparecimentos constantes e da imagem como força de preservação, o trabalho de Muñoz revela-se como uma espécie de ativismo pelo quotidiano e suas políticas esféricas. A construção e a destruição permanente da memória constituem, assim, o tema central da obra.
Presença e ausência, tal como realidade e ficção são também objeto de análise da obra “O olhar do Ciclope” (2002). A série fotográfica problematiza as questões do retrato e da técnica de visualização: o dualismo entre imagens mentais (lembranças) e físicas (imagens materializadas). Como destaca Hans Belting, historiador de arte alemão, as origens do conceito de imagem estão vinculadas aos rituais e ao culto aos mortos: as antigas máscaras mortuárias funcionavam como “fotografias” tridimensionais, como substitutos da presença dos corpos prestes a desaparecer. Através desta “imagem”, mantinha-se viva a sua presença. Muñoz chama a atenção para a analogia entre imagem e corpo presente na máscara-retrato. Como num processo de luto, a máscara vazia gera uma ilusão de volume e, desta forma, uma proximidade com a “realidade” do corpo que representa e da sua permanência como imagem. A exposição de Óscar Muñoz estará patente na Sala Rostrum (piso 0), na Fundação Eugénio de Almeida, 28 março a 29 junho 2014. A colocar na agenda e se estiver ou passar por Évora, a visitar. •
+ Fundação Eugénio de Almeida
© Fotografia: Thierry Bal – “Memorial”, Courtesy INIVA, 2008.