“Dollar Sign”, uma pintura datada do ano de 1981 e da autoria de Andy Warhol, portanto, traz-nos hoje a medida de um Mundo que não podemos querer, que não podemos consentir e que não podemos desejar.
Claro que o dinheiro é necessário e se para algumas pessoas ele aparece sempre, para outras isso não se verifica, pois, para além de ser escasso ou tantas vezes raro, também outras vezes se afigura inexistente. Se à sua aparição imputam a sorte ou o trabalho, ou, a sorte que o muito trabalho proporciona, parece, todavia, que quem nasce em meios de pobreza ancestral muito dificilmente encontra outros meios e caminhos para alterar uma condição congénita. Aliás, segundo estudos já encetados prova-se que as famílias mais ricas de Itália na actualidade, por exemplo, são exactamente as que provêm do recuado Renascimento, ao que se contam gordos seis séculos. 600 anos de acumulação de capital, tanto em termos de dinheiro, como aquele a que Pierre Bourdieu chamou de simbólico, não é de menosprezar. Portanto, o self made man até pode encantar-nos como a cenoura que guia o burro, mas será sempre um 007 do old money, ou seja, literalmente um espião a fazer avarias nas casas antigas.
Entre a pobreza ancestral e este old money, extremos que cada vez mais parecem querer contrair as sociedades em que vivemos, pois, as classes médias têm sido arremessadas para os limbos do endividamento, da precariedade laboral, da incerteza existencial, aparecem-nos uma miríade de profissões remuneradas, claro, mas cujo objectivo nunca é, ou deveria ter sido, ganhar dinheiro. A expressão “ganhar a vida” era mais certeira para a condição do trabalhador já que, assim como tinha subjacente a gratificação monetária, também nela ressoava uma posição frente à própria existência do que é ser humano. Assim, podemos e devemos fazer o périplo pelas profissões, que, sem dúvida tendo subjacente um retorno de dinheiro, não são para “ganhar dinheiro”. Repare-se que apenas o capitalismo afirmou esta ideia de lucro excedente semelhante a uma lâmpada de Aladino, com o que efectivamente inventou os tapetes voadores, apenas comparável, tal ideia, à “mão invisível” de Adam Smith. E o que é facto é que se Adam Smith imputou essa mão ao mercado, mas que de invisível só teria três dedos, pois os outros dois toda a gente sabia a quem pertenciam – aos “patrões”; paulatinamente criou-se uma outra invisibilidade, a do rosto – o capitalismo sem Rosto, ou seja, a sociedade manietada por entidades desconhecidas, com o que o trabalhador ficou sem interlocutor para negociar.
No entanto, agora, as “mãos” estão todas à vista – só não as vê quem não quer, e a identidade dos perpetradores também vem revelada – apenas não a regista quem tapar os seus ouvidos. Portanto, parece-me muito importante nestes tempos difíceis e que se complicarão ainda mais se os homens não forem imediatamente capazes de sensatez e de um rasgo transcendente, e incomum, perceber que as profissões: curam-nos, ensinam-nos, dão-nos de comer, acalmam-nos, transportam-nos, agasalham-nos, etc., etc., etc. Andy Warhol errou com “Dollar Sign” e é nosso dever, a esta distância, não perpetuar o erro avocando uma explicação lógico-sistemática que o caucione, por um lado, e, por outro, exercitar a teoria na imanência infinita do amor. E o que significa exercitar a teoria na imanência infinita do amor? Significa insistir no valor incomensurável das trocas humanas, sempre.