à prova de fogo e de bala: exposição de foto-pintura de Andrea Inocêncio
Super-Heroína #10
Inaugurou no dia 12 de Março, permanecendo até ao dia 16 do mês de Abril na Casa Municipal da Cultura de Coimbra, concretamente na Galeria Pinho Dinis; e tem a chancela da Mercearia de Arte, projecto liderado por Pedro Beja Alves.
A acompanhar a exposição podem ler-se, no desdobrável, as mesmas palavras com que Andrea enquadra este projecto no seu sítio de internet www.andreainocencio.com , e que aqui reproduzimos: “Tendo em conta que as Mulheres são protagonistas dos processos de socialização e de integração cultural através da educação das crianças, penso, não só, na figura da mulher como mãe-educadora e de suporte familiar, mas também como a sua imagem se tornou poderosa no âmbito religioso, erótico e publicitário. À prova de fogo e de bala foca a figura da mulher como construção sócio-cultural complexa que permite pensar o lugar que ocupam as imagens da mulher na construção de identidades, no intercâmbio e produção cultural. Procura-se assim construir imagens baseadas nas personagens de banda desenhada – as super-heroínas – recriando-as a partir de uma visão e vivência feminina.” É este o mote de à prova de fogo e de bala.
Super-Heroína #1
A primeira parte do projecto decorreu nas ilhas de São Miguel e Terceira, entre Setembro e Novembro de 2008; concretamente o trabalho que desenvolveu com mulheres imigrantes, no caso de São Miguel, e, na Ilha Terceira, com a Associação das Mulheres de Pescadores e Armadores. No geral, estabeleceu uma parceria com a UMAR (União Mulheres Alternativa e Resposta) – Açores, contando igualmente com o apoio à criação da DRAC – Direcção Regional da Cultura dos Açores. No momento expositivo em que por ora temos oportunidade de nos determos, são apresentados dois vídeos documentais relativos ao Processo de Trabalho: o que se atém à pesquisa e espessamento das personagens, bem como às sessões fotográficas; aquele que se reporta aos exercícios de confiança e relaxamento que enformaram o workshop desenvolvido com as 15 mulheres. É apresentado igualmente o Diário Gráfico da Artista, que reflecte o percurso de reflexão e a concretização, cobrindo um tempo que vai de 2006 a 2009. Enfim, 14 Super-heroínas, resultado do seu trabalho plástico específico, numa impressão toner PVAc e tinta acrílica s/tela de algodão não preparada. Falta uma super-heroína; na realidade, foi adquirida pelo Museu de Angra do Heroísmo, onde permanece.
Super-Heroína #14
Catorze mulheres investidas dos super-poderes que consideram melhor espelhar a sua posição no mundo, à prova de fogo e de bala, num fôlego, devolve a transfiguração de pessoas. Interessa fixar, parece-nos, todo o trabalho preparatório que esteve na base das obras propriamente ditas. E se estas revelam um ofício pictórico exímio, aquele introduz-nos nos meandros de um possível lugar no mundo para a arte; com efeito, se a obra deve sintetizar uma exemplar declaração, já o lastro da criação oferece deleite para interrogações. Sabemos existirem artistas que laboram na solitude do atelier, num ensimesmamento exigido pela alquímica relação com uma polpa existencial complexa; outras há a convocar energias colectivas. É este o caso.
Durante três meses, Andrea Inocêncio interpelou mulheres que, habitualmente, não desenvolvem com a arte uma relação directa, desafiando-as a vasculharem a sua arca simbólica. Daqui resultaram personas diversas, numa amálgama que remete cada figura final para um encantamento específico. Desde anjos, brancos e pretos, até cavalinhos de brincar, passando por bonecas e soninhos refrescantes, Dianas contemporâneas ou Vénus minimalistas, joaninhas aladas e balões brincalhões; tudo é permitido no mundo fantástico dos super-poderes, exemplarmente fotografados pela artista, que depois os fixaria em tela. Um pormenor: as linhas caprichosas que envolvem os corpos destas mulheres. Trata-se de um recurso utilizado pela Andrea em várias circunstâncias do seu percurso criativo, presente tanto no trabalho fotográfico, como no da performance. Com efeito, tratar-se-á de uma alusão a formas de aperreamento, várias, contenção gestual óbvia a que se segue o repto de delas os corpos se libertarem; no entanto, é curioso observar que tal motivo se tem vindo a esbater nas suas obras mais recentes.
Para visitar em Coimbra, Rua Pedro Monteiro, de segunda a sexta-feira entre as 10h00 e as 19h30, e aos sábados entre as 11h00 e as 13h00, bem como entre as 14h00 e as 19h00. Até dia 16 de Abril, repetimos!
+ Andrea Inocêncio
+ Mercearia de Arte
© Fotografia: Andrea Inocêncio
Foto de entrada: Super-Heroína #5
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