Ontem, foi noite de começo e fim. Começo do edpcooljazz 2014 e fim dos concertos de um grupo inesquecível, de músicos extraordinários: Buena Vista Social Club e a sua “Adios Tour”.
Não. Não mudámos de atitude na Mutante. Estamos a falar do que foi, porque ainda há muito para ver no edpcooljazz. É o nosso habitual aviso à navegação, pois ainda vão a tempo de ir a concertos, vários.
O edpcooljazz, evento musical de referência realizado em cenários perfeitos, juntando natureza, património e música, elevou ainda mais a bitola, este ano. Não só no cartaz, indiscutivelmente forte, mas na decoração de ambiente que, por si só, já é uma escolha de sucesso – os Jardins do Marquês de Pombal, em Oeiras, (apenas o concerto de Mariza se realizará no Parque dos Poetas, também em Oeiras); o local é perfeito! Notas, claves de sol e pautas numa parede junto com guirlandas de luzes entrelaçadas numa pérgola verdejante, espelham que estamos num evento fora de série, bem aprimorado. Melhor, não espelham, envolvem porque o que espelha é o nome do festival – edpcooljazz – escrito no jardim a dar as boas-vindas, em letras que desafiam às fotografias do “eu estou/estive aqui” (resistimos, estoicamente). O caminho segue e o verde torna-se mais denso, com uma cortina arbórea que não dá frutos, mas música iluminada em notas e contrabaixos (não fosse este um instrumento imprescindível a um festival jazz) e, num dos vários percursos, para que ninguém sinta fraqueza alguma, há gelados, sushi, frutas frescas, mojitos, gin, caipirinha… de tudo um pouco, no Cool Pick&Go, para que nada lhe falte para um bom concerto, com boa energia e tudo bem próximo da plateia e assinalado. A plateia é grande, em frente ao palco, bem posicionado nos jardins. Se o cartaz deixa o público inquieto e desejoso de marcar presença, o espaço prende.
Do cartaz, temos vindo a falar na Mutante, aqui. São músicos afirmados, projetos mais recentes, jazz puro ou com ritmos que lhe dão surpreendentes cambiantes, são sonoridades escolhidas a dedo na procura de manter a qualidade musical do festival, mas… vamos ao prometido. Eis a explicação porque ontem foi uma noite especial, nos Jardins do Marquês. Ouvimos a despedida de quem nos cantou, tantas vezes, doces e ritmadas sonoridades cubanas e que não mais voltará a subir ao palco… Os Buena Vista Social Club (BVSC) deram um magnífico adeus aos palcos. Formados no ano de 1997, na sequência do justamente aclamado projeto cinematográfico Buena Vista Social Club vencer um Grammy, a formação que ontem subiu ao palco ainda trazia consigo muitos dos originais artistas que pode ver (e rever) no filme e tudo começou com um momento a solo, de piano, que fez aparecer o silêncio nos Jardins.
Quase duas décadas depois de o mundo fixar ouvidos na mítica Orquestra, em diferentes formatos, configurações e combinações, ontem voltaram a conquistar como se fosse a primeira vez. Viajámos por músicas que nos faziam embalar o corpo num movimento suave de dança (e muitos dançaram), músicas que não nos cansamos de ouvir e que inevitavelmente sabemos algumas letras como: “De Camino A La Vereda“, “Candela“, “A La Luna Yo Me Voy“, “El Cuarto de Tula“… imparáveis em palco, dos mais vetustos como Eliades Ochoa (guitarra) ou Barbarito Torres (alaúde) ou dos mais jovens Rolando Luna (piano), o espetáculo iniciou irrepreensível porém, faltava-nos algúem… Alguém que esperava nos bastidores para entrar e elevar, muito mais, o que já alto ia, a imensa senhora dos BVSC, Omara Portuondo – diva deste projeto. Omara é… Omara, senhora de uma identidade tão forte que levantou o público com a sua voz limpa, com a sua energia e com o calor com que nos derreteu ao cantar, por exemplo, “¿Qué te importa que te ame, si tú no me quieres ya?” – refrão da música arrebatadora “Veintes Anos” ou nos fez acompanhá-la num “Quizas Quizas Quizas“. Sem pausas o concerto enchia os Jardins do Marquês de Pombal e quando já pairava no ar a despedida, subia ao palco a convidada especial desta inigualável trupe, Ana Moura. No arranque desta subida ao palco, “Besame Mucho“. Todavia, foi ao cantar, com Omara, “Dos Gardenias” que nos deixou as emoções à flor da pele. E ao fim de 20 músicas sem paragem, com homenagens a idos como Ibrahim Ferrer, Manuel Galbán ou Compay Segundo, com um regresso ao palco para duas músicas, terminava uma noite única e de beleza ímpar. Dos Buena Vista Social Club já temos saudades da energia, boa disposição, do encanto em palco e em resposta a Eliades Ochoa, que perguntou ao público “Bueno, regular o malo?“, nós dizemos “Bueníssimo!“. Foi por isto que vos acicatamos no Facebook e no Instagram .
Hoje, há mais edpcooljazz – Da Chick + Earth Wind & Fire Experience feat. Al Mckay (início marcado para as 21h30) – e depois mais haverá. É música jazz, com ou sem cambiantes, que faz de Oeiras roteiro obrigatório na música nacional e internacional. Relembre o programa aqui e tome nota porque um salto até Oeiras é merecido. O que foi, o que será… e como diria uma música dos BVSC, na voz de Omara:”(…)De nuevo el sol me recuerda / que ya el día / en su plena lozanía reclama / luego se ve a lo lejos el bohío / y una manita blanca que me dice adiós.”
+ Edpcooljazz
© Fotografia: Dulce Alves (Instagram ).