Jezzus, os produtores e os produtos nacionais

Diogo e Tiago Jesus são fãs de pizzas e gostam de pôr a mão na massa. Foi assim que nasceu a Jezzus, do Grupo Alfredo Jesus, fundado há mais de três décadas pelo empreendedor Alfredo Paulo de Jesus e pai dos dois irmãos. Trata-se de uma pizzaria, onde a confeção artesanal tem palco garantido em dois espaços. O primeira está aberto desde 2023, no bairro dos Anjos, em Lisboa; o segundo estreou-se no início deste ano, a par com padaria e pastelaria de autor, e está localizado na rua de Santa Marta, a dois passos da avenida da Liberdade. 

Ambas as pizzarias Jezzus mantém não só o espírito kitsch, marcado pelo rosa choque dos toldos, mas também, e acima de tudo, a aposta no produto nacional. É o caso “das farinhas portuguesas de moleiros da zona oeste”, afirma Tiago Jesus, enaltecendo o trabalho que o moleiro Paulino Horta tem vindo a fazer sobre esta temática, em Alenquer. O coproprietário da Jezzus salienta ainda a mais-valia da fermentação natural nas pizzas e no pão, “esse valor que queremos entregar ao cliente” e enaltece a ação contínua de pequenos produtores do nosso país.

Eis o pretexto para um almoço campestre descontraído na Quinta de Camarate, a célebre propriedade vitivinícola situada em São Simão, Azeitão, no concelho de Setúbal, e pertencente a Domingos Soares Franco, vice-presidente da centenária produtora de vinhos José Maria da Fonseca. No entanto, o motivo desta refeição neste lugar não foi o vinho, apesar deste ter feito companhia neste encontro entre Diogo e Tiago Jesus e pequenos produtores. Foi antes a Ortodoxo, projeto de queijos manufaturados de José Abreu Lima e a Maria Arriaga e Cunha, ou não fossem os queijos um dos elementos principais de uma pizza.

Vacas leiteiras de pastagem natural, leite cru e trabalho artesanal são os três pilares em que assenta a Ortodoxo, onde foi feito o primeiro queijo azul do país e chama-se Azul da Arrábida. A apresentação cabe a José Abreu Lima, que noticia a boa nova: a existência de 44 vacas de raça Jersey, em pastagem extensiva em Vila Franca de Xira, na lezíria do Tejo. “As vacas vieram de França e com uma genética altamente apurada (…) Vamos começar a ter leite em julho”.

Segue-se a apresentação dos oito tipos de queijo produzidos na Cave de Queijos. Na lista das novidades cabem o ricota, de pasta mole e com baixo teor de gordura feito a partir do soro de leite de vaca, um produto “altamente nutritivo e feito a partir do soro do leite de vaca”, segundo o nosso anfitrião; e o futuro “queijo de pasta dura, com cristais” e cura de 12 meses. O “Veludo” é o nome do aveludado queijo de cabra fresco, de 160 gramas, e do curado, com 130 gramas. Os dois são os únicos feitos a partir de leite pasteurizado. O último é do tipo chèvre. Há ainda o Coração de Burrata conhecido, além fronteiras, como Stracciatella. “Passa por cinco ou seis pessoas” durante o processo manual, devido ao tempo que lhe é dedicado. Quando desfiado à mão, dá origem aos filamentos que dão origem ao queijo mozarela, que, por sua vez, conta com cerca de 8h00 de trabalho. 

De volta aos queijos de cura, há o Serra da Arrábida, com um mês de cura, e o Grande do Viso, que tem o Gruyère como referência. São necessários 45 minutos a mexer, a cura dura, no mínimo, dois meses, e a casca é lavada com vinho tinto. Acresce a manteiga feita a partir de leite de vaca. Em breve, terão o quádruplo da manteiga, graças às vacas da raça Jersey. Tudo está à venda na nova loja instalada na Cave de Queijos Ortodoxo, localizada na Quinta de Camarate. Quanto à Jezzus, ficam as seguintes sugestões no âmbito deste produto: rotolino de queijo azul, a burratabela ou as pizzas Bulhão Pato, muitos queijos ou nossa senhora burrata, entre muitas outras.

