Conquista do Corpo / Gira Dança

Gira: ato de girar, de rotação, em torno do próprio corpo ou de outro corpo; ronda curva, percorrer em volta de algo ou alguém. Dança: arte de dançar movendo o corpo de modo cadenciado, ao som de uma voz, de um batuque, no compasso da música ou, num ato mais ousado, na quase ausência de som. O único som é a respiração dos corpos que, em movimento incessante, respiram mais ofegantes, é o ritmo marcado pelos corpos que tocam no chão.

Gira Dança companhia de dança contemporânea de Natal – Rio Grande do Norte, Brasil – que tem no corpo diferenciado o seu brilho, o seu maior encantamento.

Gira Dança: ato de dançar, movendo os corpos, numa ronda curva à volta mundo. Gira Dança: “o momento sagrado onde todos são iguais” (Anderson Leão, Diretor Artístico). A diferença é vista como ferramenta de trabalho, como desafio de ir mais além na inclusão social através dança contemporânea e das possibilidades de expressão corporal que esta oferece. Criada em 2005 por Anderson Leão e Roberto Morais, esta companhia corre palcos no seu Brasil com o claro objetivo de romper com preconceitos, com limites que não são reais e provar que todos são capazes do movimento ritmado.

A Portugal, Coimbra, trouxeram o bailado “Elefantes Proibidos”, uma metáfora dançada que tem como mensagem, nos entre-passos desenhados, o querer proibir aquele olhar crítico que ressalta as limitações, que não acha belo porque se é diferente, que sem procurar conhecer duvida da capacidade de um corpo responder à adversidade. Fala-se do olhar como um caminho preenchido de significados.
O olhar que, à chegada ao camarim, ganha respeito sem par por gentes venturosas que sem conhecerem dão “oi” doce, que recebem de sorriso rasgado, que sem demora falam de si, da sua história e desta sua paixão: o dançar despido de preconceitos, despojado de medos. Após o primeiro olhar hesita-se, por apenas 1⁄4 de segundo, se se deve dizer quem está privado do andar, do ver, do ser mais alto… Não. Hesita-se por apenas uma fração de milionésimo de segundo em associar a diferenciação à pessoa. No camarim, e no palco, todos andam, todos vêem, todos são gigantes, todos são todos, porque todos têm um elemento que não precisa de inclusão, que não é diferenciado: respeito pelo ser contracorrente, contradança. Quem não anda, quem não vê, quem não é alto, é quem nada percebe dos sentidos e do belo, é que nada entende de desafio e de paixão, é quem não sabe dançar com alguém que tem na diferença uma beleza…

Todos dançam de alma cheia, pois o dançar “torna mais simples e emotivo o transmitir sentimentos” (Marconi, bailarino) e cada expressão corporal “é de igual para igual, como um ritual” (Rozeane, bailarina). Enchem o palco com movimentos comandados por vozes, por sons abstratos, por música batida, dançam sem limites ou limitações, dentro do que o seu corpo lhes permite explorar. Dançam porque a dança é a “música da alma, é liberdade e melodia do corpo, é o sentimento mais oculto e é diferentes sentimentos” (Joselma, bailarina). E por tudo isto, e tanto mais, é a conquista do corpo no nosso olhar… Gira Dança o ato de dançar. •

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© Fotografia: Ricardo Junqueira