Herdade do Amarelo / De olhos postos na serra de São Domingos

A viagem termina numa tarde soalheira. Longe do desassossego. Num lugar onde a natureza domina o quadro cénico com os traços toscos, mas generosos, de uma paisagem onírica em pleno Alentejo. O nome: Herdade do Amarelo. Da casa branca debruada a amarelo torrado, a respeitar a traça típica da região, sobressai a inspiração marroquina no interior, com vista para a serra de São Domingos.

A decoração, a luminária e as peças de mobiliário de cada dependência reportam para as boas recordações das muitas viagens à medina de Marraquexe, num tom harmonioso.

Assim como as cores delicadas das paredes interiores, em taipa, pedra ou xisto, por respeito à construção original da região, datada de 1897, num apelo subtil ao romantismo de cada quarto e, em simultâneo, à serenidade demarcada pela harmonia dos objetos, numa composição elegante. Assim como cada terraço privado para preguiçar – na chaise longue ou no jacuzzi –, de olhos postos na imponente serra de são Domingos, de onde, todas as manhãs, nos chega o raiar do sol num manifesto galenteio de boas vindas. Pequenos detalhes que incitam o desejo de ficar por lá para sempre… e que, ao mesmo tempo, prolongam a tão amável conversa com o mentor da Herdade do Amarelo Natura & Spa, Fernando Antunes, da Beira Alta, rendido aos encantos do Baixo Alentejo, que trocou, há mais de uma década, Oliveira de Frades por São Luís, no concelho de Odemira. Com uma paisagem repleta de oliveiras e pinheiros até ao infinito, recortada, no fundo do vale, pelo rio Mira.

Dizem que as conversas são como as cerejas, mas os ponteiros do relógio, apesar da imparciais em terras além Tejo, não dão tréguas por estes dias, motivo de sobra – mesmo que razões não houvesse – para nos deleitarmos nas com as massagens, que são marcadas apenas mediante solicitação prévia. O óleo, 100 por cento caseiro, à base de gengibre, menta, cravinho e cânfora, é concebido especialmente para combater o impiedoso stress no Spa ao ar livre. Aberto à natureza. Apetece pôr os pés de molho na água, tão presente neste refúgio para lá do desassossego, que conflui num jacuzzi suspenso. Relaxamos… enquanto um petisco é preparado a preceito em forno a lenha. Afinal, a gastronomia é uma das experiências mais irresistíveis da Herdade do Amarelo.
À nossa espera estão vinhos da região do Dão servidos, ao fim da tarde, num tributo saudoso à Beira Alta, com a broa de sardinha e a broa de chouriço, e as ostras assadas na brasa a acompanhar as conversas soltas pautadas pela boa disposição.

Ao ar livre, com o pôr do sol como pano de fundo. Mimos que jamais cairão no esquecimento.

O apetite para o repasto da noite é deixado à prova. Na mesa da sala de jantar, servido a pedido, dominada pelo branco e pela subtileza do azul celeste, é servido o borrego cozinhado a preceito, sem esquecer o bom vinho. A conversa mantém o tom bem humorado, mesmo à hora da sobremesa, para a qual todos deixaram espaço. Sericaia, arroz-doce ou cheesecake? Qual dos três o melhor… A acompanhar: licor de bolota e jeropiga que nos fazem render o palato.

O sol irrompe pelo terraço do quarto logo pela manhã. Está tudo a postos para um mergulho na piscina de água salgada, mas…

… primeiro está o pequeno almoço repleto de irresistíveis iguarias, desde a fruta ao delicioso bolo que aguarda pelos mais gulosos. A piscina fica para outra altura, assim como o passeio de bicicleta ou a caminhada pelos percursos traçados na propriedade… No compasso de espera, a leitura de um livro há muito deixado de lado é o deleite para a mente, enquanto o corpo adormece estendido na chaise longue. A manhã já vai longe, ao que o almoço reserva sabores da terra e do mar, em boa companhia e amena cavaqueira, a escassos sete quilómetros da Herdade do Amarelo, na célebre Tasca do Celso , em Vila Nova de Milfontes. Recomendado! Assim como o passeio até à praia do Farol, tão oportuno após um repasto demorado. Do lado de lá do rio, com atividades náuticas agendadas para os meses do verão, está a praia das Furnas. A viagem prossegue para as praias do Almograve, excelente sugestão para a pequenada, e da Zambujeira do Mar. Do miradouro, que ostenta uma vista deslumbrante até à linha desenhada a preceito entre o mar e o céu, há uma vontade imensa de mergulhar na água translúcida que preguiça no areal. De regresso a são Luís, a mesa aguarda, de novo, a nossa chegada, com o de melhor se faz na região, em especial os queijos artesanais mediterrânicos concebidos por uma fotógrafa portuguesa e um radialista italiano, que trocaram a movida de Milão pela calma das terras do Alentejo. Mudanças que incitam o desejo de ficar. •

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© Fotografia: João Pedro Rato e Patrícia Serrado