O Conservatório de Música de Coimbra e o Teatrão aliam-se para apresentar “O Contrabaixo”, com António Fonseca.
É impossível resistir a um texto do autor Patrick Süskind (autor de “O Perfume”), falando de si na altura em que deu vida a “O Contrabaixo”, para vos apresentar a peça:
“Nasci em Ambach, junto ao lago de Starnberg, em 1949 e não toco contrabaixo, mas piano. A minha formação musical esteve, a partir do meu sétimo ano de vida, nas mãos da senhora Traudl Schulze, de Ambach.(…)/ Por ter herdado do meu pai dedos mindinhos curtos, devido a um encurtamento de tendão, e por ter herdado da minha mãe um excessivo alongamento dos 2o, 3o e 4o dedos, fiquei limitado a tocar sobretudo como acompanhante (…). Desisti, assim, de uma carreira como solista e, no semestre de inverno de 1968, entreguei-me ao estudo da História Medieval e Moderna na Universidade de Munique (…). Entretanto, trabalhei, entre outras coisas, no arquivo da secção de contratos e patentes da empresa Siemens, no bar e clube nocturno “Zum fliegenden Holländer (“O Navio Fantasma”) em Berg sobre o Lago, e como treinador de ténis de mesa, por conta própria./ Desde essa altura tornei-me escritor de pequenos textos de prosa narrativa curta, não publicados, e de guiões de filmes, mais longos e nunca filmados. Ganho a vida com os últimos e com a produção de roteiros que, devido ao seu estilo ousado, dificilmente poderão ser recusados pelas equipas de redacção em televisão./ Escrevi a peça ‘O Contrabaixo’ no Verão de 1980. Trata-se, entre muitas outras coisas, de como vive um homem no seu pequeno quarto. Ao redigir o texto fui-me servindo, na medida do possível, das minhas próprias experiências, uma vez que tenho passado grande parte da minha vida em quartos sempre cada vez mais pequenos e que abandono com dificuldade cada vez maior. Mas tenho esperança de um dia vir a encontrar um quarto tão pequeno e que me oprima tanto que, ao deixá-lo, o leve comigo./ É num quarto assim que hei-de tentar então escrever uma peça para duas personagens, que terá lugar em quartos ou salas.” Süskind, in Theater Heute, 11/81.
Haverá melhor forma de vos dizer que este é um espetáculo a ter curiosidade em ver, em Coimbra? Com António Fonseca a subir ao palco e António Mercado na dramaturgia e direção, numa produção conjunta entre O Teatrão e Conservatório de Música de Coimbra, “O Contrabaixo” é peça a ter na agenda. Aos olhos de Süskind, “o mundo todo é uma orquestra e todos nós, homens e mulheres, somos meros músicos que passamos a vida a tocar com maior ou menor talento, com maior ou menor sucesso, conforme os atributos e oportunidades que a natureza e a sociedade nos deram ou deixaram de dar. Na hierarquia social uns poucos têm o dom ou a sorte de serem maestros, outros serão solistas famosos, outros ainda primeiros-violinos ou chefes de naipes, e por fim vem a imensa multidão dos ‘tuttistas’ – aqueles instrumentistas anónimos que nunca distinguimos no fosso da orquestra, mas que são indispensáveis para que a orquestra soe e a música exista. Ignorados pelo público, são eles os verdadeiros responsáveis pela massa orquestral que sustenta o brilho das estrelas.” O contrabaixista nesta peça é um desses tuttistas e nela se fala de paixão, a paixão pela música. “Passeia à vontade pela história da música, pelos segredos de alcova dos grandes compositores, faz-nos ouvir e perceber o íntimo de algumas grandes obras. A complexa relação de amor e ódio que mantém com o seu instrumento de trabalho, o contrabaixo, é dissecada por Süskind com um misto de ternura, furor e humor sarcástico.“, António Mercado.
“O Contrabaixo” estará em cena no Auditório do Conservatório de Música de Coimbra nos dias 25, 26 e 27 de setembro e na Oficina Municipal do Teatro (Coimbra) nos dias 8, 15, 22 e 29 de novembro, e 6, 13 e 20 de dezembro, deste ano. Tome nota e viaje pelo mundo deste tuttista e os seus desabafos sobre o que tanto o move, o seu contrabaixo. A ir. •
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© Fotografia: Carlos Gomes .