Nova música portuguesa à sua espreita com um álbum de nome bem comprido, ou não tivesse o Bruno Pernadas, longas pernas musicais para correr, a bom ritmo, o título “How Can We Be Joyful In A World Full Of Knowledge?“.
O trabalho de originais do jovem lisboeta Bruno Pernadas cai-nos na mão com uma pergunta que intriga e deixa, qualquer um, a matutar. E ele, senhor músico de música, chega até nós com um agitado curriculum que passa por When We Left Paris, Julie & The Carjackers ou Suzie’s Velvet, onde se percebem as diversas influências pelas quais se deixa fascinar e levar, não esquecendo o seu estudo na guitarra clássica, caminhada na Escola do Hot Club Portugal, percurso da Escola Superior de Música de Lisboa… e ainda a dedicação ao estudo de composição com Vasco Mendonça; um curriculum extenso e com segurança académica aprovada e atestada. É com este palmarés que Bruno nos dá “How Can We Be Joyful In A World Full Of Knowledge?”, um trabalho onde o instrumental é, indubitavelmente, a peça forte e a voz um acompanhar metódico.
Definir a um estilo Bruno Pernadas seria redutor. Músico versátil tem em si uma soma de cambiantes de passam por um jazz a um afro-beat, ecoa folk com rock psicadélico, tem pop e… há um ponto forte, sem dúvida, na eletrónica que explora e que usa para nos dar as cambiantes várias com que compõe, sem hesitar. No seu primeiro trabalho de originais a solo – “How Can We Be Joyful In A World Full Of Knowledge?” – que toca por ambientes Mutante, arranca com um sentido “Ahhhhh” é um bom suspiro para o início da viagem com dedilhar na guitarra e uma batida definida que atesta a influência afro, nos ritmos de Bruno… as cordas são, no entanto, o que domina. “Indian Interlude” é a música daquele final de tarde, no alpendre… o interlúdio sereno, com as vozes no embalo que nos mandam sorrir para “Huzoor“, as palavras são um novo ritmo. Nesta altura já nos estamos a deixar conquistar, em pleno, pelo que é, sem dúvida, boa música portuguesa, com q.b. de eletrónico slow a garantir o corpo do trabalho. “Première” é caminho para as “Guitarras“, a viagem segue segura na rota traçada, na interpretação e nos acordes escolhidos. Não há encostar à berma para descansar. E “Pink ponies don’t fly on Jupiter“, e ai de quem contestar pois é clara a sonoridade que nos prova, os sons de Júpiter, nos arranjos criados por Bruno. É o seguir calmo do ritmo com uma percussão, que nos leva, mais assumidamente, a mundos jazz, que dita ritmos inventados e, sem de repentes ou cortes radicais, a mudança sonora tão serena com que entramos em “How would it be 1” sonoridades subtis que, acompanhadas de voz, são guitarras, un petit peu de psicadélico e… improviso, num final em que, cremos, se testa a experimentalidade das influências de Bruno. Quase no fim, “How would it be 2” versão calma da parte 1 e, por último, vamos até “L.A.” com a batida de travo quente, com o seu space-age pop, com vozes que tudo junto atesta o bom exotismo do trabalho de Bruno. E voltemos ao início. Voltemos pois não há só um ponto forte. Em Bruno há mais, há um jazz que está sempre no pano de fundo ou mais na linha da frente, é o que sentimos, neste resultado de apontamentos que tirou entre 2012 2 2013 e que transformou num álbum.
Este trabalho é uma boa surpresa que assinala o fim do primeiro trimestre de 2014, é álbum a ouvir e a descobrir e… a esperar por palcos. Para já, uma data agendada: 16 de abril, no Teatro Maria Matos, Lisboa. Se a resposta à pergunta do álbum é feita totalmente a solo, na interpretação, ao vivo? Não. Bruno (guitarra, teclados, vibrafone, sampler e voz) subirá ao palco acompanhado de João Correia (bateria, percussão e sampler), Nuno Lucas (baixo elétrico), Ricardo Gouveia (guitarras e percussão), Margarida Campelo (teclados e voz), Francisca Cortesão (guitarra e voz), Afonso Cabral (guitarra e voz), João Capinha (saxofones e flauta), sopros (a anunciar). Tudo boa gente, tudo gente boa que já conhece, certamente, de outros projetos da música portuguesa que soma e segue. “How Can We Be Joyful In A World Full Of Knowledge?” é arrojo instrumental, é interpretação segura e é novo horizonte na composição nacional. A ouvir. A descobrir versatilidades: Bruno Pernadas! E, sem compromissos, sabe responder à pergunta que dá nome ao álbum? •
+ Bruno Pernadas
© Fotografia: Sara Quaresma Capitão.