Herdade da Cortesia / Um hino à natureza

A noite assume o rasto da escuridão num piscar de olhos. No meio do silêncio acolhedor, os vultos da paisagem deixam adivinhar os rabiscos da natureza e as curvas de um edifício enraizado num cenário cortês. Num lugar sem hora marcada para tudo e para nada, mesmo ao lado do Maranhão, no alto Alentejo. A Herdade da Cortesia Hotel. 

A limonada fresca é um excelente e deleitoso cartão de boas vindas. Para não falar do amplo lobby, decorado a preceito para uma estada descontraída. Mas é preciso deixar a bagagem no quarto. A luz ténue descreve num canto, ao fundo, uma oliveira num espaço decorado com tons terra, numa alusão à terra que abraça a Herdade da Cortesia.
Um projeto de arquitetura contemporânea e arrojada, dominada pelas linhas curvas que acompanham os quartos distribuídos por três alas, em piso térreo, para desfrutar a envolvência paisagística agora adormecida ao luar. O jantar é servido ao serão no 180, sem a batuta dos ponteiros do relógio. Propósito instaurado pelos dois dos mentores do hotel, Luís Ahrens Teixeira e Pedro Alte da Veiga – o arquiteto que, em parceria com Klauss Gruner, desenvolveu a arquitetura do edifício. Concordamos em definitivo! Afinal, o Alentejo inspira a serenidade tantas vezes aclamada… Voltemos ao repasto. De comer e chorar por mais! Os aromas da região despertam os sentidos em cada garfada, que apregoa no prato, decorado com a perícia de um mestre, entre sabores prazerosos que consolam os sentidos e o espírito na companhia de um vinho. E, apesar da noite ir longa, a conversa acompanha a sobremesa.

A manhã fez-se para acordar cedo. Apetece preguiçar nas longas cadeiras dispostas no alpendre do quarto, contemplar o jardim que abre caminho para a piscina… mas o sol lança o desafio para um passeio matinal pela imensa herdade que não parece ter fim à vista. Além disso, a água está fria e nem os pés lá deixamos por uns breves instantes que sejam nestes dias entregues ao ócio. Depois de um faustoso pequeno almoço, para degustar a qualquer hora do dia, e com uma vista deslumbrante sobre o jardim e a barragem do Maranhão através das gigantescas vidraças que compõem o restaurante, o caminho é traçado em direção ao picadeiro.

As boas vindas estão incumbidas a Filadélfia, a égua mais nova do grupo. Mais à frente, a aguardar a visita, está Hugo, o responsável pelos cavalos que, sem invenções nem segredos, apresenta o Rouxinol. É dado o início para a aula de baptismo à equitação, acompanhada por uma animada conversa com término marcado à beira de Earl’s Love, Anita, Nobre e Justo. Os quatro cavalos que completam o quadro dos equídeos. Na água entramos, isso sim, dentro de um barco, para um passeio pelo Maranhão, que banha a terra firme da Herdade da Cortesia. Sob um céu azul aquecido pelo sol, rodeado por uma paisagem tranquila e aclamada pela natureza, o som do motor embala… de repente, para. O silêncio recai sobre os nossos corpos entorpecidos por tamanha beleza de um cenário bucólico e, em simultâneo, deslumbrante…
A tarde começa com um inesquecível almoço na Tasca do Montinho, em Alcorrego, Avis. O menu abarca as célebres iguarias alentejanas, um regalo para a vista e um deleite para a alma. Senhor Fava, o cardápio foi aprovado por unanimidade! Com os olhos postos em Avis, a pequena vila adormecida pelo tempo com morada fixa logo ali ao lado.

Após um longo passeio pelas ruas e as visitas aos velhos edifícios outrora marcantes na história da vila, é chegada a hora do regresso à Herdade da Cortesia, até porque a noite promete! Subimos ao telhado do hotel. Vemos o pôr do sol e contemplamos a magnífica paisagem circundante que nos leva para além da barragem do Maranhão, para além de Avis.

Lá dentro, espera-nos uma lareira acessa no recanto mais belo do hotel e um cardápio regional maravilhoso.

O acordar lento… mas a vontade de andar de charrete sai triunfante numa manhã fria embalada pelo sol, seguido de uma longa volta de bicicleta ou de remo no Maranhão… ou, porque não, de uma volta pela herdade ou da entrega à leitura. O início da tarde parece dar corda aos ponteiros do relógio. Está na hora da despedida, mesmo assim sem pressa, pois nem mesmo o late check out tem hora marcada. Para trás, ficam dois dias inesquecíveis, passados em boa companhia. A repetir! •

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© Fotografia: João Pedro Rato