Tem a doçura de uma menina inquieta, a frescura de uma adolescente e a experiência de uma velha senhora. O clássico embala-nos pelo conhecimento e o contemporâneo desperta-nos, provoca-nos. Madrid continua a confundir-nos nas suas muitas cores e a convidar-nos para este caldeirão. Nós entrámos…
1. Parque do Retiro
Chegar a Madrid – mesmo aqui ao lado – é ‘chegar’ à Europa. Os transportes funcionam, as ruas estão limpas, os museus, dos mais clássicos aos mais contemporâneos, enchem-se de pessoas, sem atropelos, sem ser necessário colocar lá dentro a tentação de algum artista plástico que faz furor. Em cada esquina, há uma loja que nos convida a entrar, um restaurante que parece único no seu estilo, há calles estreitas que desaguam em avenidas desafogadas, com marés de pessoas que vão e vêm.
Madrid é quente, confusa, cheia e viva. E quem aqui chega arrasta-se neste tumulto de vida que parece fazer tudo para nos lembrar que há muito tempo para não se perder.
Por isso, vamos andando: pela dominante Gran Vía, onde estão as maiores lojas e as marcas mais conhecidas. Numa ponta a Plaza de España, na outra, Alcalá, a maior avenida da cidade. Pelo meio, uma série de ruas que nos levam Madrid mais típica adentro. Pelos museus, onde bebemos cores, influências, histórias destes e de outros tempos. Pelo espírito madrileno, que nos convida a viver e a conviver. Por isso, colocamos o pé na rua e andamos, olhamos e experimentamos o que a cidade nos oferece.
Seguindo os passos
2. Malaseña (Creperie La Rue) / 3. Barrio de las Letras
4. Chueca (Mercado San Antón) / 5. Barrio de las Letras
Aventuramo-nos por Malaseña, um dos bairros que sai da Gran Vía. Recebem-nos lojas, restaurantes e bares mais alternativos. Sente-se uma boa onda, por isso, deambulamos por aqui; para cima, para baixo, vamos descobrindo cantos, muitos recantos, que queremos ver; portas que queremos abrir.
Entramos na Nest-Boutique (Plaza San Ildefonso, 3, tel. 915 231 061), uma loja que vende artesanato e onde nos perdemos nos pormenores. Porque o dia está frio, chuvoso, mais tarde, vamos até à Creperie La Rue (Espíritu Santo, 18, tel. 911 897 087) onde um gato preto nos acena a cauda. Bebemos um chocolate quente e ficamos por ali, naquele pequeno espaço, mas cheio de coisas para ver, porque este é também um ponto onde se vende algum artesanato.
Do outro lado da calle Fuencarral, está Chueca, um dos melhores bairros para passear e comer. E aqui fica um lugar no qual vale a pena passar horas a comprar e a comer. O Mercado San Antón (tel. 913 300 299) é um espaço de perdição para quem gosta de comer e de cozinhar. Distribuído por três andares, acaba em grande com o restaurante-terraço La Cocina de San Antón (tel. 913 300 294). Aqui o conceito é simples: “escolha os produtos do mercado e nós cozinhamo-los ao seu gosto”. E há, de facto, muito por onde escolher: carne, peixe, marisco, enchidos, vegetais e legumes e até uma secção de especiarias de A a Z, capaz de nos levar para todos os continentes, pelos cheiros, cores e sabores.
Difícil de encontrar lugar no La Cocina – convém reservar –, não há que desesperar. No segundo piso, pode saltar-se da cozinha grega para a italiana, das iguarias das Ilhas Canárias para a comida vegetariana. E, claro, para as inúmeras tapas espanholas. O ideal é encontrar um mesa e depois ir saltando pelos vários puestos. E, se em Roma sê romano, é preciso recordar que, em Espanha, se come muito tarde. Não se deve cair na tentação de ir mais tarde para encontrar tudo mais tranquilo. Ou se almoça cedo, até às 13h30, ou só se consegue sentar por volta das 16h30. Mas vale a pena: aqui, sente-se o verdadeiro espírito madrileño: comer, beber e falar muito.
