De 02 a 11 de junho decorrem, em Guimarães, os já míticos (e imperdíveis) Festivais Gil Vicente, no Centro Cultural Vila Flor (CCVF).
Ao longo de duas semanas, os palcos do Grande Auditório do CCVF e da Black Box da Plataforma das Artes e da Criatividade acolhem um total de seis peças que representam o que de melhor se vai fazendo nas artes do teatro. O festival tem na sua base o teatro contemporâneo, com uma componente estética e dramatúrgica que desbrava novos caminhos e interpretações de textos clássicos, mas também na aposta em autores atuais. Além do cartaz principal decorrem, como habitual, várias atividades paralelas com uma componente mais formativa.
© “Ricardo III”
“As artes sempre se revelaram fundamentais na progressiva tecitura civilizacional urdida pelo homem. E mais do que qualquer outro motor de desenvolvimento social ou cultural, tem sido através das artes e do permanente questionamento de matérias primordiais que o mundo vai avançando. Porque, na verdade, este só se transforma para melhor quando o pensamento engrandece. E é no palco que essa grandiosidade produzida pelas maiores mentes da história humana melhor se representa“. Nem mais, nem menos.
A cortina levantar-se-á para que os Festivais Gil Vicente conduzam o público através de um programa esgalhado com minúcia. Serão apresentadas quatro peças para grande palco, com um grande elenco e com textos de autores de referência na dramaturgia mundial (Shakespeare, Molière, Simon Stephens e Tchekhov – escusadas são as apresentações), bem como dois objetos artísticos que desafiam convenções, tal como desejamos que as novas dramaturgias sejam capazes de o fazer.
© “Terminal de Aeroporto” por Inês d’Orey
O festival abre no dia 02 de junho, pelas 21h30, no Grande Auditório do CCVF, com o inigualável Shakespeare. Passaram 400 anos do seu desaparecimento, mas a sua obra é mais essencial que nunca, incontornável. Tónan Quito estará por detrás do encenar de “Ricardo III”, com um elenco que atravessa gerações e que traz à cena uma trama muito familiar que não deixou ninguém indiferente após uma longa carreira no TNDMII. Um momento glorioso de abertura do festival.
Os Festivais prosseguem no dia seguinte, à mesma hora, na Black Box da Plataforma das Artes, com uma peça que é um desafio às convenções: “Ciclo Novas Bacantes”. João Garcia Miguel concebeu um objeto teatral a partir de “As Bacantes”, de Eurípides, e construiu-o em quatro partes. A forma e a sua sequência não é totalmente óbvia, “propondo um olhar (possivelmente) ritualista sobre uma dita hora em que nos encontramos em território desconhecido. A busca de um modelo de abordagem com várias vias secundárias, vários meios caminhos, que contenham os fins e recomeços“.
© “O Misantropo” por Rui Oliveira
No dia 04 de junho, às 21h30, o teatro retorna ao Grande Auditório para uma peça que parte de Molière, “O Misantropo”. Nuno Cardoso transporta a audiência para um jogo de contrastes e incidências que assentam ora na força imparável do texto, ora na eventual desmontagem da negrura que este possa carregar, ao criar um contexto de festa onde o hedonismo se instala e o espetador jamais lhe escapa.
Na semana no Grande Auditório do CCVF, no dia 09, às 21h30, uma encenação em dose dupla de Nuno M Cardoso: “Águas Profundas + Terminal de Aeroporto”, díptico de peças do dramaturgo britânico Simon Stephens, situadas nas imediações de um aeroporto. A primeira parte é estruturada em três cenas “protagonizadas por um par de atores de grande classe, em cada uma delas. A segunda é um monólogo que trata da mesma matéria da peça anterior. Fala-se de amor e perda. Desolação e condição humana“.
No dia seguinte, uma peça que reflete a importância da memória. A Black Box acolhe duas sessões do “Museu da Existência”, da Associação Amarelo Silvestre, a primeira às 18h30 e a segunda às 21h30. “Uma exploração dos afetos e da relação que mantemos com objetos que simbolizam para nós a necessidade de ligação com significado. Uma peça delicada e de proximidade num tempo onde tudo parece deslocar-se com sentidos difusos“.
A encerrar com chave de ouro o festival, no dia 11 de junho, às 21h30, o Grande Auditório acolhe o regresso dos aclamados belgas da tg STAN. A companhia traz a Guimarães “The Cherry Orchard”, a última peça escrita por Tchekhov. Um clássico incontornável em versão internacional por um conjunto de atores que tem afirmado a sua importância na história do teatro contemporâneo.
© “The Cherry Orchard” por Koen Broos
Para além do cartaz principal, o evento conta com uma série de atividades paralelas que completam os Festivais Gil Vicente com uma componente mais formativa. De 01 a 08 de junho irá decorrer um Workshop de Dramaturgia com a Lark Foundation. No dia 03, após a peça “Ciclo Novas Bacantes”, está agendada uma conversa com João Garcia Miguel, onde o encenador explicará o processo de criação do espetáculo. O mesmo acontecerá no dia 10, após a sessão da noite do “Museu da Existência”, onde Rafaela Santos e Fernando Giestas irão falar com o público sobre a concretização deste projeto.
No dia 08, às 22h00, no Círculo de Arte e Recreio, é promovido o debate “Numa relação com Shakespeare”, a propósito dos 400 anos sobre a morte do dramaturgo que, este ano, está representado nos festivais com a peça “Ricardo III”, encenada por Tónan Quito.
Rume a Guimarães, em junho e deixe-se levar pela arte de representar, no CCVF. •
+ CCVF
© Fotografia de destaque: “Águas Profundas por Inês d’Orey.
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