O Violino de Auschwitz / Conservatório

Um encontro para não esquecer a maior tragédia do séc. XX através do insólito olhar da música“. Assim é apresentado este espetáculo no Conservatório de Música de Coimbra.

Interpretações musicais, recontos, imagens e filmagens, vão revelar aspetos curiosos e inéditos da política cultural do Regime Nazi e dos horrores dos campos de concentração. “Um encontro desprovido de retórica, capaz de surpreender e comover“.

Integrado no projeto “Shoá: lembrar para não esquecer”, e já a 2.ª edição, em parceria com o Conservatório de Música de Coimbra, a Associação dos Amigos do Conservatório (A2C2) e a Rádio Universidade de Coimbra (RUC), terá lugar, no próximo dia 16 de fevereiro, pelas 21h30, no Grande Auditório do Conservatório, o concerto-conferência “O Violino de Auschwitz” pelo violinista italiano Maurizio Padovan.

Padovan é músico, professor de dança e investigador. Foi docente de “História da dança e da música para dança” na Faculdade de Musicologia da Universidade de Cremona-Pavia (Itália). Violinista com cartas dadas, é diretor do Ensemble “Accademia Viscontea”, e da “Camborchestra” de Cremona. Participou em numerosos convénios internacionais, editou álbuns, foi lente de cursos musicais e deu centenas de concertos em Itália e no estrangeiro, e colabora com o Departamento de Instrução da Província de Milão no projeto “La musica nela didattica” e no âmbito deste projecto publicou os volumes “Voci, ritmi e strumenti del Medioevo, Musica e società del Rinascimento e Il Barocco: musica e scoietà“. A partir de 1989, esteve com regularidade em Portugal, a convite da Escola Superior de Dança de Lisboa, da APEM, da Universidade do Minho, de vários Centros de Formação de Professores, de Clube Unesco de Educação Artística de Lisboa, da Casa da Música de Porto, de Câmaras Municipais e Casa das Artes para lecionar cursos de especialização e formação, concertos e espetáculos de dança. Colaborou na revista “La danza italiana” e no livro “Storia della danza Italiana” (2011). É autor dos volumes “A dança no ensino obrigatório (2000)” e “Dançar na Escola (2010)” editadas pela Fundação C. Gulbenkian e de numerosas publicações relativas à história da dança, história da música e etnomusicologia. Todo um vasto curriculum.

Sobre “O Violino de Auschwitz” cremos que nada como vos dar a ler o texto de apresentação:
Nos anos que precederam a Segunda Guerra Mundial, o género musical da canção, difundido através da rádio, tornou-se um importante fenómeno de massas amplamente utilizado para a propaganda do regime fascista.
O otimismo triunfante “prebélico” deu lugar, no início do conflito, à necessidade de distrair as gentes do drama da guerra propondo temas românticos, sentimentais e as assim chamadas canções de alegria, de tom ligeiro e divertido em ritmo de swing.
Em 1938, com o surgimento das leis raciais, um grande número de músicos, cantores, coristas e trabalhadores em organizações musicais perderam o seu posto de trabalho. Na verdade, o antisemitismo em Itália não se difundiu como no Reich, ainda que bem poucos se tenham revoltado com a política fascista; as perseguições mais graves deram-se durante a ocupação alemã.
O regime nazi instituiu uma eficiente organização da vida musical, desenvolvendo uma potente máquina de propaganda e um instrumento de luta contra os opositores políticos, os judeus e a cultura “degenerada” (no âmbito musical: dodecafonia. Jazz, cabaret berlinense, etc.). Nos campos de concentração nazis, a música assumiu um papel de exaltação do horror e da aniquilação da dignidade humana.
Em Auschwitz, como em Mauthausen, orquestras formada pelos próprios detidos, davam concertos para o espairecimento das SS, acolhiam os novos deportados, marcavam o compasso das marchas dos prisioneiros nos trabalhos forçados, acompanhavam os condenados às câmaras de gás e exaltavam o sadismo dos oficiais na violência perpetrada contra as mulheres e crianças.
Instrumento de tortura, a música contribuía para reduzir a personalidade dos indivíduos; contudo, para os músicos deportados, poder tocar ou cantar significava reencontrar a dignidade violada e, em muitos casos, sobreviver.
Ser selecionado para as orquestras, em determinadas ocasiões de festa, dava a certeza de que seriam sobreviventes por mais um dia. Em Treblinka como em Flossemburg, Buchenwald, Janowska ou Golleschau, não ser músicos podia tornar-se uma implacável condenação.
Mas a música teve uma importância extraordinária na capacidade de iludir os detidos a esquecer o horror quotidiano e incutir esperança até nos momentos de desespero e sofrimento. Não faltaram exemplos de pequenas e grandes peças musicais compostas pelos próprios prisioneiros, como as comoventes canções da jovem poetisa Ilse Weber, realizadas para aliviar as dores das crianças no gueto de Therezin. Transferida para Auschwitz em 1944, será morta, assassinada na câmara de gás junto ao seu filho Tommy.

A tomar nota na sua agenda. •

+ Conservatório de Música de Coimbra
+ A2C2
© Imagem: divulgação do espetáculo.

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