E se na Chueca ganha o lado mais desinibido, no Barrio de las Letras ganha o trendy. Aqui, estão alguns dos novos restaurantes da cidade e alguns dos mais interessantes, como o recém-aberto Saporem (Ventura de la Vega, 5, tel. 914 204 474), onde saboreámos uma Ensalada de Quejo, a típica sopa de Córdoba, a Salmorejo, Contres a la Brasa con Tallarines e uma Ropa Vieja com Huevo Frito. Para beber, uma Sangría de Cava con Fresas. Vale a pena optar por ficar no pátio iluminado, localizado nas traseiras, e perder-se na ementa.
Aqui perto, fica o curioso El Apartamento (Calle Ventura de la Vega, 9, tel. 917 554 402), um espaço com cerca de 6 meses que, como o nome indica, recebe os seus clientes como se estivessem numa casa. Por isso, nos dizem: “Aqui, estamos em casa, por isso, será difícil sair para voltar para a nossa…”
Elevando os olhos
6. Caixa Forum
Madrid, cidade de comidas, bebidas, saídas e… arte. Muita arte. Esta pode surgir-nos na fachada de um hotel, como o lagarto feito de CDs, nas paredes do Vincci Soho Hotel, no Barrio de las Letras, ou num dos mais prestigiados museus de arte clássica do mundo, o Museu do Prado (Cale Ruiz de Alarcón, 23, a partir de 7€); na contemporaneidade do Reina Sofia (Calle Santa Isabel, 52, a partir de 4€); ou na modernidade da Caixa Forum (Paseo del Prado, 36, a partir de 3€), não esquecendo o Thyssen-Bornemisza (Paseo del Prado, 8, a partir de 6€).
Desde janeiro, que o Museu do Prado apresenta “Las Furias. De Tiziano a Ribera”, uma mostra sobre quatro personagens da mitologia clássica: Ticio, Sísifo, Ixión e Tántalo. A partir de março, há mais duas boas razões para se perder neste imenso museu: “Rubens. El Triunfo de la Eucaristía”, que se debruça sobre a série de seis desenhos que representam o triunfo da Eucaristia e todos os trabalhos que daí derivaram; e “La Biblioteca de El Greco”, inscrita na celebração da Fundação El Greco, pretende reconstruir as raízes teóricas e literárias da arte de Greco, a partir de 130 livros que estiveram em seu poder.
7. Museo Reina Sofia
Quem correr ao antigo hospital civil, transformado em museu, o Reina Sofia, terá a oportunidade de ver, até maio, “Amos Gitai”, uma exposição que revela lugares e personagens presentes na cinematografia e vida deste cineasta. E, claro, ter a oportunidade de conhecer melhor o trabalho de Dalí e (re)ver Guernica, a conhecida obra-prima de Picasso, que se encontra no segundo piso.
E sem sair do mesmo circuito, muito perto, temos o centro cultural Caixa Forum, onde é possível ver exposições, mas também subir ao último andar e saborear alguma iguaria, enquanto aprecia a vista sobre o jardim vertical, mesmo aqui ao lado. Este espaço é ainda um dos melhores centros de arte para levar crianças, uma vez que são muitas as atividades, e até as mostras, dirigidas ao público mais jovem. Assim, por exemplo, a partir de 21 de março, há bonecos e desenhos para ver na mostra “Pixar. 25 Años de Animación”, que vem diretamente do MoMA para Madrid. Mas há ainda “Le Corbusier. Un Atlas de Paisajes Modernos”, até 11 de maio, que inclui desenhos, maquetas e outros do arquiteto suíço; “Sebastião Salgado. Génesis”, até 4 de maio, um olhar do fotógrafo brasileiro sobre a origem do planeta que habitamos. Depois de sair, há que dar um salto, ali mesmo ao lado, ao Café Vertival, bem de frente para o jardim vertical.