Porque o verão rima com churrasco, nada melhor que experimentar a nova pizza chimichurrasco. Além da massa, feita com farinhas de Paulino Horta e fermento natural, água à temperatura ideal, sal e “tempo”, palavra acrescentada por Diogo Jesus, é dada primazia à salsicha de porco Malhado, raça autóctone de Alcobaça, feita no Talho das Manas. Localizado em A dos Cunhados, no concelho de Torres Vedras, tem num quarteto de irmãs a continuação de um negócio de família. 

As manas são a Ana, a Margarida, a Maria Inês e a Maria João. Na ordem dos trabalhos constam as raças autóctones, como o porco Bísaro, o porco Malhado de Alcobaça ou o porco alentejano, e as peças inteiras. Objetivo? Fomentar o produto nacional e orgânico, e combater o desperdício. Os enchidos artesanais e isentos de gluten e de aditivos sintéticos são disso exemplo, práticas que levaram à atribuição da certificação pela Associação Portuguesa de Celíacos.

Sim! Trata-se da Nãm, a start up fundada por Natan Jacquemin, o jovem belga que começou a transformar as borras de café em cogumelos no Beato, freguesia situada na zona oeste de Lisboa, em plena pandemia. Melhor ainda, obteve a simbiose perfeita a partir do desperdício das máquinas de vending pertencentes à Delta Cafés, a borra. “Depois, misturamos palha e micélio, a semente do cogumelo, da qual nascem estes cogumelos”, explica Jorge Cruz, comercial da Delta Cafés ligada à Ñam. 

Famões, no concelho de Odivelas, é agora o epicentro da Nãm. Esta passagem tem a ver com a logística, por causa da logística, ou seja, “o vending está em Famões e a borra do nosso café é recolhida através do vending”, cujas máquinas, que estão fechadas, dispõem de um contentor próprio, com sacos, nos quais caem as borras. Deste modo, “não ficam contaminadas”, o que permite a produção de cogumelos sãos em oito contentores. Em breve, serão 21. A Nãm produz três espécies de cogumelos, das quais Tiago e Diogo Jesus optam pelo pleurotos e pelo shitake, sendo este último o selecionado para a pizza funchi mio.

A SEL – Salsicharia Estremocense é uma empresa familiar localizada em Estremoz, no distrito de Évora, e centrada na produção de “produtos tradicionais alentejanos sem adição de proteínas lácteas, soja e açúcares”, tal como se lê no site. A fundação desta casa remonta a 1984 e tem, na sua génese, a visão de Francisco Arvana. Hoje, o negócio familiar está nas mãos dos filhos, Sofia e Mário Arvana. 

“Somos muito fiéis aos porco preto de raça alentejana”, afirma Vasco Pardal, responsável pela equipa comercial da SEL, referindo-se aos animais criados no campo. Com o propósito de controlar a qualidade dos produtos – essencialmente, enchidos e charcutaria –, deteve, em tempos, uma percentagem do Matadouro Regional do Alto Alentejo, localizado em Sousel, no distrito de Portalegre. Com a passagem do tempo, em 2021, a família Arvana decide vender as cotas do matadouro, no sentido de obter investimento para construir uma linha de abate junto à unidade de produção, em Estremoz.

Na Jezzus, os produtos da SEL são os eleitos da pasta paccheri carbonara ou das pizzas holy guanciale e presunto 100% alentejano.

O melhor é ir à pizzaria, que também é padaria e pastelaria, onde as pizzas são de massa napolitana, ao gosto de Tiago e Diogo Jesus, que tiveram alguma dificuldade para encontrar os pizzaiolos ideias, como a chef Francisca Farinha. 

Bom apetite!

+ Jezzus
© Fotografia: João Pedro Rato

Legenda da foto de entrada: Hugo Mendes e Vasco Pardal, da SEL, Diogo Jesus, da Jezzus, Margarida e Ricardo, do Talho das Manas, Maria Arriaga e Cunha, da Ortodoxo, Jorge Cruz, em representação da Ñam (primeira fila), Tiago Jesus, da Jezzus, Ana, Inês e Maria João, do Talho das Manas, e José Abreu Lima, da Ortodoxo

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