Vai ser Noite em Guimarães e em Coimbra, com a nova criação de Circolando. Uma peça que mistura o teatro e a dança para falar de um passeio pelos confins da noite, a todos os recantos que ela guarda.
A inspiração, para este espetáculo, nasceu no desassossego dos poemas de Al Berto, uma referência para a companhia Circolando, mas a partir daí André Braga e Cláudia Figueiredo viajaram pela sua própria escuridão. Porque é à noite que a luz parece mais intensa. “Noite” é “outro passo nos territórios da escuridão em busca de novas claridades. É na escuridão que reside um estar desconhecido onde pode surgir puro o ímpeto criativo. Entre o medo e a paixão, a desolação do subúrbio e a alucinação luminescente. Velocidade, exaustão e nada“.

© José Caldeira
“Noite” integra um ciclo de projetos que a companhia Circolando tem vindo a desenvolver em torno dos territórios da escuridão, com o objetivo de encontrar novas claridades. Na continuidade dos projetos mais recentes, foi dado o lugar central à improvisação, às ideias de partida e os materiais-chave surgiram de forma inesperada. A conceptualização, estruturação e narrativas vieram depois, perante o material em bruto e estado selvagem. “É na escuridão que reside um estar desconhecido onde pode surgir puro o ímpeto criativo“.
A Circolando leva a Coimbra e a Guimarães a noite de três intérpretes, o caminho escuro e excessivo por onde, por vezes, nos aventuramos e consumimos depressa, até ao esgotamento, com a pressa de quem foge da normalidade da vida que mora na manhã seguinte. Partindo de um trio de homens – André Braga, Paulo Mota e Ricardo Machado – o espetáculo foi inicialmente inspirado no autor Al Berto, mas foi sentida a necessidade de haver um desprender do autor e criar uma noite própria, com o seu próprio caminho. Nesta “Noite”, os atores vagueiam pelos caminhos mais escuros onde, por vezes, a luz (quando aparece) é mais forte, rasgando o negro em clarões violentos que quase encandeiam. E é nessa ida ao limite que a noite guarda que por vezes surge o rasgo criativo. “É uma coisa que associamos à noite: ires ao teu limite, ires ao outro lado. E a partir do momento em que pomos cem pneus em palco é impossível não ficarmos rebentados. Mas aguentamos – aguentamos as duas horas. E acho que mais do que a energia do momento da exaustão nós aproveitamos a energia do momento a seguir, em que já não estás em esforço mas o ritmo cardíaco continua acelerado”, explica André.

© José Caldeira
A peça desenrolar-se-á no palco, para onde o público é também chamado a assistir ao espetáculo, palco onde os atores estão completamente desprotegidos, numa proximidade única com o público. “Havia uma ideia bastante presente nesta peça que é a ideia de arena, a arena como lugar de exposição e como lugar de confronto e daí partiremos nós próprios para uma ideia de estar nesse lugar, que é uma arena e que tem frentes para tudo quanto é lado. Esta solução para nós é interessante porque nos permite ter bastantes pessoas a assistir e, ao mesmo tempo, muito próximas de nós”, justifica André Braga. Para rematar, André Braga resume de onde veio esta revolta que acomete os filhos da noite: “Acho que esta raiva já está há algum tempo connosco. Andamos todos um bocadinho irritados com muita coisa que se passa fora da sala de ensaios – dos refugiados à Síria, do nosso Governo à nossa cidade. Mas sim, há muita revolta na noite – a noite é selvagem, tanto na floresta como na cidade, tanto no mar como no espaço interestelar. É a revolta do relâmpago, do vulcão e da terra a explodir, também, que aliás vamos querer continuar a explorar”.
Está lançado o desafio para mergulhar, com Circolando, nos subterrâneos da noite à espera dos clarões mais incandescentes que rasgam o regresso à alvorada. O mergulho na “Noite” está agendado para esta quinta-feira, dia 24 de março, pelas 21h30 no palco do Teatro Académico Gil Vicente (TAGV), em Coimbra, e no sábado, dia 26 de março, pelas 22h00, no Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor (CCVF), em Guimarães.

© The Holydrug Couple
Tempor para acrescentar que os chilenos The Holydrug Couple apresentam o seu novo álbum no Café Concerto do CCVF, dia 25 de março, sexta-feira, a partir da meia-noite. Na sua sonoridade trazem os ambientes que são alusões ao universo onírico das bandas sonoras do cinema francês das décadas de 1970 e 1980, com uma particular inspiração em Serge Gainsbourg. Tudo espelhado no mais recente trabalho sob o nome “Moonlust”. Além das influências das bandas sonoras francesas e de Serge Gainsbourg em particular, há também inspiração nas baladas soul de Aretha Franklin, na synthpop sul-americana dos anos 1980 e dos franceses Air.
A tomar nota de tudo. A ir, nesta Páscoa. •
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© Fotografia de destaque: José Caldeira.
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