Outro local a levar crianças, e bem perto do Reina Sofia é La Casa Encendida (Ronda de Valencia, 2), um espaço de solidariedade, cultura, e que revela preocupações educacionais e ambientais.
Podemos não parar?
8. Parque do Retiro / 9. Matadero, Puente del Invernadero
10. Plaza de Callao / 11. La Central
Sim, podemos, porque não queremos e porque não há tempo. Atravessamos a estrada e entramos no Parque do Retiro. Chove, o lugar está vazio, mas parece ficar ainda mais bonito com as suas cores desmaiadas de fim de outono e o céu carregado de cinzento escuro. De um lado para o outro, optamos por andar a pé, de metro ou de autocarro, e estes últimos, nos dias mais frios e chuvosos, podem revelar-se uma excelente forma de ver a cidade sem apanhar frio ou chuva.
Outros dos lugares a descobrir, que sai ligeiramente do circuito turístico, mas vale a pena, fica junto ao rio Manzanares. O Matadero é um local que acumula espaços de exposições, cinemateca, centro de design e um restaurante atípico, mas muito convidativo. Na La Cantina, pode-se optar por comer só entradas ou misturar entradas e um prato, porque é assim que os preços são combinados. Optamos por um Creme de Calabaza, uma dose de Cuscus e um Pollo com Salsa Yakitori. O ambiente é muito descontraído e a decoração combina materiais reciclados num espaço que nos remete para um cenário industrial.
Num dos centros turísticos por excelência, que combina a Gran Vía com a Plaza de Callao, descobrem-se muitos restaurantes – mais procurados para turistas –, e muitas lojas. Mas há uma que vale a pena visitar. É preciso impor algum controle ou corremos o risco de deixarmos lá a cabeça. La Central (Calle Postigo de San Martín, 8) é uma livraria que fica numa casa apalaçada de 1200 metros quadrados e alberga mais de 70 mil títulos, distribuídos por três andares. Há ainda um café-restaurante – El Bistró –, e um bar, além das muitas atividades culturais que esta livraria vai organizando ao longo do ano. À entrada: uma curiosidade: um top de leituras que é sugerido pelos clientes e que dá pelo nome de “los lectores recomiendan”.
Como os madrilenos…
12. Huerta Alcalá / 13. hotel Praktik Metropol
14. Juana La Loca / 15. hotel Praktik Metropol
…Saboreamos tardios desayunos, como aquele que experimentamos na Huerta Alcalá (Calle Alcalá, 21). Experimentamos, sem pressas, Pinchos de Queso de Cabra, de Tortilla e Salmon Ahumado, uma Degustacion de Croquetas e um cesto de pães, acompanhada de tomate, molho de tomate e manteiga. Para acompanhar, boosters de vegetais e fruta. Perfecto!
…E jantamos pela noite dentro, em restaurantes que enchem rapidamente, como o pintxo-bar Juana La Loca (Plaza Puerta de Moros, 4, tel. 913 640 525), na La Latina. Conselho a seguir? Perder a cabeça. Afinal, não é todos os dias que jantamos em Madrid. Crepe de Espinacas, Jamon de Pato, Sashimi de Pez Mantequilla, Carpaccio de Bonito, Croquetas de Seta y Trufas, Crujiente de Sardines e Mozzarella en Pan de Olivas.
…Mais tarde, recolhemos ao hotel Praktik Metropol (Montera, 47 (esquina da Gran Vía), tel. 915 212 935) e ficamos a amolecer na sala comum, junto à lareira, onde também se servem os pequenos-almoço. Depois, esgotados por aquele cansaço bom de termos gasto todas as horas do dia e da noite, subimos ao 9º andar, onde fica o nosso quarto, com vista sobre a Gran Vía. Lá fora, a cidade adormece aos poucos. •