Hoje, propomos uma viagem ao mundo do clássico onde dois alaúdes, um Hardanger fiddle e duas vozes constroem um trabalho singular de arte, na música. Uma viagem para amantes do género clássico e não só.
John Potter com Anna Maria Friman, Ariel Abramovich e Jacob Heringman, traz-nos uma viagem tão curiosa quanto original, para ouvir de um trago só; ou agarrando numa das músicas que aqui figuram, uma viagem que podia ter como mote “Follow Thy Fair Sun“. Na base de “Amores Pasados”, álbum agora editado, unir “art song” e “pop song”, dois universos sonoros separados por um vazio que urgia ser preenchido – “what we have tried to on this recording is bridge the gap between art song and pop song. We’ve tried to make it as live as possible and have left in some of the inevitable glitches that are part of what make a performance human“, John Potter. Da base, passar ao desafio. Num mesmo disco, composições originais de Campion (compositor britânico, 1657-1620) e Picforth (compositor, século XVI) com arranjos de Warlock (pseudónimo de Philip Arnold Heseltine, compositor e crítico britânico, 1884-1930) e Moeran (compositor britânico, 1894-1950), e repto lançado (e aceite) a John Paul Jones (Led Zeppelin), Sting, Tony Banks (Genesis) para escreverem novas músicas para alaúde (instrumento musical da família dos cordofones).
O convite inusitado, ou não, já que a música é um todo, nas palavras de Potter, “For this recording we asked John Paul Jone, Tony Banks and Sting to write us lute songs. Asking a rock music composer to set existing poetry within a genre we knew well meant that we singers wouldn’t need to pretend to be pop singers – we were still ‘interpreting’ a text in a way that we’re familiar with. Tony Bank set poems by Campion (…) and John Paul Jones set poems from the three great ages of Spanish literature. Sting’s ‘Bury me deep in the greenwood’ was originally intended for the film Robin Hood, and is to a poem of his own.” Aqui, neste pequeno grande detalhe, reside um trunfo maior deste trabalho. Trazer para o universo clássico e do alaúde músicos que, provavelmente, não imaginaríamos ouvir, neste género musical, ligados a um alaúde de história bem antiga.
John Potter, tenor naturalmente reconhecido, é voz contínua, corpo forte – e, simultaneamente, tão elegante e leve – deste trabalho, voz que é instrumento seguro e elemento de ligação deste álbum que, pela proposta que apresenta, pelos músicos envolvidos, pelos compositores escolhidos, pelos convites lançados, deixa no imediato o ouvido curioso e ancorado às suas sonoridades. Sente-se em Potter, e consequentemente no instrumental, ou vice-versa, um ligeiro descolar do universo imaculadamente clássico embora seja este a espinha dorsal que agarra o trabalho. No alinhamento de 13 músicas, duetos perfeitos com Anna Maria Friman que é, aqui, voz indispensável ao equilíbrio e Hardanger fiddle – (instrumento de cordas tradicional – Noruega -, com forma muito similar ao violino, sendo diferença principal a utilização de quatro a cinco cordas a mais de ressonância, além das quatro normais de um violino). A John Potter e Anna Maria Friman juntam-se Ariel Abramovich e Jacob Heringman, com alaúdes, interpretes com um dedilhar que nos soa a perfeição, elementos coessenciais para o resultado final ser um amor à arte da música.
John Potter “Amores Pasados” é um quarteto distinto, a ter de descobrir. •
+ ECM Records
© Fotografia: Sara Quaresma Capitão.
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