No Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, abrem-se as portas para receber a queda vertiginosa de Victor Hugo Pontes: “Fall” é um título de uma palavra onde cabe o vocabulário ilimitado da vida e “Cair” que nasce de “Fall” e é para o público mais pequeno.
Victor Hugo Pontes, coreógrafo vimaranense, cai desta vez em Guimarães, num palco que tão bem conhece, junto de um público que tanto o acarinha e promete levar a plateia consigo até ao chão. Este “Fall”, a subir ao palco no próximo sábado – 21 de março – pelas 22h00, retrata as várias faces de uma mesma palavra com todas as interpretações que ela carrega, desde a queda física, a mais óbvia, para, a partir daí, construir outras quedas mais profundas, carregadas de analogias e simbologias. Aqui, Victor Hugo Pontes trabalha quatro ideias fundamentais, com níveis de profundidade diferentes: “quedar-se de amores, a queda bíblica, no outono, a aproximação de um fim de ciclo na natureza, e o movimento da queda física“. Tratam-se de momentos transversais ao percurso do homem, porque todos caímos de alguma forma a determinada altura da vida. A queda como algo intrínseco à própria existência. E tudo numa dança fluída e segura de corpos que dialogam entre si, que nos contam as quedas que trazem consigo.
A lei da gravidade impele-nos a cair, prende-nos ao chão, faz o corpo pesar sobre nós próprios. A vida também é assim. Dentro deste “cair” de Victor Hugo Pontes cabem várias quedas, com vários significados. Um cair sem fim, na mesma eternidade a prazo que é a vida. “Fall” é a vertigem da vida a dançar, a espernear, a debater-se no chão para sair dali. Um espetáculo que reflete a queda física, mas também a queda moral, emocional, espiritual. O olhar para cima de quem está caído como quem questiona, na vulnerabilidade da queda, tudo o que somos, a que lugar pertencemos e o que nos amarra à dureza do chão. Quem já não experimentou a vertigem de cair de amores, de cair na tentação, de cair no erro, de simplesmente cair porque alguém nos tirou o tapete. Todas estas vertigens cabem em “Fall” e cabe também o barulho ensurdecedor do corpo estilhaçado no chão de cada vez que se cumpre um desses tropeções. Cair magoa, por vezes deixa marcas, e nunca é fácil o esforço de nos erguermos do chão porque, além da dor, conhecemos a inevitabilidade de que vamos cair outra vez. Também na morte caímos, a derradeira queda que nos deixa prostrados no chão para sempre. Victor Hugo Pontes mostra-nos a queda livre da vida em “Fall”, as perguntas que nos atormentam quando estamos pregados ao chão. Como fomos ali parar e como vamos dali sair. E as respostas, assim como o trabalho árduo de nos reerguermos, não são fáceis nem bonitas. São cruas como a realidade. Um espetáculo de dança que, com certeza, o vai prender, sem cair.
Neste espetáculo, sete bailarinos caem vezes sem conta. Ganham lanço para a queda, ganham lanço para um salto de fé que inevitavelmente os irá esmagar no chão. Cair sempre para cair melhor. Ou não. E em cada queda uma réstia de esperança porque num dos lados deste vocábulo que é “Fall” cabe também o outono, estação em que tudo morre para se regenerar na estação seguinte. É a redenção na queda. E se cair, não tenha medo. Há, logo a seguir, o levantar.
E agora, o “Cair”. Novo projeto de Victor Hugo Pontes, dirigido às crianças, estreia no Centro Cultural Vila Flor. Criado na sequência do espetáculo “Fall”, “Cair” é um novo projeto de dança de Victor Hugo Pontes, dirigido ao público infantil entre os 6 e os 12 anos de idade, cuja estreia acontece no Centro Cultural Vila Flor hoje, quarta-feira (18 de março) às 15h00. O espetáculo ficará em cena amanhã, no mesmo horário, e volta a ser apresentado no dia 21 de março, às 16h00. Victor Hugo Pontes pega neste espetáculo sob a perspetiva que temos enquanto crianças, altura em que começamos por rastejar, colados ao chão até conseguirmos levantar-nos e caminhar. Este processo de aprendizagem é uma autêntica lição de coragem, de perseverança, de procura por outra visão do mundo e da vida. É muito diferente a perspetiva que temos do mundo quando estamos de pé, na vertical. Ao gatinhar, vemos chão e mais chão. Ao levantarmo-nos podemos ver o que está por cima do chão e à solta no espaço. Claro que durante esta aprendizagem muitas vezes caímos, voltando depois a levantarmo-nos. A verdade é que não aprenderíamos a andar se não tivéssemos a coragem de nos levantar de cada vez que caímos, como se já em bebés percebêssemos um dos mais belos pontos da filosofia de Platão: “Se caíres sete vezes, levanta-te oito.”
Não fique em casa caído no sofá e caia seguro numa cadeira do CCVF, para dois espetáculos de dança que esperam por si. •
+ CCVF
© Fotografia em destaque: “Fall”, por José Caldeira.
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