Em Coimbra: Uma nova colecção na cidade

Na Sala da Cidade, em Coimbra, pode visitar, até ao dia 10 de outubro, uma exposição de pintura portuguesa da segunda metade do século XX: São 59 artistas, aos quais correspondem 59 obras.

“No ano de 2014, foi adquirida, pelo Município de Coimbra, uma colecção de Arte Contemporânea ao Casal Telo de Morais que abrange os mais relevantes autores da pintura portuguesa da segunda metade do século XX e inícios do século XXI. Este espólio é constituído por 260 obras, das quais foram seleccionadas 59 para esta primeira exposição. A escolha teve como princípio orientador mostrar os protagonistas das rupturas artísticas que marcaram a segunda metade do século XX, incidindo nos que influenciaram e mais se destacaram nas décadas de 50/60/70 e 80.” Esta é uma parte, a inicial, do texto que acompanha a exposição em forma de folha de sala, onde se contam 59 artistas, número coincidente com o número de obras que pode observar-se.

Embora assinalado o princípio orientador, a leitura da exposição não nos oferece outras âncoras. Tentemos, pois dar forma à percepção.

O título – “Uma nova colecção na cidade: Pintores portugueses da segunda metade do século XX”, colocado à entrada, do lado direito, e defronte às escadas que dão acesso à magnífica sala outrora pertencente ao denominado Mosteiro de Santa Cruz, dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho.

Ambiente cinzento, cor que associamos amiúde à memória, indutor de uma temperatura, aqui, cálida. Primeira sala. Enquadramento inicial feito por quatro números da revista Colóquio-Artes, o que faz associar a inscrição das obras de arte no registo da fortuna crítica. A Modernidade é prenhe em tratados e o Modernismo nas Artes é indissociável do rastro da escrita; assim, esta mostra religa os dois movimentos numa laçada indelével. Entretanto, somos lançadas num mar de obras, concretamente 18, que abarcam um período ido de 1954 a 1997. Curiosamente, as datas são bem marcadas, o que não acontece na intitulação, permanecendo como leitmotif S/Título. Seguindo Maria Teresa Cruz, o colocar de um título numa obra de arte será uma tarefa extremamente recente, já que antes do Impressionismo, essencialmente, a identificação do tema/assunto/visualidade/acção estaria relativamente facilitada. A partir dessa verdadeira revolução do olhar, com antecedentes altamente significativos em Courbet e Manet, por exemplo, o título surge por vezes equivocamente, por outras vezes provocatoriamente, outras ainda em forma de manifesto, ou agulha da sensibilidade. No entanto, pese embora o esclarecimento de Maria Teresa Cruz, pensamos tornar-se evidente, para a arte contemporânea, a intitulação S/Título. Obra aberta de Umberto Eco? Emmanuel Levinas, por exemplo, lamenta uma abertura estridente; a questão será distinguir entre o silêncio e o mutismo.

Regressemos, agora à segunda sala. Obras balizadas entre 1928 e 2004, onde permanece a tendência anteriormente focada. A terceira sala é na verdade um caminho, um U onde se repete a exposição da revista Colóquio-Artes, bem como obras sensivelmente de menor dimensão.

Uma colecção expressiva, realmente, no que respeita à pintura portuguesa. Resta ao espectador solucionar o puzzle.

A visitar até dia 10 de Outubro, de terça-feira a sábado, entre as 13h00 e as 18h30. Na Sala da Cidade, mesmo ao lado da Câmara Municipal de Coimbra, na Praça 8 de Maio.

© Fotografia: Câmara Municipal de Coimbra

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